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Saúde

Faltam médicos no interior do país

Nas capitais, há excesso de profissionais. Se houvesse uma melhor distribuição, todos poderiam ser bem atendidos

Miguel Espínola, médico na pequena Laranjal, no Centro-Oeste do Paraná: opção pela tranquilidade do interior em detrimento da vida agitada da capital | Celso Margraf
Miguel Espínola, médico na pequena Laranjal, no Centro-Oeste do Paraná: opção pela tranquilidade do interior em detrimento da vida agitada da capital (Foto: Celso Margraf)
Veja que a maior parte dos médicos está concentrada na região Sudeste |

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Veja que a maior parte dos médicos está concentrada na região Sudeste

O número de médicos no Brasil vem crescendo mais do que a população e seria suficiente para dar um bom atendimento a todos, não fosse por um detalhe: a concentração de profissionais nas á­reas mais ricas do país faz com que sobrem médicos em algumas cidades e faltem em outras.

Em 2000, havia no país 260.216 médicos, e em 2009 esse número aumentou para 330.825, um crescimento de 27%. Nesse mesmo intervalo de tempo, a população cresceu aproximadamente 12% – de 171.279.882 para 191.480.630, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Esta­tística (IBGE). Com isso, a proporção de médicos no país melhorou. Enquanto em 2000 havia um médico para cada grupo de 658 habitantes, em 2009 a situação passou a ser de um médico para 578 pessoas, segundo números divulgados pelo Con­selho Federal de Medicina.

A maior parte dos médicos está na região Sudeste do país, que concentra 42% da população e 55% dos médicos. São 439 habitantes por profissional. Somente em São Paulo estão 30% dos médicos brasileiros – o estado abriga 21% da população. Já na região Nordeste há um médico para cada 968 habitantes; e no Norte essa proporção chega a um profissional para cada grupo de 1.130 pessoas.

A distribuição entre capital e interior também é desigual nos estados. Sergipe tem 92% dos médicos na capital. Em Roraima, são 10.306 habitantes por médico em cidades do interior. Há apenas 15 profissionais domiciliados fora da capital.

O resultado de tudo isso é que, enquanto algumas cidades apresentam índices similares aos dos melhores países europeus, outras localidades podem ser comparadas a países pobres africanos. Curitiba, por exemplo, tem um médico para 227 habitantes, média similar à de países como Alemanha, Bélgica e Suíça, que possuem um médico em atividade para cada grupo de 285, 248 e 259 habitantes respectivamente. No entanto, no interior do Amazonas há apenas um médico para cada grupo de 8.944 habitantes. Número comparável ao de países como Guiné-Bissau (8.333) ou Angola (12.600).

Para o presidente do Conselho Federal de Medicina, Roberto Luiz d’Avila, é evidente que não faltam médicos no país. "O que falta é uma política capaz de fixar os médicos no interior. Para isso defendemos a criação de uma carreira de Estado, com a implantação de planos de cargos, carreiras e vencimentos. Algo semelhante ao que acontece no Judiciário. O médico, no início de carreira, seria enviado ao interior. E, depois, teria a oportunidade de ir para as grandes cidades", afirma.

Para o 1.º secretário do CFM e responsável pelo levantamento, Desiré Carlos Callegari, as medidas adotadas pelo governo para tentar promover a interiorização não foram efetivas. "O governo tentou aumentar o número de médicos no interior do Nordeste oferecendo bolsas de residência. Mas isso não resolve, porque depois que acabam a residência esses médicos voltam aos grandes centros", diz.

Além da criação de um plano de carreira, as lideranças médicas defendem a necessidade de maior investimento em estrutura e condições de trabalho. "A presença de uma equipe e de recursos para exames e tratamentos às vezes é mais importantea para atrair o médico do que apenas o salário. Caso contrário, um médico em início de carreira acaba preferindo ficar na capital fazendo plantão", diz Gerson Zafalon Martins, 2.º secretário do Conselho Federal de Medicina. Hoje, o salário médio inicial da categoria gira em torno de R$ 2,5 mil.

O Brasil é hoje o segundo país do mundo em número de escolas de Medicina. Com 175 faculdades, perde apenas para a Índia, que tem 272. A cada ano, o Brasil forma 18 mil profissionais. Mesmo assim, o governo estuda a revalidação automática de diplomas para médicos estrangeiros. "É inaceitável que com tudo isso o governo ainda queira importar médicos. Se eu estudo Medicina no Brasil, não posso ir para outro país e trabalhar como médico. Tenho de fazer uma prova, passar por um processo de validação do diploma. Por que, então, um médico que estudou fora poderia vir para cá e trabalhar sem passar por nenhuma avaliação? Sem falar que muitas vezes são médicos de formação duvidosa, que não conhecem as características do nosso sistema de saúde nem a realidade epidemiológica do Brasil. Ou ainda não falam nossa língua", afirma d’Ávila.

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