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Ritmo intenso

Êxtase a qualquer preço

Começou ontem o circuito de raves na região de Curitiba, numa fazenda em São José dos Pinhais. A essa altura do dia, pode ser que jovens de classe média não tenham apenas curtindo a paisagem do local, embalados pela música eletrônica. Da noite de ontem para a de hoje, é provável que muitos tenham consumindo e traficado drogas na festa.

A apreensão de 40 comprimidos de ecstasy (a pílula do amor, droga à base de anfetamina, estimulante que também compõe a cocaína) e 19 micropontos de LSD (ácido lisérgico) com quatro rapazes de 22 e 26 anos no começo do mês, em Londrina, revela a mistura perigosa entre as raves e as drogas. Assim como em quase todos os casos de apreensão de ecstasy, o grupo admitiu que a droga seria vendida em festas techno.

Basta adquirir um ingresso de rave e ir ao local, sempre fazendas distantes, de paisagens belíssimas, para verificar que as drogas correm à vontade. Nas duas últimas grandes festas de 2005, ambas num haras em São José dos Pinhais, a reportagem acompanhou um grupo de seis jovens. Um batalhão de seguranças nos dois eventos (em média, 60 homens se revezam no longo período da festa) coíbem firmemente o consumo e o tráfico. Mas não conseguem impedi-los completamente. Victor (25 anos e nome fictício), entrou com cinco cigarros de maconha, dois comprimidos de ecstasy e um ponto de LSD. A reportagem acompanhou toda a movimentação da festa em dezembro.

A preparação começou às 20h30 de sábado. Enquanto enrolava os baseados num apartamento do Centro de Curitiba, Victor se preocupava com o horário, já que ainda não havia buscado o ecstasy. "Não gosto de ‘correria’ (compra de drogas em raves)", explica.

À meia-noite e meia, todos prontos. Fora a quantidade com Victor, cada um leva uma "bala" e um "doce". Ou seja, um ecstasy e um ponto de LSD, repartido igualitariamente. "Um inteiro desse você pira total", diz Victor sobre o LSD.

Após se alimentar numa lanchonete, o grupo chega à festa às 2h40. Na entrada, a três metros da revista dos seguranças, dois rapazes vendem camisetas com a inscrição "Bike Preta". O que parece ser mais uma camiseta de cunho engraçado na verdade é um dos inúmeros desenhos de LSD. Assim como o ácido lisérgico, o ecstasy também têm "assinaturas", com desenhos que muitas vezes indicam a procedência.

No gramado que serve de pista de dança, de diferente apenas a fumaça de maconha. Sem o menor receio, jovens tragam a cannabis. Às 4h32, uma moça de top e boné cambaleia até tombar. Ao ser questionada se havia se machucado, responde com a voz arrastada: "Não caí, só atravessei o espelho."

Meia hora depois, um garoto cai. No trajeto ao atendimento médico, o amigo relata: "Ele tomou cinco ‘balas’". Ao voltar, o rapaz se explica: "Misturei ‘bala’ com lança-perfume."

Troca

Um rapaz de touca e uma moça de botas cano longo conversam. Ela pergunta se ele quer trocar "bala" por "doce". Ela tira o ácido escondido na bota. Feita a troca. Victor reconhece o rapaz. Apresenta um amigo que quer comprar ecstasy. "É de confiança, pode vender." Por ser amigo de Victor, consegue por R$ 20. Como só tem uma nota de R$ 50, o que exige troco, o traficante faz o preço normal: R$ 30.

O rapaz de touca sai, busca o comprimido com um homem gordo, por volta dos 30, barba por fazer, vestindo casaco marrom sobre uma camiseta do time inglês Manchester United. Outro amigo de Victor se aproxima do rapaz que fez a encomenda e filosofa: "Quando a gente usa bala parece que somos mais do que amigos."

O rapaz volta e entrega o ecstasy. Não sem antes oferecer: "Tenho lança-perfume por R$ 40". Victor encomenda dois. Ao perceber Victor e amigos sugando o frasco de lança-perfume escondido numa blusa, outros jovens se aproximam. Ficam por ali, fazendo o rodízio.

A cada aproximação dos seguranças, todos fingem não estar fazendo nada, apenas contemplando a paisagem. O dia avança, com os olhares perdidos.

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