Uma semana após a ocupação policial do Complexo do Alemão, o domingo teve missa lotada na Igreja da Penha e ruas cheias da região, mas moradores ainda temem que a paz seja temporária.
Famosa pelos 382 degraus da escadaria principal, a igreja já chegou a ser usada como ponto de monitoramento de traficantes. Do pátio, é possível avistar a Vila Cruzeiro e o Alemão.
A Igreja da Penha é uma das mais tradicionais da cidade, construída no topo de uma rocha de 111 metros de altura. Do alto do pátio é possível avistar as favelas da Vila Cruzeiro e as que compõem o Complexo do Alemão.
Com todos os bancos e laterais da igreja lotados, e a presença de muitas crianças, o sermão foi sobre a proximidade do Natal e o seu significado para os católicos.
Ao final, o padre Elias que acredita no renascimento da comunidade sugeriu aos fiéis que comprassem cartazes com o texto: "Jesus está nascendo na nossa família". Ele recomendou que eles fossem pendurados logo na entrada das casas "para todo mundo ver que a paz está chegando na sua comunidade".
A dona de casa Marilane da Silva, 53, há dois anos tentava pagar a promessa de subir a escadaria de joelhos pela melhora da saúde de um parente. Só após a ocupação policial criou coragem.
Claudia Varelo, 39, moradora do bairro, levou um primo para conhecer o local. "A partir da operação, tenho esperança de ter paz por dois ou três anos. Isso sempre vai existir [o tráfico], é preciso policiamento constante.
Um dos poucos fiéis que estiveram na missa da semana passada, quando o sermão ocorreu ao som de helicópteros sobrevoando a região, o aposentado Antonio Lourenço, 76, disse que não abre mão de frequentar o local. "Minha vida inteira foi aqui. Nossa fé não se abala.
Alemão
A preocupação nas favelas, porém, persiste. "Tudo está mais tranquilo, mas ainda tem bastante gente [traficantes] circulando, disse uma moradora que não quis se identificar. "Está bom, mas ainda é cedo para comemorar, afirmou Luzia, 40.
Acompanhado de duas filhas pequenas, o vigia André, 38, não cria expectativas. "Tenho dois empregos. Só entro em casa para tomar café e dormir no fim de semana. Quando eles [Exército] forem embora, quem vai garantir a nossa segurança?
Já o conferente de transportadora, Marcos Antonio, 41, disse que as pessoas estão saindo mais de casa. "Estou mais confiante, uma hora a gente tem de acreditar.



