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Curitiba – Ao fim da semana política mais importante de sua vida, o deputado Osmar Serraglio (PMDB -PR), relator da CPI dos Correios, diz estar revoltado com as críticas que parlamentares do PT vêm fazendo ao relatório final da comissão. O documento foi aprovado por 17 votos a 4, em sessão tumultuada, na última quarta-feira.

"Eles estão batendo em coisas estúpidas e mentirosas. Quem mente desse jeito, eu não acredito mais", afirmou.

O desabafo do deputado foi feito ontem durante entrevista exclusiva à Gazeta do Povo. Serraglio disse também que o presidente Lula não pôde ser indiciado por não haver provas suficientes de sua omissão. "Eu provei com todas as letras: ele (Lula) sabia. A gente também tem prova que ele comunicou o ex-ministro Aldo Rebelo e o líder do PT Arlindo Chinaglia. Dali para frente a gente não sabe o o que ocorreu", diz Serraglio.

Quanto ao seu futuro político, o relator da CPI dos Correios diz que por enquanto é candidato a deputado federal, mas não descarta a hipótese de lançar candidatura a vice-governador na chapa do governador Roberto Requião.

Por que o nome de Lula foi retirado do relatório?Eu não posso responsabilizar ele [Lula] pelo fato de ele ser presidente. Isso se chama responsabilidade objetiva. Eu provei com todas as letras: ele sabia! A gente também tem prova que ele comunicou o ex-ministro Aldo Rebelo e o líder do PT Arlindo Chinaglia. Dali para frente a gente não sabe. Eu não vou responsabilizar um presidente da República na base da suposição. Se eu afirmo que ele é omisso, e ele aparece com várias providências que eu desconheço? E aí, como é que fica?

O senhor mesmo admite que tem informações de que existiria outros mensaleiros, mas a CPI não conseguiu provar, certo?Tem, tem. Você se convence que são mensaleiros. Para entrar na ala comercial do shopping em Brasília, onde está o Banco Rural, é preciso se identificar, até deixar identidade anotada e tudo. Nós pegamos essa lista de quem freqüentou o local em 2003 e 2004, logo no começo da CPI, mas não conseguimos avançar porque o presidente era o Severino, e ele nunca disponibilizou para nós quem eram os funcionários da Câmara. Agora, nós conseguimos, através do Rais [Relação Anual de Informações Sociais] e fizemos um cruzamento. Colocamos os dados da lista do shopping e o do Rais e os dias em que foram feitos saques em dinheiro no Banco Rural. Encontramos mais de 50 funcionários de gabinetes de deputados que foram ao edifício. Mas no meio pode ser que haja alguém que não está envolvido.

Essa história lembra um pouco a CPI do Banestado, que acabou não aprovando o relatório, mas as informações que surgiram de lá alimentaram muitos outros inquéritos. É o caso nosso. Nós estamos mandando esse relatório, em sigilo, para o Ministério Público, para eles continuarem.

Quais as consequências que o seu relatório trará?Quando chega na mão do promotor de justiça, o processo vira criminal. Especialmente aqueles que foram absolvidos no plenário, me dizem: ‘Fui absolvido, como é que você quer mandar meu nome?’. Eu sou advogado. Eu sei a diferença que existe entre um juízo político e o juízo criminal. A pessoa não foi cassada mas vai ter de responder criminalmente.

Todos os deputados que o senhor pediu o indiciamento deveriam ser cassados?Na minha visão, sim. Mas uma série de coisas aconteceram. O Nelson Jobim deu uma liminar a seis deputados do PT, numa situação que deu fôlego para eles se ajustarem. A decisão foi baseada numa lei que não se aplica ao caso. É rídicula. Essa história de caixa 2 que não é mensalão, isso apareceu dois meses e meio depois. Foi construído pela defesa. Por isso que eu falo, eu sei que é mensalão e está aqui, tudo provado. Eu falei: ‘vocês querem que eu defenda a tese de caixa 2? Então o Lula vem aqui’. Aí ele poderia vir, porque ele era o candidato e a lei diz que ele é o responsável, independente se sabia ou não. Mas se eu adoto isso, eu abondono a outra tese. E eu acredito na tese do mensalão.

O senhor está convicto de que o mensalão existiu? A gente tinha os valores (dos repasses para os deputados), todos quebrados, e nunca tínhamos reunido (cruzado os dados). Agora a gente sistematizou. Está lá, matematicamente. Semana tal, quinhentos, semana tal, quinhentos. Só que é tudo quebrado, quando reúne fulano, fulano e fulano, fecha 500 [mil reais], fulano, fulano e fulano, mais 500. Esse é o diagrama que o PT não quer que a gente mande. Vê se isso está dentro do relatório do PT.

Cada bloco de deputados recebia um valor x, é isso?Quinhetão [Quinhetos mil reais], por semana. Por isso que a gente falava que virou o "semanão". No PL, toda semana, caía 500, 500, 500, depois baixou para 300, 300, 300.

Agora os petistas dizem que querem abrir uma CPI da CPI, porque o senhor teria tirado o nome de pessoas do relatório.Eu só queria saber quem. Essas pessoas tem que dizer quem eu tirei.

Eles citam os nomes de João Leite Neto e Armando Ferreira da Cunha.Olha o relatório deles, para ver se eles estão pedindo o indiciamento. Mandar para o Ministério Público eu estou mandando também. Falam que eu tirei o vice-governador de Minas Gerais. Quem tirou foram eles, olha no relatório deles. Eu sempre tratei bem o PT, mas de uma semana para cá eu estou revoltado. Eles deviam ter vergonha na cara. Me perguntaram do Rosinha, e eu disse: "Rosinha, leia o relatório, pelo amor de Deus, você está me decepcionando". O próprio PT tirou os nomes, é só ver o relatório deles.

E a acusação de que o Delcídio Amaral (presidente da CPI) atropelou o regimento e não colocou em votação as emendas? Uma semana antes, o Delcídio emitiu a regra, e disse: "a regra é essa". A primeira coisa que se deve fazer se a regra não serve é dizer, "isso aqui eu não aceito". Só que eles não queriam votar. Eles estão batendo em coisas estúpidas e mentirosas. Quem mente desse jeito, eu não acredito mais. A votação [do relatório paralelo dos petistas] seria na terça-feira a tarde, e ficou marcado de me apresentarem na segunda-feira de manhã. Chegou dez da noite, e nada deles ainda. Pediram para fazer na manhã seguinte, chegou perto do meio-dia e nada. Transferi a votação para quarta-feira. Na noite de terça-feira, eles apareceram com 1.098 páginas. Nós sentamos com o calhamaço para ver o que eles queriam na quarta-feira de manhã. Isso foi no gabinete do Delcídio, cvom a presença do Rands (Maurício Rands/PT-PE) e do José Eduardo Cardoso (PT-SP). Eles falaram: "nós precisamos mudar um pouco". Eu cheguei para o Cardoso, ele é meu amigo, ele é professor de Direito da PUC-SP e eu também fui professor lá. Eu falei para ele: "eu não sei se é você, espero que não seja, mas não eu posso crer que você não está aqui direcionado por alguém. Pelo amor de Deus, faltam duas horas para eu apresentar o parecer de vocês, e vocês estão aqui desse jeito, se perguntado para onde nós vamos?. Só quero dizer o seguinte, às cinco horas, aonde a gente chegou chegou, e não adianta, eu vou para o plenário. Eu não tenho outra conclusão para tomar. Vocês estão redigindo folha por folha, tem mil páginas, o que que é isso?". Mas agora, depois, falar o que eles estão falando do meu relatório é má-fé total. Eles dizem: "tem 35 mudanças". Vinte e poucas são de redação. Não tem nada a ver com nada.

Quando o senhor vai enviar o relatório para o Ministério Público?Na segunda-feira.

O senhor saiu no topo da mídia nacional, a aprovação de seu relatório foi uma vitória. E o vôo político, agora?Eu sou candidato a deputado federal. Alguém disse que eu ia sair para senador. Legislador por legislador, fico na Câmara. Estou bem lá.

O senhor pode sair candidato a vice-governador?Claro que eu gostaria. Seria um orgulho meu ser o vice-governador de um estado como o Paraná. Mas tenho que ir com muita calma, porque essa é uma costura da qual eu não participo, pode me esvaziar como deputado, e daqui a pouco não sou nem um nem outro.

E essa é uma costura que está sendo feita para você ser o vice?Acho que a costura está sendo feita para não ser eu. A costura é para agregar partidos. É a minha última opção, e cada vez mais difícil, por que não está certo que o Garotinho vai até o final. Se ele for mesmo candidato, aí pode acontecer.

Num segundo turno, no caso do PMDB apoiar o Lula, o senhor estaria pronto para assumir o palanque com o presidente em Umuarama?Você sabe que o Requião trabalhou com o Lula. Eu trabalhei para o Serra. Levei a Rita Camata lá em Umuarama.

Então num segundo turno, o senhor é Alckmin?Eu sou Alckmin até antes. Mas aí estou falando da minha convicção pessoal. Mas para trabalhar, as vezes tenho que ficar quieto, aí depende do que meu partido vai adotar, também há limites. Entre o Serra e o Alckmin, eu era Alckmin.

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