• Carregando...

Relâmpago também atemoriza

Outro crime que atemoriza os curitibanos é o seqüestro relâmpago. Em janeiro, foram cinco casos registrados na Delegacia de Furtos e Roubos (DFR). Mas o baixo número não reflete a realidade do problema. A polícia considera que seqüestro relâmpago se configura só nos casos em que bandidos abordam a vítima, levam-na a uma agência bancária e obrigam-na a sacar dinheiro. Situações em que a pessoa fica sob o poder de criminosos, depois é abandonada e seu carro levado são consideradas como roubo de veículo. Há situações nas quais os criminosos não conseguem o dinheiro dos caixas automáticos e vão até a casa da vítima, para assaltar. Para não serem vítimas de seqüestro relâmpago, o delegado Rubens Recalcatti recomenda que as pessoas não fiquem dentro de veículos estacionados, procurem não parar o carro em ruas escuras e estejam atentas ao que acontece em sua volta quando saem ou chegam em agências bancárias ou em casa.

"Seqüestramos o seu filho! Ele está aqui com a gente. Você tem 20 minutos para comprar R$ 2 mil em cartões telefônicos e passar os códigos pra gente. Não desligue o telefone. Se desligar ou demorar, ele morre!" É dessa forma, com algumas variações, que o golpe do falso seqüestro está sendo aplicado há vários meses em Curitiba e outras cidades do país. Nesse período, as falsas ameaças passaram a contar com efeitos especiais, como gritos de fundo e pedidos de socorro das supostas vítimas. As vítimas preferenciais dos bandidos fazem parte da classe média – gente que pode dispor sem muita complicação e rapidamente de R$ 1 mil ou R$ 2 mil reais. Em pânico por imaginar que um familiar esteja em uma situação de extremo perigo, muita gente que atende a telefonemas como esse acaba obedecendo às ordens dos bandidos. "Não sei se foi o psicológico, mas a choradeira e a voz que eu escutava eram do meu filho", lembra o caminhoneiro Inácio, nome fictício, de 52 anos.

Inácio foi vítima do golpe do falso seqüestro em 1.º de fevereiro. Sem celular, seu filho tinha ido a Paranaguá fazer uma entrega. Foram três horas de negociação com os bandidos – em ligação a cobrar, entre 17 e 20 horas. O telefonema custou R$ 253, ele gastou outros R$ 700 em cartões telefônicos. "Pediram R$ 20 mil, mas baixaram para R$ 2 mil em cartões." O caminhoneiro, que em 2002 passou cinco horas nas mãos de seqüestradores, não hesitou; deixou o telefone fora do gancho, emprestou o dinheiro e foi em busca dos cartões para telefones pré-pagos. "Parecia tudo verdadeiro. Eles ficaram 15 minutos sem falar, dava a impressão que saíram para bater mais no meu filho", conta.

Inácio já tinha passado os números de vários cartões aos bandidos quando outro filho chegou em casa e abortou o golpe. "Ele xingou o cara e desligou o telefone", lembra o caminhoneiro. O pai só se acalmou quando reencontrou o filho que teria sido seqüestrado. "É uma tortura total no telefone. Uma pressão sem folga. Voltou tudo o que eu já tinha passado", relata.

Em Curitiba, de acordo com a Polícia Militar e a Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas (DEDC), são pelo menos cinco vítimas a cada dia. Mas o número deve ser bem maior. "As pessoas acabam fazendo registros em outras delegacias, aí acabamos não tendo conhecimento", explica o delegado Marcus Vinicius Michelotto, chefe da DEDC. "Mas não passa um dia sem ocorrência." Segundo o tenente Nelson Stocheiro, até o fim do ano passado, o 190 atendia cerca de 50 ligações relacionadas a falso seqüestro todos os dias. "Agora são casos esporádicos", comenta. Além disso, muitas vítimas deixam de registrar queixa por saber que se trata de um golpe.

E o que pode ser feito para controlar o problema? Na avaliação de Michelotto, a única alternativa local é informar a população. "O golpe é uma invenção e foi patenteado pelo bandido carioca. Quem tem de trabalhar é a polícia do Rio de Janeiro. 90% das ligações partem de presídios de lá", afirma. Duas dessas penitenciárias a que ele se refere são Bangu I e Bangu II. Michelotto conta que as informações obtidas pela polícia paranaense têm sido repassadas às autoridades cariocas.

Já o delegado responsável pelo grupo tático anti-seqüestro (Tigre), Riad Farhat, o falso seqüestro tem se propagado nos presídios de outras localidades do país, como São Paulo e Nordeste. "Como os presos trocam muito de presídio, é um golpe que já ficou conhecido entre eles", comenta. Além da conscientização, Farhat vê como única alternativa a retirada de celulares de dentro das penitenciárias. "É um golpe que vai longe. É um problema nacional grave que só vai acabar quando tirarem os celulares de dentro dos presídios. E a curto prazo não vejo isso acontecer", lamenta o delegado.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]