
O Brasil entra no escuro no acordo global aprovado no último domingo para a redução de emissões de gases do efeito estufa. O último levantamento amplo realizado pelo país sobre a liberação de substâncias poluentes na atmosfera foi divulgado no ano passado e traz dados até 2005. Os números revelam que o Brasil emitiu naquele ano 2,2 milhões de toneladas de gases nocivos à natureza. O próximo estudo será divulgado apenas em 2014. Além da falta de dados recentes, ainda não há uma definição de como o país vai trabalhar a mudança do uso do solo, como na agropecuária e no desmatamento que é responsável por aproximadamente 79% dos gases responsáveis pelo aquecimento global. Representantes de mais de 190 países aprovaram durante a conferência sobre o clima de Durban, na África do Sul (COP-17), um protocolo de intenções destinado a reduzir os gases que provocam o efeito estufa. Até 2015, os países que mais poluem no mundo terão de se debruçar sobre os números de emissões de gases para ver quem vai cortar, e de que forma, a poluição. O objetivo é que um plano entre em vigor até 2020.
Segundo um estudo elaborado pelo instituto alemão IWR, o Brasil foi o 12.º maior emissor de CO2 em 2010, com 464 milhões de toneladas geradas na produção de energia e em processos industriais. Na pesquisa anterior, o país ocupava a 15.ª posição no ranking. A China, com 8,3 bilhões de toneladas, os Estados Unidos, com 5,4 bilhões, e a Índia, com 1,7 bilhão, aparecem, respectivamente, nas três primeiras posições. Já um levantamento de 2008, da UNdata, apontou que cada brasileiro é responsável por emitir 1,9 tonelada de CO2 na natureza por ano.
Para o superintendente-geral da Fundação Amazonas Sustentável, Virgílio Viana, a iniciativa do COP-17 foi um avanço para se debater questões relacionadas ao meio ambiente. No entanto, ele acredita que o prazo para o acordo entrar em vigor é muito extenso. "Foi muito positivo um acordo no qual todos os países aceitaram reduzir a emissão de gases do efeito estufa. Porém, os prazos são insuficientes para atender a um problema que cresce a cada dia", afirma.
Desafio
O principal desafio do país é conseguir controlar a emissão de gases poluentes no campo, medida que deverá estar incluída no acordo global de 2015. Para isso, será necessário investir em políticas públicas para reduzir o desmatamento e na aplicação da agricultura sustentável. Como a maioria da poluição atmosférica é oriunda do campo, o pesquisador e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Carlos Alberto Sanquetta ressalta a necessidade de um investimento específico para o setor.
Segundo ele, é indispensável um manejo diferente do solo. "Uma das formas é produzir a mesma quantidade de alimentos em uma área menor de produção. Além disso, é preciso usar o solo corretamente, sem grande emissão de carbono. Isso requer capacitação dos produtores e não será feito do dia para a noite", salienta o pesquisador, que participou do encontro na África do Sul.



