
Desde quarta-feira, o movimento não para nos cemitérios das cidades da região serrana do Rio de Janeiro devastadas pela chuva da última terça-feira. Os corpos de vítimas chegam em carros funerários e em caminhões, que transportam vários caixões de uma só vez. Em algumas localidades, como em Teresópolis, escavadeiras foram usadas para cavar as covas dezenas, lado a lado. Chegam a ser enterradas famílias inteiras levadas pela força das águas ou soterradas por deslizamentos.
No Cemitério Municipal Carlinda Berlim, em Teresópolis, além dos 23 coveiros, dez voluntários trabalham no local para dar conta do alto número de enterros na quarta-feira foram 93, enquanto a média normal é de 8 a 13 por mês. Ontem, o corpo de Natasha Siqueira, 13 anos, foi enterrado. O gerente de vendas Celso Mendes lamentava a perda. Natasha era filha do amigo João Paulo Siqueira da Costa, que também foi levado pela correnteza junto com a mulher e a filha caçula de 6 anos. A água invadiu os dois andares da mansão em que moravam e carregou a família. A filha mais nova ainda não foi localizada.
No Rio de Janeiro, o executivo Erick Connolly de Carvalho, 41 anos, enterrou ontem dois filhos de 8 e 11 anos, os pais, a família da irmã e parentes de sua esposa, que permanece internada no Hospital Copa dOr. Eles estão entre os 14 mortos pela tempestade que atingiu o Vale do Cuiabá, em Itaipava, distrito de Petrópolis, na madrugada de quarta-feira. A família do executivo manteve o silêncio que preserva desde o dia da tragédia. "Parece que não é verdade ou que estamos vendo um filme. Hoje, eu sinto um buraco, um vazio", disse Gustavo Andriewiski, amigo da família.
Abrigo
A vontade de ajudar a cidade onde vive fez a professora Ana Paula Gonçalves, 29 anos, se oferecer como voluntária para cuidar dos desabrigados de Nova Friburgo, outro município arrasado pela chuva, com pelo menos 246 mortos e 6.170 desabrigados. Só depois de começar a trabalhar no abrigo montado na Sociedade Esportiva Friburguense é que ela descobriu que o avô também perdeu a casa no temporal. Com os olhos cheios de lágrimas, a professora disse que não sabe onde está o avô. Sabe apenas que ele conseguiu sobreviver à destruição da casa, na localidade de Chácara do Paraíso. "Não consigo entrar em contato com ele. Não sei em que abrigo ele está".



