
O apagão da noite de terça-feira mostra que a reação em cadeia é a principal fragilidade do Sistema Interligado Nacional (SIN), que transmite eletricidade das usinas até os locais de consumo. O Brasil tem a maior rede do mundo organizada nesse formato e a principal razão para isso é que a maior parte da geração de energia ocorre em hidrelétricas geralmente longe dos centros consumidores e com grande capacidade de produção. Seu maior mérito é reduzir sensivelmente o risco de escassez, já que todas as regiões podem contar com fornecimento de áreas distantes. Mas quando ocorre um problema no sistema, há o risco de ele se espalhar pelo país, como ocorreu agora.
"O SIN liga as fontes de produção e permite a redução de custo e o aumento da confiabilidade no fornecimento. O país tira vantagem das diferenças regionais dos regimes de chuva", explica Niromar Resende, engenheiro que por 26 anos trabalhou na área operacional da Copel e hoje é professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
No modelo brasileiro, o Operador Nacional do Sistema (ONS) pode escolher as usinas que fornecerão mais energia em determinada época do ano. Assim, quando chove no Sudeste e há seca no Sul, ele ordena que as hidrelétricas do Paraná produzam menos energia. O ONS também escolhe se o país usará energia térmica e em que proporção.
Segundo especialistas, o SIN é bastante confiável e não existe uma alternativa de curto prazo para substituí-lo, já que 75% da produção de eletricidade no país ainda é hidráulica. "A malha foi crescendo e se interligando, aumentando em capacidade e robustez. Há quem defenda sistemas descentralizados, com geração próxima ao consumo. Essa é uma possibilidade que tem de ser estudada, algo para o futuro, mas sem prejuízo ao sistema interligado", diz Cláudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil.
Como mostrou o apagão de terça-feira, o SIN tem limitações para lidar com variações súbitas de energia, em especial quando ocorrem em sua espinha dorsal, a transmissão de eletricidade de Itaipu para o Sudeste, feita por cinco linhas de transmissão. Hoje o sistema conta com uma capacidade total de produção de 89 mil megawatts (MW) e chega a usar mais de 60 mil MW nos horários de pico ou seja, ele tem uma boa margem de segurança na geração. Itaipu, com seus 14 mil MW de potência, manda até 25% da energia consumida no sistema, dependendo da época do ano.
"Se Itaipu sai do sistema de repente, é preciso que outras usinas rapidamente forneçam em seu lugar. E pelo efeito que vimos, não havia usinas de reserva suficientes para evitar o apagão", afirma Ewaldo Mehl, coordenador do curso de Engenharia Elétrica da UFPR.
Sem a energia de Itaipu, o sistema deveria ser capaz de "puxar" eletricidade de outras fontes. Se as usinas não dão conta, elas são desligadas automaticamente para evitar uma sobrecarga. É quando ocorre o "efeito dominó", que atingiu 18 estados.



