
Lembra das primeiras garrafas plásticas de refrigerante que surgiram no Brasil? Eram aquelas com o fundo preto que tinha função de dar equilíbrio para a embalagem que não parava em pé, porque o corpo tinha formato cilíndrico. Ela começou a circular no fim da década de 80 e deixou de ser comercializada por volta de 1997. Era um mau exemplo, porque não tinha nada de ecológico: o fundo era feito de polipropileno, que ficava fixado ao corpo da garrafa com cola, dificultando o processo de reciclagem. É verdade que pouco se falava, naquela época, sobre embalagens sustentáveis. Mas se essas garrafas ainda estivessem no mercado, provavelmente hoje seriam as inimigas número um do meio ambiente.
É curioso notar a evolução das garrafas PET no mundo. A tecnologia deu a elas formatos mais sofisticados e as tornou sustentáveis: o primeiro avanço foi trocar o fundo preto pelo petalóide (em formato de flor). A partir daí, feita de um único material, a garrafa ficou mais viável para a reciclagem. Mas não é só isso. O porta-voz da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), Hermes Contesini, lembra que a partir do momento em que as embalagens ficaram mais parecidas e quase todas transparentes, o produto usado começou a valer mais para as cooperativas. "Hoje temos basicamente o transparente e o verde claro. Para o catador, é mais fácil identificar o que é viável e o que não é. Quanto mais homogêneo for o fardo de garrafas prensadas, mais ele vale no mercado", diz.
No ano passado, das 432 mil toneladas de PET produzidas no Brasil, 231 mil foram recicladas, ou seja, 53%. A taxa ainda é muito baixa se comparada às latas de alumínio, que já têm 96% do total produzido reciclado. Para Contesini, o principal problema ainda está na separação adequada do lixo. "É inacreditável, mas faltam garrafas PET nas cooperativas. Poderíamos ter 80% do produto reciclado: essa diferença está indo para o lixo comum, porque as pessoas não sabem dar o destino certo a elas", explica.
Algumas redes de supermercado criaram a estação de reciclagem para que as pessoas depositem as garrafas. Há ainda indústrias que patrocinam a coleta pós-consumo como uma maneira de responder pelo que elas mesmo produzem. Ainda assim, outras atitudes estão sendo tomadas para melhorar a relação PET e meio ambiente. Segundo Maurício Bacellar, gerente de relações institucionais da Coca-Cola Brasil, a meta é desenvolver embalagens atrativas ao consumidor, mas que também usem a mínima quantidade de produtos (plástico) e energia. Para se ter uma idéia, há três anos a garrafa PET de dois litros reduziu o peso de 58 gramas para 48 gramas. Ou seja, para cada 1 milhão de garrafas produzidas, menos 10 toneladas de resina são usadas, o que equivale a menos 75 toneladas de CO2 no meio ambiente.
Uma outra novidade deve ser lançada ainda em dezembro pela Spaipa Indústria Brasileira de Bebidas Coca-Cola, no Paraná. É a minitampa, que perderá dois gramas de peso. Parece pouco, mas não é. O local onde fica a rosca da garrafa é o que mais recebe plástico, porque precisa ser resistente. Com a redução no tamanho da tampa (ficará mais baixa), serão usadas menos 2 toneladas de resina para cada 1 milhão de tampas, uma redução de 15 toneladas de CO2. "Do ponto de vista técnico, a minitampa já foi aprovada porque é eficiente na vedação. Mas é uma tecnologia nova, precisa de maquinário para que a produção aconteça. Estamos quase lá", diz o superintendente de indústria e de logística da Spaipa, Mario Veronezi.
Ele lembra de um outro processo que promete revolucionar o ciclo de vida da PET. É o bottle-to-bottle (garrafa por garrafa), ou o uso da resina da embalagem antiga para fazer uma nova. A expectativa é de que 10% da garrafa nova seja feita da resina da antiga. De acordo com Bacellar, o processo já foi autorizado e está em fase de homologação com a Agência de Vigilância Sanitária. "A expectativa é de que o índice de reciclagem pule de 53% para 60% graças ao bottle-to-bottle", comenta. A primeira fábrica que será montada no Brasil com esse sistema deve gerir 25 mil toneladas por ano. Outra promessa a longo prazo deve revolucionar o modo de embalar refrigerantes: é o plástico vegetal, feito à base de plantas. Um solução que, no momento, ainda está no sonho dos ambientalistas.
A repórter viajou a São Paulo para o workshop Coca-Cola a convite da Spaipa.



