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O documentário Blood Money mostra como a indústria do aborto lucra com a prática nos EUA | Reprodução/ Cartaz
O documentário Blood Money mostra como a indústria do aborto lucra com a prática nos EUA| Foto: Reprodução/ Cartaz

Entrevista

"Quando se salva um bebê, as clínicas perdem dinheiro nos EUA"

David Kyle, diretor do documentário Blood Money – Aborto Legalizado

Em Curitiba para divulgar o filme, David Kyle falou com a Gazeta do Povo. Motivado pela experiência familiar (a esposa dele teve um aborto), ele disse como a experiência dos Estados Unidos com o aborto legalizado pode servir de alerta ao Brasil.

Por que resgatar as polêmicas em torno da legalização do aborto nos EUA?

Porque é uma história cheia de contradições. Os defensores do aborto mentiram sobre os números de abortos e mortes por aborto quando foram à Suprema Corte do meu país, e acabaram convencendo os juízes a legalizar a prática. Acho, aliás, que é uma história muito útil ao Brasil, porque estimula as pessoas a buscarem o que é verdade e o que é mentira nessa discussão.

O documentário mostra uma relação entre aborto e racismo que é pouco conhecida no Brasil. Pode falar mais sobre isso?

A questão do racismo não estava nos planos iniciais, mas após uma conversa com Alveda King, sobrinha de Martin Luther King e apresentadora do filme, achamos que não podíamos deixar esse problema de fora. As pessoas precisam conhecer o impacto que o aborto tem na comunidade afro-americana, reduzindo-a cada vez mais. O número de abortos em comunidades negras nos Estados Unidos é tão grande que se assemelha uma espécie de genocídio.

Por que o lucro elevado das clínicas de aborto é um problema?

Essas clínicas lucram muito porque não dão à mulher outras opções, como a adoção. Não há nenhuma preocupação humanista ali. Quando você mata bebês por dinheiro, você não se preocupa em evitar o aborto, porque quanto mais abortos fizer mais dinheiro vai ganhar. Para eles, quando você salva o bebê, você perde dinheiro.

Confira a íntegra da entrevista no Blog da Vida.

Origem duvidosa

Além da controvérsia quanto aos números sobre aborto ilegal, outro aspecto que leva organizações contrárias à prática a desacreditar a pesquisa da Organização Mundial da Saúde é o vínculo entre o Instituto Guttmacher e a Planned Parenthood, maior rede de clínicas de aborto nos Estados Unidos. O instituto foi criado pela organização em 1968 e, embora afirme em sua página na internet ser financeira e juridicamente independente desde 1977, mantém em sua missão corporativa a luta pelo "direito de escolher o aborto legal e seguro".

  • David Kyle, diretor do documentário

Um documentário que estreia nos cinemas brasileiros na próxima sexta-feira coloca em xeque um dos argumentos mais usados para a legalização do aborto mundo afora, incluindo o Brasil: o alto número de procedimentos clandestinos. A produção norte-americana Blood Money – Aborto Legalizado faz uma crítica contundente à legalização, mostrando como estatísticas questionáveis sobre a clandestinidade, produzidas por organizações que lucram com a venda de procedimentos abortivos, foram usadas para regularizar a prática nos EUA há 40 anos.

INFOGRÁFICO: Dados apontam queda de óbitos por aborto

Uma das entidades citadas no filme é o Instituto Guttmacher, que no ano passado divulgou uma pesquisa em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O estudo Aborto Induzido: Incidências e Tendências pelo Mundo de 1995 a 2008 alarmou as autoridades ao estimar em 4 milhões o número de abortos clandestinos na América Latina no período. Para especialistas, o problema desse levantamento é que ele foi feito com base em estimativas. Além disso, os números se referem a regiões do mundo e não a países individualmente.

Exagero

Depois da publicação, algumas instituições brasileiras chegaram a denunciar a ocorrência de 1 milhão de mortes maternas por complicações pós-aborto. Esse dado, porém, não encontra respaldo no Ministério da Saúde, que informou não saber mensurar a quantidade de óbitos por aborto clandestino no país.

Para o doutor em Ciências Biomédicas Elard Koch, autor de pesquisas envolvendo mortalidade materna e aborto no Chile, há sérios problemas no relatório da OMS. Para ele, ao falar em 4 milhões de abortos ilegais no continente, o Instituto Guttmacher superestimou em até 18 vezes as estimativas mais plausíveis.

Num relatório de resposta à OMS, uma equipe de peritos liderada pelo cientista lamentou os métodos do estudo, baseados excessivamente em opiniões, e afirmou que os números estão além do empiricamente possível. "A metodologia desenvolvida parece inflar grosseiramente o número possível de abortos induzidos em países em desenvolvimento", afirma.

A publicação é tão controversa que até mesmo entidades feministas admitem que os números são imprecisos. "De fato, não foi 1 milhão de mortes e sim 1 milhão de abortos clandestinos, mas isso não faz com que o aborto criminalizado deixe de ser um problema muito grave, especialmente porque afeta mais as mulheres pobres, que fazem abortos em condições péssimas", argumenta Sônia Coelho, assistente social e representante da organização feminista Sempreviva.

No Brasil, os únicos dados disponíveis tratam do número de atendimentos e de morte por aborto (veja infográfico abaixo). O Ministério da Saúde faz a ressalva de que a quantidade de óbitos se refere a todas as formas de aborto, não diferenciando aborto induzido de aborto espontâneo.

Aborto legal não reduz mortes

O relatório da OMS vincula a mortalidade materna com legislações restritivas ao aborto, o que é condenado pelo médico Cícero Urban, professor de Bioética na Universidade Positivo. Para ele, não existe relação de causa e efeito nesse caso. "Isto [a morte de mães] é uma consequência da falta de acesso a medidas adequadas de planejamento familiar, ao baixo nível socioeconômico da população e à qualidade do atendimento de saúde existente nos países onde a legislação é restritiva", afirma.

A tese é confirmada pelo doutor Elard Koch. Um dos estudos que dirigiu mostra que no Chile, onde a legislação sobre aborto é mais restritiva do que a do Brasil, a mortalidade materna foi reduzida em 94% nos últimos 50 anos. "A legalização do aborto foi claramente desnecessária para reduzir as mortes maternas no Chile, pois são outros os fatores nos quais se deve intervir", afirma. Um estudo publicado em 2010 pela revista científica The Lancet apontou o Chile como o país com o menor índice de mortalidade materna em toda a América Latina.

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