Um caso que chamou a atenção dos curitibanos nos últimos dias acabou de forma inesperada nesta quarta-feira (20). A morte da comerciante Bernadete Dolores Dullazella, 43 anos, assassinada após um assalto à panificadora da qual ela era proprietária, no bairro Mercês, no último domingo (17), indicava um possível crime de latrocínio. No entanto, segundo a polícia, o responsável pela morte da comerciante é o ex-marido dela, João Carlos Soczek, de 43 anos, que está preso.
Outro suspeito de participação no crime também foi detido. Trata-se de Jeferson Aparecido de Paula, 27 anos, o Jefinho, que teria sido contratado pelo ex-marido da vítima. De acordo com depoimento de Jefinho à polícia, Soczek o teria contratado para "dar um susto" na ex-mulher. Para isso, pagaria a quantia de R$ 9 mil, em três parcelas. Outra "proposta" feita pelo ex-marido de Bernadete seria para que Jeferson a matasse. Neste caso, ele receberia R$ 40 mil. Ambos tinham sido vizinhos e se conheciam há algum tempo.
Assista ao depoimento da filha da vítima
Veja como a polícia investigou o caso e chegou aos suspeitos
Segundo Jefinho, na noite do crime os dois foram até a panificadora e Soczek teria rendido a ex-mulher e a filha de seis anos. "Ele amarrou a filha no quarto e pegou o cofre e as duas TVs", contou o suspeito. Jefinho também diz que foi Soczek quem a colocou no carro e que, ao chegarem na Estrada Dom Pedro I, em Campo Magro, onde o corpo de Bernadete foi localizado, Soczek teria decidido pela morte da ex-mulher. Jefinho afirmou que não conseguiu matá-la a sangue frio. Foi aí que o próprio Soczek teria disparado contra a ex-mulher. "Eu ouvi três tiros e depois ele me deu R$ 500 e as televisões para eu ir embora", disse o suspeito. Na versão de João Carlos Soczek, Jefinho teria matado Bernadete. O ex-marido alega que na última sexta-feira levou Jefinho para conhecer a panificadora e que depois disso o comparsa teria dito que o lugar dava muito dinheiro e pediu R$ 10 mil e ameaçou sequestrar a filha dele. Para evitar o sequestro, o Soczek decidiu ajudar Jefinho a assaltar o estabelecimento do qual ele continuava a ser sócio, ao invés de chamar a polícia. Ele diz que não sabia que Jefinho tinha colocado a vítima no porta-malas do carro e que após o assalto, ele e Jefinho foram para lugares diferentes.
A vítima e o suspeito tiveram três filhos. Bernadete foi casada com ele por mais de 20 anos. O casal se divorciou em 2011 e as brigas sempre foram frequentes, de acordo com a filha mais velha do casal, de 21 anos. "Eu quero justiça, quero que ele apodreça na cadeira", declarou a jovem. Ela afirma que não têm dúvidas de que o pai é o assassino.
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Jovem conta que não fala com o pai há dois anos e que ele costumava dizer que ia matar a ex-mulher
Investigações
Os policiais chegaram aos suspeitos depois de analisar as imagens das câmeras de segurança da panificadora. Desde o início das investigações, outras hipóteses além de latrocínio não haviam sido descartadas pela polícia.
Pelas imagens, a Delegacia de Furtos e Roubos percebeu que os suspeitos conheciam o lugar e abaixavam a cabeça cada vez que passavam pela câmera de segurança. Além disso, foram analisadas características físicas dos suspeitos. "Fizemos uma comparação das filmagens, uma da visita de sexta-feira e da noite do crime", explicou o delegado Amarildo Antunes.
As análises feitas pelos investigadores mostraram que os passos de Soczek no dia da visita coincidiam com os do sequestrador, além do porte físico. "Vimos que ele pisa levemente para dentro com o pé direito, e o sequestrador também. O João também tem o braço avermelhado, bastante peludo, assim como o criminoso que aparece nas imagens", disse o delegado. A mulher também teria reconhecido o ex-marido durante o crime. "É possível ver que ela não fica desesperada em nenhum momento e tem uma hora que ela para e olha bem pra ele. O Jefinho disse que nessa hora ela perguntou: 'É você, João?'", afirmou Antunes.
A camiseta amarela usada pelo sequestrador também foi essencial para a investigação, segundo a polícia. Soczek tinha três camisetas iguais, ele teria jogado fora duas delas, mas esqueceu de eliminar a terceira, que foi encontrada na casa dele. Ele confessou participação no crime quando os policiais pediram que ele vestisse a camiseta, na tarde de terça-feira (19).
Jeferson Aparecido de Souza, que trabalhava como palhaço de rodeio, foi detido na zona rural de Joaquim Távora. As duas televisões, o cofre e a arma usada no crime, uma pistola 380, foram encontrados com ele. Ele já tinha passagem pela polícia por tentativa de homicídio. Os dois vão responder por latrocínio até que a Justiça determine se foi um crime passional.
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A partir das imagens das câmeras de segurança da panificadora, os investigadores concluíram que o ex-marido da vítima estava envolvido
O crime
Dois homens armados renderam Bernadete Dolores Dullazella, 43 anos, durante um assalto, no domingo (17). Ela era proprietária de uma panificadora no bairro Mercês. Depois do roubo, a mulher foi sequestrada. O corpo dela foi encontrado na manhã de segunda-feira (18), em Campo Magro, na região metropolitana de Curitiba, com um tiro na nuca.
Segundo a polícia, enquanto um dos criminosos mantinha a vítima rendida na panificadora, o outro foi até a casa de Bernadete, nos fundos do estabelecimento, para apanhar dois aparelhos de TV e um cofre. A filha de seis anos de Bernadete foi amarrada.
Os homens chegaram de carro ao local do crime, mas deixaram o veículo estacionado a algumas quadras dali, conforme foi apurado. Eles entraram no local, na versão de Soczek, pulando o muro, mas Jefinho diz que o ex-marido tinha feito uma cópia da chave e que os dois entraram sem problemas pelo portão.
Bernadete foi colocada no porta-malas do próprio carro, um Citroën Picasso, e levada para a Estrada Dom Pedro, onde foi encontrada. De acordo com Jefinho, foi ele quem dirigiu o veículo da vítima enquanto o ex-marido dela o seguia no carro dele.
O corpo da Bernadete apresentava, além da perfuração na nuca, sinais de agressão, como dedos quebrados. Um exame mais detalhado irá comprovar se a vítima foi agredida.
Outro sequestro
Bernadete já tinha sido sequestrada há seis anos, mas na época não registrou boletim de ocorrência. Segundo a polícia, familiares sempre desconfiaram do ex-marido dela. "Infelizmente é mais uma mulher que é vítima do ex-marido e com a ideia de preservar a família acaba não fazendo o registro. Poderíamos ter investigado antes e quem sabe evitado essa tragédia", afirmou o delegado. Havia diversos boletins de ocorrência registrados por Bernadete pelo crime de agressão.
