
Quando a Organização das Nações Unidas (ONU) quis ajudar a desacelerar as mudanças climáticas, estabeleceu um sistema aparentemente razoável. Os gases foram classificados segundo seu poder de aquecer a atmosfera. Quanto mais perigoso o gás, maior seria a compensação às indústrias das nações em desenvolvimento que reduzissem suas emissões.
No entanto, onde a ONU enxergou uma reforma ambiental, alguns fabricantes de gases usados em aparelhos de ar condicionado e refrigeração viram uma lucrativa oportunidade comercial. Eles perceberam rapidamente que podiam ganhar 1 crédito de carbono eliminando uma tonelada de dióxido de carbono, mas que a destruição de um obscuro gás residual liberado na produção de um gás de arrefecimento rendia 11 mil créditos, depois negociados em mercados internacionais, gerando milhões de dólares por ano.
Esse incentivo levou fábricas do mundo em desenvolvimento não só a aumentarem a produção do gás de arrefecimento, mas também a mantê-la alta um problema considerável, já que o próprio arrefecedor contribui para o aquecimento global e afeta a camada de ozônio.
Desde 2005, as 19 fábricas que recebem os pagamentos pelo gás residual lucraram incrivelmente com um negócio improvável: gerar mais gás arrefecedor, para que possam ser pagas para destruir seu subproduto. A grande produção mantém os preços do gás arrefecedor irresistivelmente baixos desestimulando empresas de ar condicionado a trocá-lo por gases menos prejudiciais. Segundo críticos, isso significa que os subsídios da ONU acabaram criando seus próprios danos ao meio ambiente.
A ONU e a União Europeia, através de novas leis e de uma proibição total, vêm tentando desfazer essa bonança involuntária. Mas o incentivo já está tão arraigado que os esforços para removê-lo estão se mostrando complexos, e até mesmo arriscados.
A China e a Índia, que abrigam a maioria das fábricas, estão resistindo bravamente. Os fabricantes se acostumaram com um fluxo de receita que, em alguns anos, representou metade de seus lucros. Essa sorte aumentou seu poder e influência.
U$ 1 bilhão para só 19 empresas
A ONU, reconhecendo a tentação apresentada pelo lucro, desde 2007 se recusou a pagar créditos de carbono a novas fábricas que destruíssem o gás residual. E em renovações de contrato, as fábricas só poderão pedir créditos por gás equivalente a 1% de sua produção de arrefecedor (no começo eram 3%). A ONU acredita que isso eliminará o incentivo à superprodução, disse Hession, o ex-presidente do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
Mesmo com esses ajustes, os créditos para destruir o gás residual em 2011 predominam no sistema da ONU, que premia empresas por reduzir todos os tipos de emissões de aquecimento. Dos créditos de 2012, 18 % irão para 19 fábricas de arrefecedor frente a 12 % para 2.372 usinas eólicas e 0,2 % para 312 projetos solares, pelas emissões de dióxido de carbono evitadas com a energia limpa que produzem.
Mesmo se todas as propostas para tornar o comércio de carbono menos valioso fossem bem sucedidas, as 19 fábricas certificadas para gerar créditos de carbono com a destruição do gás residual poderão ganhar US$ 1 bilhão com essa prática nos próximos oito anos. Uma importante questão ambiental permanece: sem alguma forma de incentivo, será que empresas continuarão destruindo o gás residual?



