
Bares lotados, calçadas cheias de estudantes, trânsito lento e vizinhos irritados com o barulho. Essa situação se tornou comum em Maringá, principalmente na Zona 7, onde fica a Universidade Estadual de Maringá (UEM). Longe de ser restrito ao município, o eterno impasse entre estudantes e moradores é vivenciado em outros polos universitários do Paraná e reflete uma convivência ainda longe de se tornar pacífica.
As reclamações dos vizinhos do câmpus são as mesmas relatadas em outras cidades, como Curitiba, Ponta Grossa, Londrina e Foz do Iguaçu: barulho e supostos abusos em bares e festas universitárias. Em Maringá, diante das constantes desavenças e registros de ocorrências, os vereadores aprovaram em 2008 duas leis que ainda permanecem em vigor para felicidade dos moradores e indignação dos estudantes.
Uma proibiu a venda e o consumo de bebidas alcoólicas em uma extensa área da Zona 7 durante o período de vestibular da UEM. Outra vetou a comercialização desses produtos em estabelecimentos a até 150 metros de distância dos portões das faculdades de Maringá.
Para o advogado Rafael Teixeira, um dos fundadores da Associação Universitária de Maringá (Assuma), as proibições são inconstitucionais e mostram discriminação. "De fato, o álcool leva a alguns excessos, mas não só dos estudantes, de qualquer pessoa. É um problema de política pública. Por que há uma repressão contra o universitário?", questiona.
Para o presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) de Maringá, Antônio Tadeu Rodrigues, a lei ajudou a diminuir os excessos no consumo de bebidas e a baderna nas ruas. Ele ainda defende mais rigor na liberação de alvarás. "Existe uma minoria de estabelecimentos que fica com som alto até madrugada", relata. "A convivência precisa ser pacífica, queremos que o comerciante trabalhe, que os estudantes tenham seu lazer sem exageros e que os vizinhos tenham tranquilidade".
Trote e estratégia
Em Curitiba, as aglomerações de estudantes no entorno da Universidade Positivo, no limite do bairro Campo Comprido com a Cidade Industrial, são criticadas por moradores e empresários da região, que reclamam de excessos principalmente no início de cada ano letivo. É nesta época que são feitos os trotes, manifestações repudiadas pelas universidades mas ainda praticadas por alguns estudantes veteranos.
Em fevereiro deste ano, cinco calouros tiveram de ser internados no Centro Municipal de Urgências Médicas do Campo Comprido, após abusarem da bebida. Dois estavam em coma alcoólico.
O cenário é diferente na Rua Imaculada Conceição, no Bairro Prado Velho, em frente da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Hoje, poucos bares resistem na tradicional via, que por décadas foi ponto de encontro dos universitários. O comerciante Donizete Aparecido Martins é dono de um dos estabelecimentos derradeiros, o Havana.
Para fugir do que chama da "política de tolerância zero" de órgãos de segurança e da prefeitura, adotou uma estratégia heterodoxa: aumentou o preço dos produtos para reduzir o movimento e evitar aglomerações. Além disso, contratou seguranças e colou um cartaz na entrada, alertando que "é proibido sair com copos ou garrafas". Tudo para evitar que frequentadores permaneçam na rua.
"No ano passado, chegamos a ficar 84 dias fechados. A pressão aqui é muito grande. A vida dos comerciantes não é fácil, mas graças a Deus não recebemos mais reclamações dos vizinhos, da PUC ou da prefeitura", desabafa Martins.



