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Aquecimento global

Eventos extremos se tornam comuns

Relatório da ONU mostra que chuvas, furacões e períodos de seca estão mais intensos. Impacto do clima dependerá da capacidade de adaptação dos países à nova realidade

Sul e Sudeste do Brasil serão ainda mais afetados por precipitações e deslizamentos, como o deste mês em Teresópolis | Márcia Foletto/ Agência O Globo
Sul e Sudeste do Brasil serão ainda mais afetados por precipitações e deslizamentos, como o deste mês em Teresópolis (Foto: Márcia Foletto/ Agência O Globo)

Que diferença um ou dois graus a mais na temperatura pode causar? No caso do planeta Terra, a alteração traz um panorama de futuro catastrófico. O aquecimento global será o responsável por aumentar as ocorrências e a intensidade de eventos climáticos extremos, como longos períodos de seca ou chuva. As conclusões estão no último relatório lançado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado no fim de março.

"Os extremos estão ficando mais comuns e isso, no longo prazo, pode afetar a população, caso não haja uma adaptação", afirma Jose Antonio Marengo, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e autor de um dos capítulos do relatório. Em áreas da América Central, por exemplo, a tendência é de que furacões ocorram em menor número, mas com intensidade maior. Invernos muito frios e verões muito quentes, como já são observados na Europa, devem conti­­nuar ocorrendo.

No Brasil, que é um país tropical, as mudanças estão associadas a períodos ou de seca, em que a umidade relativa do ar fica muito baixa e pode trazer problemas de saúde para a população, ou de chuva, que causam enchentes e deslizamentos de terra. Para o pesquisador, os desastres naturais provocados pelos extremos não são exclusivamente resultados de alterações climáticas e são agravados por aspectos humanos.

As regiões Sul e Sudeste devem ser mais afetadas pelas chuvas. Com isso, enchentes, como as que castigaram o Vale do Itajaí, em Santa Catarina, no ano passado, ou deslizamentos de terra, que ocorrem praticamente todos os anos na região serrana do Rio de Janeiro, podem ocorrer com mais frequência. "Uma das medidas centrais tanto para evitar deslizamentos quanto inundação é o zoneamento urbano, que evitaria grande parte dos danos à população", defende o geólogo e professor da Universidade de São Paulo (USP) Cristiano Mazur Chiessi, que também atua no Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas.

Nordeste

Por outro lado, o semiá­rido do Nordeste poderá sofrer com as mudanças climáticas mais do que a Floresta Amazônica, onde existe a previsão de savanização de um trecho ao leste. O aumento da possibilidade de seca e dias consecutivos sem chuva, como já ocorre no norte da Bahia, afeta a população e a agricultura. "A população tende a migrar para as cidades, que já têm problemas próprios com a superpopulação, o que agrava a situação", pondera Marengo.

Para Chiessi, há de se respeitar as especificidades de cada região, mas algumas medidas genéricas podem ser tomadas para evitar desastres. A desocupação de áreas de encosta e várzea e a realocação de eventuais moradores é um começo. No caso de inundações, há a possibilidade de construção de pequenas barragens, para que se possa controlar a velocidade da vazão de água, assim como de edificação de muros de arrimo, para segurar encostas. Além disso, regiões que sofrem com a seca podem ser beneficiadas por meio do abastecimento de água disperso, com a instalação de pequenas fontes para comunidades.

Preparação deve começar já

Os dados do IPCC são preocupantes, mas é possível mudar a situação. "Temos de ser realistas e agir urgentemente", diz o professor da USP Cristiano Mazur Chiessi.

No Brasil, a criação do Cen­­tro Nacional de Moni­­toramento e Alertas de Desas­­tres Naturais (Cemaden) é considerada uma das políticas públicas mais claras na área de prevenção a eventos extremos. Para Jose Antonio Marengo, pesquisador do Inpe, os alertas meteorológicos emitidos pelo centro podem evitar tragédias ao permitir a retirada da população de áreas de risco antes de os desastres ocorrerem. Atualmente o órgão monitora 109 municípios. Apenas quatro – Almirante Tamandaré, Antonina, Rio Branco do Sul e São José dos Pinhais – ficam no Paraná. Falhas nos sistemas de alerta, contudo, foram identificados em Teresópolis, no início de abril. Segundo a Defesa Civil do município, houve queda no sinal de internet 3G pelo qual o órgão aciona as sirenes.

A redução da emissão de gases de efeito estufa também seria uma medida fundamental. "O Brasil fez a proposta de reduzir cerca de 166 bilhões de toneladas de gás carbônico apenas com pesquisas de campo para ver se é possível aumentar o estoque de carbono no solo, tirando-o da atmosfera", explica Hilton Silveira Pinto, diretor associado do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Unicamp.

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