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Imagem do Festival de Inverno de Antonina em 2011: voltado à comunidade, evento fortalece a cultura e a economia local. | Marcelo Elias 
/Arquivo/Gazeta do Povo
Imagem do Festival de Inverno de Antonina em 2011: voltado à comunidade, evento fortalece a cultura e a economia local.| Foto: Marcelo Elias /Arquivo/Gazeta do Povo

Ao longo dos últimos 25 anos, o Festival de Inverno de Antonina, promovido pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), se transformou numa espécie de referência quando o tema é participação popular na construção de políticas públicas. É que desde 1991, ano da primeira edição, o festival passou por uma série de mudanças até chegar à maturidade neste aniversário. Mas não foi simples. Levou pouco mais de duas décadas para redescobrir a vocação da ação e colocar como premissa básica uma via de mão dupla entre comunidade e academia.

O projeto atual é o mais parecido com a ideia que nasceu na década de 1990, capitaneado pelo então reitor, o linguista Carlos Alberto Faraco. Segundo Deise Cristina de Lima Picanço, pró-reitora de Extensão e Cultura da UFPR, o festival nasceu com o objetivo de desenvolver o potencial da comunidade de Antonina e Litoral, onde não havia um câmpus da universidade – diferentemente de hoje. “Mas, com o tempo, ficou muito com cara de evento e entretenimento”, explica.

Território

O objetivo sempre foi fortalecer o território. Por isso, agora está nas mãos da comunidade a organização e a construção do festival. De acordo com o coordenador de Cultura da UFPR, Ronaldo Corrêa, o evento é a ponta de um curso de extensão que trabalha o ano inteiro em torno da formação de professores na região, mostrando a importância da leitura, memória e arte.

Todo mês há uma reunião com várias entidades da comunidade do Litoral, principalmente de Antonina, representantes da UFPR e moradores da região para debater os cursos e a semana do festival. “É uma experiência que nos permite pensar que é possível criar política pública com a participação da sociedade”, afirma Corrêa.

De acordo com ele, um dos diferenciais da comunidade é a motivação em participar para melhorar sua realidade.

E não se trata apenas de fortalecer a cultura, mas também a economia da região. Há uma série de oficinas com atividades integradas. Entre elas, está a de culinária caiçara.

SERVIÇO

25.º Festival de Inverno de Antonina

De 12 a 18 de julho.

Nas escolas municipais, a semana terá uma série de oficinas de arte – resultado de um trabalho de formação da UFPR com os professores locais. Toda a programação musical e de lazer é gratuita. A agenda completa do 25º Festival está disponível no site: da Proec.

“O plano é valorizar o produtor e comerciantes locais. Essas oficinas já geraram uma série de ações práticas que prepararam as pessoas. Hoje há produto e atendimento diferenciados”, comenta Deise.

Na execução de todo esse processo, trabalham 45 servidores da UFPR. Outras 40 pessoas estão envolvidas na organização dos projetos e 470 participarão das apresentações artísticas.

“Hoje é uma ação madura. Tudo pensado em assembleia. Esse processo colaborativo faz com que o festival possa se repensar para mais 25 anos”, comemora Corrêa.

Evento marcou a recuperação da cidade após a tragédia de 2011

Uma cidade com mais de 10 mil pessoas desabrigadas e três mortos. Era esse o retrato de Antonina após as chuvas que atingiram a região em março de 2011. Ninguém tinha cabeça para pensar no Festival de Inverno. Todos trabalhavam para salvar suas casas, seus pertences e suas famílias. Naquele março, Antonina, Morretes e Paranaguá sofreram com um dos piores desastres naturais da história do estado.

Estava ali um motivo para continuar e não para desistir. “Houve uma mobilização para que o festival acontecesse. Todo mundo se ajudou. A universidade entendeu que tinha um papel que ia além naquele momento. Foi muito emocionante e ocorreu com certa dificuldade”, comenta Deise Cristina de Lima Picanço, pró-reitora de Extensão e Cultura da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Segundo ela, houve uma participação maior de todos os departamentos da academia. Começaram então as oficinas da área ambiental, que não ocorreram em edições anteriores. A integração com a comunidade foi ainda maior. Na edição de 2011, dos 585 participantes das atividades, 449 eram antoninenses. Durante a semana do festival, a cidade recebeu cerca de 40 oficinas, apresentações culturais diárias em espaços públicos e atividades para as crianças.

Tinha um significado especial. A cidade precisava se recuperar dos estragos e do trauma causados pelas chuvas. Para potencializar a economia da cidade, todas as barracas de gastronomia e artesanato que abasteceram o festival foram ocupadas por cooperativas locais.

“Tivemos uma organização tardia por causa das chuvas e a produção foi mais corrida. Porém, o município entrou em um consenso de que não deveríamos interromper o evento e, sim, minimizar ao máximo o impacto da tragédia na rotina da cidade, para que ela volte o mais rápido ao normal”, disse, na época, o então secretário municipal de Cultura, Marcelo Vieira Gomes.

Promoção da cultura também faz parte do pacote do festival

Para o coordenador de Cultura da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ronaldo Corrêa, os 25 anos do festival o marcam como uma atividade de contínua referência sobre arte e cultura também, sem abandonar o caráter necessário de promoção da cidadania.

Além de estar formando algumas gerações, o festival dá acesso a espetáculos para a comunidade local. São apresentações de música, teatro e dança que não chegariam ao alcance de muitos locais não fosse o evento promovido pela UFPR. “Hoje é um patrimônio vivo do Litoral”, diz.

Ele ressalta que nesta semana o objetivo é apresentar para a comunidade uma série de possibilidades estéticas que vão além do que está “na moda”. “A função é promover um espaço de cidadania cultural e não só lazer fácil.”

O festival também ajuda a promover avanços até entre os que já estão envolvidos com cultura. A Filarmônica Antoninense, por exemplo, passou por uma transformação ao longo dos anos. De acordo com Corrêa, muito disso se deve aos cursos de capacitação, que impactaram na formação dos músicos locais. “Eles mudaram. No começo, eram quase que uma banda marcial.”

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