
Curitibano é frio. Curitibano é fechado. Curitibano é avesso às amizades. Essas afirmações representaram, durante muito tempo, uma verdade intocável sobre os hábitos curitibanos. No aniversário de 316 anos da cidade, no entanto, a pesquisa Retrato da Grande Curitiba, encomendada pela Gazeta do Povo e feita pelo Instituto Ethos, mostra que 51% de seus habitantes são de outros municípios.
A constatação leva a um questionamento: Curitiba carrega então uma espécie de atmosfera que transforma todos os habitantes em seres frios, fechados e distantes, ou a "frieza curitibana" virou mito? Para especialistas e pessoas "de fora", a "antipatia" não está no rol de comportamentos curitibanos, mas essas afirmações continuam a ser disseminadas, ecoando pelo Brasil.
Contrariando o dogma, os habitantes da cidade acolheram e acolhem "estrangeiros" de forma amigável, conforme a fonoaudióloga paulista Milena Siqueira Aoki, o volante baiano do Paraná Clube Edimar, o ferramenteiro gaúcho Heitor Dill Silva e o escritor carioca José Castello. Eles adotaram uma cidade que escolheram para chamar de sua (ver ao lado).
Para o professor de Antropologia Cultural da Universidade Federal do Paraná, Carlos Alberto Balhana, existe razão histórica para que os habitantes de Curitiba tivessem comportamento "tímido". Na opinião do antropólogo, timidez pode ter sido confundida com frieza, o que disseminou o mito. "Durante muito tempo, até a Emancipação, em 1853, o Paraná foi parte do território de São Paulo. Também sofria influência dos gaúchos. E, mesmo depois de se separar de São Paulo, a cidade mais importante do estado, na época, era Paranaguá. Por essa razão, os curitibanos eram mais tímidos, submissos", explica Balhana.
Nas culturas formadoras da população paranaense, pelo contrário, apenas a alemã é mais fleumática. "No início, havia a participação de três povos alegres: negros, índios e portugueses. Com a chegada dos imigrantes, vieram italianos e poloneses, geralmente festeiros, e os alemães, com seu controle emocional", aponta o antropólogo.
Nascido em Nova Trento (SC), o cartunista, escritor e cronista Dante Mendonça defende que a autoestima dos curitibanos cresceu na medida em que as belezas da cidade foram criadas. "Curitiba era uma bela adormecida. Ela acordou depois de receber um beijo dos urbanistas na revolução urbana de 1970. As belezas da cidade foram criadas pela administração, como os Parques Barigui, Tingui e São Lourenço", afirma.



