1 de 1
Fiéis provam sua fé e colocam velas no mastro do
Maringá - Em todo dia 23 de junho, uma saborosa e saudosista rotina se repete em Maringá, na região Noroeste do estado. Uma fogueira é acesa ao som da sanfona, enquanto pessoas das mais diversas idades jogam conversa fora trajando camisas xadrez, vestidos de renda coloridos e chapéus. Na cozinha, a canjica, a mandioca e a batata são cozidas, o milho da pipoca é colocado para estourar e o quentão ferve. É dia de festa junina não uma festa comum, mas sim o "Arraiá do Seu Zico", tradicional evento realizado desde 1982 e que resgata as tradições da cultura popular.
O fundador da festa é o pioneiro Annibal Borghi, chamado de "Seu Zico", que chegou a Maringá em 1946, aos 12 anos. Sua família veio de Cornélio Procópio em busca de uma terra fértil para a lavoura do café; trabalho pesado que, segundo Zico, exigia alternativas para aliviar o cansaço. Essa função era cumprida pelas festas da comunidade, costumes que foram perdidos com o tempo e que o pioneiro tenta relembrar com o seu "arraiá". "O povo antigo fazia esse tipo de festa, mas não sei por que todo mundo parou. Em 82 eu lembrei disso e tinha uma empregada que gostava de festa. Daí convidei ela para fazermos uma", conta.
O "arraiá" acaba dando um tom de coisa antiga, que encanta quem nunca viu e emociona os que viveram aquele tempo. Sentimentos que motivam a crescente participação da comunidade: de um encontro que inicialmente reuniu cinco famílias para um evento destinado a quase 2 mil visitantes. Como não comporta mais tanta gente, a festa deixou de ser realizada no sítio do Seu Zico e foi transferida para a escola João Gentilin, na Gleba Pinguim, zona rural de Maringá.
E, como em toda festa na roça que se preze, lá estão preservadas as características caipiras: os fogos, a quadrilha, a brincadeira do pau de sebo, o correio elegante e as comidas e bebidas típicas, que são preparadas por voluntários e distribuídas gratuitamente. "É muito lindo ver que a tradição continua aqui", diz a aposentada Laura Alves Corsini, que vai à festa todos os anos.
Em 2008, a prefeitura de Maringá concedeu à festa de Seu Zico o título de patrimônio histórico imaterial do município, primeiro do gênero no Paraná. Desde então, a Secretaria de Cultura auxilia na organização do evento. Para a secretária Flor Duarte, o título é uma honra para a cidade. "É uma festa que começou com os pioneiros da cidade e preserva as mesmas características culturais até hoje. Atrai centenas de pessoas e a cidade reconhece esse mérito", diz.
