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Universidade Estadual de Londrina (UEL) | Arquivo/Gazeta do Povo
Universidade Estadual de Londrina (UEL)| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

Duas semanas depois de suspensas as greves de professores e servidores, as aulas ainda não recomeçaram na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Na noite de quinta-feira (17), numa assembleia com aproximadamente 1,6 mil pessoas, os estudantes mantiveram a greve iniciada em outubro, junto com as outras duas categorias. Por outro lado, desocuparam os prédios da reitoria, na manhã desta sexta-feira (18), e da rádio UEL FM, emissora educativa que pertence à universidade, no começo da tarde. Mas ainda estão em curso outras nove ocupações em salas de aula, todas de cursos do Centro de Educação, Comunicação e Artes (Ceca).

Em assembleia, estudantes decidem manter a greve

Cerca de 1,6 mil estudantes da Universidade Estadual de Londrina (UEL) participaram de uma assembleia na noite de quinta-feira e a decisão da maioria foi de manter a greve estudantil iniciada em outubro. Foram 888 votos a favor e 753 contra a continuidade da paralisação.

Estudantes contrários à greve se articularam em torno de grupos que lutaram pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e até criaram um fato de grande repercussão na imprensa londrinense, com a lavagem de paredes de prédios da universidade. Os estudantes que defendem a manutenção da greve, também se mobilizaram e conseguiram vencer a votação.

Para a presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e integrante do comando de greve estudantil, Ana Rosisca, a vitória da tese da continuidade da greve deixou o movimento fortalecido. “Estamos convidados todos a participar, para discutir as questões e botar para votação. Queremos mostrar que é na assembleia que as discussões devem ser feitas”, declarou. Segundo ela, o DCE trabalha pela unidade do movimento. “Não queremos movimento paralelo”, completou, em entrevista concedida logo depois da desocupação da reitoria.

As ocupações da rádio e da reitoria eram as mais sensíveis politicamente para a administração da UEL. A reitoria já funciona normalmente. A rádio volta com a programação normal na segunda-feira.

Um dos motivos da greve dos estudantes é a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, que tramita no Senado sob o número 55, que limita os investimentos em áreas como saúde e educação, entre outras, à correção pela inflação do ano anterior. Eles também são contra a reforma do ensino médio e ainda têm agendas locais, como a manutenção da política de cotas sociais e raciais na universidade e ampliação da moradia estudantil, entre outras.

A reitora da UEL, Berenice Jordão, não concedeu entrevista sobre o fim da ocupação do prédio da reitoria. Quem falou pela administração da universidade foi a chefe de gabinete, Maria Júlia. Ela se restringiu a dizer que foi feita uma vitória e que será feito um relatório sobre como o prédio foi encontrado depois da saída dos estudantes. Ela não adiantou se foi identificado algum problema nas instalações, documentos e equipamentos.

O diretor da rádio UEL FM, professor Osmani Costa, que fez uma vistoria depois da desocupação da emissora por estudantes de Comunicação, afirmou que “não houve nenhum dano patrimonial e nem nos equipamentos”. “Encontramos do jeito que deixamos em 1.º de novembro”, afirmou Costa – a rádio foi ocupada no dia seguinte. Ele lamentou que a ocupação tenha retirado a rádio do ar por duas semanas e classificou o fato como um “prejuízo para todos, os funcionários e os estudantes”. O diretor da emissora lembrou que na véspera da ocupação era negociada com professores, servidores e estudantes que estavam em greve a concessão de duas horas diárias de programação jornalística para debater a greve e as questões relativas ao movimento. Segundo Costa, essa proposta ainda está em pé.

Data-base dos servidores e professores

Para professores e servidores, a questão central é o cumprimento do acordo feito com o governo do Paraná e que pôs fim à greve de 2015. Essa negociação prevê que a data-base da categoria será em janeiro de 2017, quando o Executivo estadual deveria fazer a reposição das perdas salariais provocadas pela inflação referente a 2016. Logo depois do segundo turno das eleições, o governador Beto Richa (PSDB) enviou à Assembleia Legislativa (Alep) um projeto revogando o acordo e a previsão de repor as perdas. Com diversas categorias em greve, o governo retirou a emenda ao Orçamento de 2017 que bloquearia a reposição salarial. As categorias retornaram ao trabalho, mas o governo deixou a mesa de negociações na última quarta-feira. E reenviou a emenda à Alep.

Após reunião com representantes dos servidores na quinta-feira (18), a Secretaria da Casa Civil informou que o governo do estado pagará promoções e progressões e a questão da data-base voltará a ser discutida no ano que vem, quando o cenário financeiro do país for mais favorável. A Casa Civil afirmou que segue com o compromisso de pagar o reajuste do funcionalismo, mas não tem condições de fazer isso agora.

Ano letivo

Se confirmada a retomada da greve dos professores, o encerramento do ano letivo de 2016, previsto para janeiro do ano que vem, deve sofrer novas alterações. Nesse momento seria pelo menos estender o ano letivo em pelo menos mais um mês. Os conselhos da UEL estão discutindo a suspensão do calendário para permitir a reposição das aulas, paradas há um mês.

A avaliação dos professores é de que, se aprovada pela Assembleia Legislativa a emenda que retira a data base de 2017, a tendência é de um congelamento de salários por 2 a 3 anos. Nesse caso caberia ao sucessor do governador Beto Richa (PSDB) a reposição da inflação acumulada nesse período. Na avaliação de Evaristo Colmán, diretor do Sindprol/Aduel, que representa os professores da universidade, o governo busca um pretexto para “congelar [os salários] nos próximos anos”. “O governo está se aproveitando de um clima nacional que ainda prevalece e que justifica o ajuste fiscal e a contenção de despesas”, analisou o sindicalista. Ele afirmou que o governo “tem recursos para pagar.

Nesse momento não há perspectiva quanto à retomada da normalidade na universidade. Por causa da saída do governo do estado das negociações, servidores e professores convocaram assembleias para avaliar a situação. Os servidores, em assembleia realizada na tarde desta sexta-feira, decidiram organizar uma caravana para Curitiba, na próxima semana, para acompanhar a votação do orçamento pela Alep. Já os professores têm assembleia marcada para segunda-feira à tarde e irão votar retomada ou não da greve suspensa há duas semanas.

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