
Casados há 16 anos, Lia Damian e Luiz Antônio Cornel não têm filhos e nem planejam ter. A decisão veio em 1999, quando o casal resolveu morar nos Estados Unidos. "A gente já não tinha vontade e, diante da situação de mudança, concordamos que filhos dificultariam os nossos planos lá", afirma Lia, 42 anos, professora de ensino fundamental, que voltou para o Brasil em 2008.
O casal diz que não tem dúvidas de que os filhos trazem alegria, mas também algumas limitações. "Se um amigo telefona e chama para um jantar ou uma festa a gente não pensa duas vezes e vai. Com filhos não seria tão fácil assim", diz Cornel, administrador de empresas, 49 anos.
Assim como o casal muitos curitibanos não têm intenção de ter filhos. Em oito anos, esse grupo cresceu 12%. Em 2000, eles representavam 23% da população de Curitiba, segundo a pesquisa da Gazeta, enquanto que em 2008, já correspondiam a 32%.
Para Samira Kauchakje, doutora em Ciências Sociais e professora do curso de Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) esse fenômeno mundial nos Estados Unidos e na Europa a porcentagem de pessoas sem filhos pode chegar a 30% retrata caraterísticas da sociedade moderna, como o afrouxamento dos laços familiares tradicionais e o afastamento dos valores religiosos. "As pessoas já não se sentem tão pressionadas para assumirem papéis na sociedade, como o de pai ou o de mãe, por exemplo. Elas estão mais livres para planejar e fazer escolhas", argumenta.
A terapeuta familiar e coordenadora da pós-graduação em Psicologia da Universidade Positivo, Marusa Helena Gonçalves, afirma que a dificuldade de educar as crianças na atualidade é um dos motivos que levam muitas mulheres a questionarem a vontade de engravidar. "As pessoas vêm considerando cada vez mais o empenho e a dedicação que deve haver para a criar um filho, como por exemplo, com quem ou onde deixá-los e os custos envolvidos", explica.
Mesmo que a intenção tenha diminuído, a média de 2,5 filhos por pessoa se mantém em Curitiba. "Esse número, um pouco menor que o das demais cidades do Brasil, pode ser explicado pela combinação 'distribuição de renda menos desigual e população mais instruída', que consegue planejar melhor o nascimento de uma criança", diz Robson Gonçalves, economista e professor do Fundação Getúlio Vargas (FGV).



