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Um verdadeiro sucesso de bilheteria, o filme Tropa de Elite trouxe à tona uma discussão sobre a realidade da segurança no país. Entre os temas está o medo que o brasileiro tem de quem deve ou deveria protegê-lo. É o que reflete a pesquisa da Gazeta do Povo. A confiança total nas polícias mostra-se muito baixa, com índices de 4% para a Polícia Militar, 6% para a Polícia Civil e 9% para a Federal.

Mas o que chama atenção mesmo é a questão do medo. Para 74%, "as pessoas, muitas vezes, têm mais medo da polícia do que dos bandidos". Ao mesmo tempo em que 29% acreditam ser certo "a polícia matar assaltantes e ladrões de propósito" ou 27% que acreditam ser correto "bater em um acusado para que ele confesse".

Quem explica essa visão do morador da Grande Curitiba é o professor Pedro Bodê, coordenador do Núcleo de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos da Universidade Federal do Paraná (UFPR). "Essa desconfiança e esse medo revelam a profundidade da violência estrutural em nossa sociedade", comenta. "As pessoas têm medo, mas aceitam, ao mesmo tempo, coisas inaceitáveis como bater e matar. Os valores violentos são compartilhados pela sociedade, mas na linha do 'desde que não façam comigo'. A polícia pode bater, mas não em mim. Isso não é só com a polícia. Todos aqueles considerados como vulneráveis são expostos à violência, como resultado de um problema estrutural da sociedade. São os adultos contra as crianças, os homens contra as mulheres, os mais jovens contra os mais idosos. É como se fosse um círculo vicioso."

Segundo Bodê, essa desconfiança na polícia é muito parecida em todo o país. Por isso mesmo, ou se muda a maneira de fazer segurança pública ou a violência só tende a aumentar. "É o caso do Bope do Rio de Janeiro", exemplifica. "Foi uma polícia criada para matar e assim acabar com o crime. Mas o que ela acabou promovendo foi o surgimento de criminosos muito mais violentos e uma população mais resistente às ações policiais."

Para o estudioso, a modernização das polícias – Militar, Civil e Federal – passa pela investigação, pelo uso da inteligência. "É preciso que a polícia se desmilitarize, mude sua característica. Mas como é que você muda isso se a própria sociedade aceita a violência?", questiona.

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