São Paulo Não é só a polícia que escuta o PCC. Os líderes da facção estavam monitorando as comunicações de todos os batalhões e distritos policiais da Grande São Paulo e de Santos. Mantida em sigilo até agora, a descoberta foi feita pelo Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) a partir da localização dos documentos contábeis da facção. E a polícia suspeita que a "escuta do crime" continua ocorrendo.
O Deic apreendeu com um integrante da cúpula três páginas com todas as freqüências de rádio utilizadas pelos policiais. Trata-se da comunicação analógica por meio da qual os Centros de Operações das Polícias Civil e Militar despacham as equipes para atender ocorrências na Região Metropolitana de São Paulo.
Ali estão listadas as oito delegacias seccionais da Polícia Civil na capital e departamentos de elite, como o de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e o de Investigações sobre Narcóticos (Denarc). Há ainda outra freqüência de muito interesse do PCC: a do Grupo de Operações Especiais (GOE), da Polícia Civil. O GOE é o responsável pela segurança das delegacias e da proteção às carceragens mantidas pela Secretaria da Segurança em São Paulo, como a Cadeia Pública de Pinheiros.
A escuta, no caso da PM, era mais tímida. O PCC dispunha das freqüências usadas por 13 batalhões da PM, oito deles em São Paulo. As anotações mostram que os bairros que mais interessavam ao crime organizado estavam na zona leste e na zona sul. Na primeira estavam quatro das unidades cujos movimentos eram vigiados pela facção e, na outra, três.
As regiões coincidem com as áreas em que a facção mais arrecada dinheiro com o tráfico de drogas, de acordo com a contabilidade mantida por Deivid Surur, o DVD, preso pelo Deic em julho de 2005. O documento feito por DVD foi mantido até agora em sigilo pela polícia. Foi em um anexo dele que a polícia encontrou as listas com as freqüências de rádio.
Havia apenas um batalhão que merecia atenção do PCC na zona norte. Era justamente o 5.º Batalhão da PM, que cuida do complexo penitenciário do Carandiru, zona norte.
A queda dos documentos nas mãos dos policiais provocou uma crise no PCC, que levou DVD a se matar na cadeia. Contra a escuta do crime, a polícia aposta na digitalização de suas comunicações. O governo paulista já fez a licitação para a compra de rádios digitais para os batalhões da PM na Grande São Paulo, exceto na capital, o que deve ocorrer ainda neste ano.



