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Curitiba – Eleitor fiel do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o escritor Frei Betto não esconde seu descontentamento com o desempenho do petista nos últimos quatro anos. De passagem por Curitiba para participar da conferência "Uma outra democracia é possível", na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, o pensador reclama da política econômica federal e faz um balanço dos programas sociais do governo.

Gazeta do Povo – Qual foi o motivo da sua saída da coordenação do Programa Fome Zero?Frei Betto – Primeiro, por motivos pessoais. Em segundo lugar, porque eu discordo da política econômica do governo. Desde o início eu continuei achando a manutenção do superávit e o ajuste fiscal excessivamente rigorosos. Esperei que aquilo fosse mudar. Como vi que não ia mudar, decidi sair em maio de 2004 e o fiz efetivamente em dezembro do mesmo ano. No programa em geral, acho que o governo deu passos muito importantes, mas cometeu alguns equívocos. Um deles é que ainda não se encontrou a porta de saída do Bolsa-Família. É preciso chegar o momento em que as famílias independam do dinheiro público e passem a gerar a própria renda. Para isso, o governo tem de ter uma política de empregabilidade e fazer, sobretudo, a reforma agrária. E investir em saúde e educação, que tem de ser no mínimo 8% do PIB. O problema também é que o Bolsa-Família é infinitamente menor que o bolsa-fartura, na medida em que o Estado brasileiro existe para 20% da população que tem mais de 64% da riqueza nacional.

Por que Lula não mudou essa política econômica?Por medo da elite brasileira, de desestabilização do governo dele. Ele quis, na minha opinião, agradar aos dois lados. Evidentemente que os miseráveis brasileiros estavam tão abandonados pelo poder público que algo foi feito e resultou num grande coeficiente eleitoral. Mas espero que Lula cumpra neste mandato as promessas feitas em 2002.

Você acha que ele vai mudar a política econômica neste segundo mandato?A minha análise é que nós teremos agora um governo tão conservador ou mais que o primeiro, porque é refém do PMDB. É por isso que a pressão dos movimentos sociais é importante. Governo é como feijão, só funciona na panela de pressão. Então não há que esperar que o governo cumpra o que prometeu, mas sim pressionar, exigir.

Com ações como a invasão do Congresso, como aconteceu no ano passado com integrantes do MLST?Não, eu acho que isso é um exagero, não é por aí. Pressão você faz em várias etapas, primeiro dialogando com o governo. Não começa por ocupar terra ou fazer passeatas, começa com vias de entendimento. Agora, você chega à manifestação popular na hora que o governo ignora o diálogo, mas sem balbúrdia.

Qual é a principal reforma, na sua opinião, para o próximo mandato?A política, que acaba por abranger as demais. Quando terminou a Assembléia Constituinte, em 1988, a imprensa perguntou ao então senador Marco Maciel, ‘quem ganhou, a esquerda ou a direita?’ Ele deu uma resposta precisa, ‘nem um, nem outro, ganhou a sociedade organizada’. Na reforma política tem de ser isso tambem, nós temos de lutar por uma reforma política que vá fundo, que acabe com as distorções e a corrupção.

Como você analisa os casos de corrupção dentro do PT?Um pequeno grupo dentro do PT trocou um projeto de nação por um projeto de eleição. O PT tinha de ter apurado imediatamente essas denúncias, porque impunidade gera nova oportunidade, e aí assistimos ao caso do dossiê.

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