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“Eu sabia do dia, mas meu trabalho não me permitiu deixar o carro em casa. Precisei fazer entregas em locais muito distantes, e de ônibus não dá para andar com as mercadorias.”
Everton  Marcelo Guedes, representante de laboratório | Fotos/ Daniel Castellano/Gazeta do Povo
“Eu sabia do dia, mas meu trabalho não me permitiu deixar o carro em casa. Precisei fazer entregas em locais muito distantes, e de ônibus não dá para andar com as mercadorias.” Everton Marcelo Guedes, representante de laboratório| Foto: Fotos/ Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Triste realidade

Mais carros que passageiros de ônibus

Gabriel Azevedo

Especialistas apontam que é impossível tirar os carros das ruas de Curitiba, enquanto o sistema de transporte público não for de qualidade e mais barato. Dados do Sindicato dos Trabalhadores em Urbanização do Estado do Paraná (SindiUrbano) mostram que, diariamente, 1 milhão de passageiros são transportados em ônibus. O número de carros é 20% maior, 1,2 milhão de veículos circulam pela cidade.

"Apesar do alto índice de motorização, nós também temos um alto índice de utilização do transporte coletivo", avalia Marcos Isfer, presidente da Urbs. Mesmo assim, a superlotação em alguns horários e o valor da tarifa afugentam os usuários. Segundo Isfer, o preço da passagem, de R$ 2,20, é resultado da tributação. "Precisamos de uma política séria de redução de impostos, principalmente do governo federal e estadual. Curitiba não pode ficar lutando sozinha, precisa da ajuda, da colaboração", diz.

Quem acordou ontem, no Dia Mundial sem Carro, com a esperança de ver menos automóveis nas ruas e mais gente usando ônibus e bicicleta se frustrou. Nas principais cidades do país, a sensação é de que a campanha não obteve a adesão dos motoristas e as vias continuaram congestionadas.Em São Paulo, a lentidão registrada ontem estava dentro da média diária – 73 km, ou 8,6% dos 868 km de vias monitoradas estavam congestionados às 9 horas, o maior pico do dia. Em Belo Horizonte, os mineiros praticamente ignoraram a recomendação de deixar o carro em casa e enfrentaram mais um dia de trânsito caótico. Em Curitiba não houve um balanço da adesão ao Dia Sem Carro, mas quem circulou pelo Centro não notou diferença no fluxo de veículos.

A psicóloga Iara Thielen, coordenadora do Núcleo de Psicologia do Trânsito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), conta que, ao passar pela Avenida Visconde de Guara­puava quando se dirigia ao trabalho, notou filas e congestionamento. Che­­gou até a presenciar um início de briga de trânsito. "A impressão é de que a adesão foi bem abaixo do esperado", opina.

De acordo com ela, a falta de conscientização das pessoas e a busca pelo conforto individual, em detrimento do bem comum, explicam o fato de os motoristas ignorarem a campanha. "A pessoa reclama do trânsito, mas não se dá conta que faz parte do problema. Muitos pensam: ‘Que bom que existe um dia como esse, assim, muita gente vai deixar o carro na garagem’. A pessoa, no entanto, não deixa por achar que, para ela, o carro é imprescindível".

Embora o cidadão não enxergue que também é responsável pelo "estrangulamento" do trânsito, o po­­der público, por outro lado, não in­­veste suficientemente em outros mo­­dais. "O sistema público não atende a população. Esse não é um problema de hoje. Há muito tempo que o nosso transporte deixou de ser modelo. Além disso, não há políticas públicas focadas em outros modos de deslocamento, como a bicicleta", analisa Iara.

Surpresa

Muitos dos curitibanos que saíram de casa de carro ontem alegaram que não sabiam da data. "Só soube na hora do almoço, pela tevê", diz a florista Silvana Luciana Silva, de São José dos Pinhais. "Até sabia que o dia estava próximo, mas não que era hoje", comenta o economista Nelson Luiz Mingorance. Para o engenheiro civil e professor do Departamento de Transportes da UFPR, Eduardo Ratton, a falta de divulgação comprometeu o sucesso da campanha. "Mui­tas pessoas nem sabiam", opina.

O professor analisou como correta a decisão da prefeitura de não fechar ruas. Para Ratton, seria necessário haver maior planejamento para colocar mais ônibus à disposição da população e providenciar para que veículos com prioridade de locomoção, como ambulâncias, não fossem prejudicados. O especialista aponta que somente um sistema de transporte mais barato e eficiente convencerá a população a abrir mão do automóvel. "O sistema tem de ser subsidiado, pois é muito caro, e isso desestimula as pessoas. Se o trajeto for inferior a sete quilômetros, compensa mais ir de carro. É preciso pensar em alternativas".

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