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Requião diz que imprensa faz propaganda de violência no PR

A imprensa foi mais uma vez apontada pelo governador Roberto Requião como responsável pelo aumento da violência policial no Paraná.

Ao comentar o assunto, Requião inicialmente fez uma analogia do aumento dos casos envolvendo policiais com as novas armas usadas pela polícia. "Eu acho que pode haver alguma relação. As armas com o número maior de projéteis, 16, pode estimular um pouco o uso das armas", disse.

Mas logo em seguida o alvo foi a imprensa. "Mas acho que não é isso não. É essa propaganda toda de violência no Paraná feita pela imprensa", diz.

O trâmite de um Inquérito Policial Militar (IPM)

Quando a Polícia Militar (PM) suspeita de uma ação policial, como na morte do trabalhador rural, Deiviti Maicon dos Santos, de 19 anos, o pedreiro Edson Elias dos Santos e do carregador Felipe Osvaldo da Guarda dos Santos, é aberto um Inquérito Policial Militar (IPM).

Este IPM funciona como um inquérito policial que aponta ou não indícios de crime - neste caso crime militar. Quando ele é finalizado, a PM encaminha para a Vara de Auditoria de Justiça Militar a conclusão deste inquérito.

O IPM é recebido então pelo juiz que encaminha para um promotor, que por sua vez analisa o procedimento. Caberá a ele oferecer ou não a denúncia ao juiz da auditoria da Justiça Militar.

Se houver elementos que comprovem o crime, o juiz recebe a denúncia e os policiais suspeitos passam a responder criminalmente pelas acusações. Se for condenado, é instaurado um Conselho de Disciplina da PM que avalia e decide pela exclusão dos policiais do quadro geral da PM.

Mesmo depois de expulsos da PM, os policiais ainda têm uma chance: recorrer ao governador que pode ou não referendar a decisão do Conselho de Disciplina da PM.

A morte do trabalhador rural Deiviti Maicon dos Santos, de 19 anos, após uma ação de uma equipe da Rone (Rondas Ostensivas de Natureza Especiais) em Colombo, região metropolitana de Curitiba, chamou novamente a atenção da população paranaense sobre os sucessivos casos de violência policial no Paraná.

O governador Roberto Requião (PMDB) reconheceu nesta terça-feira que a criminalidade e a violência da polícia aumentaram no estado e pediu mais rigor da Secretaria da Segurança Pública (Sesp-PR) nas investigações. "Estamos num crescimento de casos de violência da polícia em relação aos anos anteriores enorme. A criminalidade cresceu também, mas a violência da polícia é insuportável no Paraná", desabafou.

Durante a reunião semanal do secretariado, conhecida como "Escolinha de Governo", Requião pediu para o secretário da segurança, Luiz Fernando Delazari, que os possíveis abusos de autoridade cometidos pela Polícia Militar sejam solucionados e se houve culpados, no caso de Colombo, que sejam punidos. Segundo o governador, a violência policial chegou a um "nível insuportável".

A Sesp divulgou uma nota no início da noite desta terça, onde diz que o secretário Luiz Fernando Delazari, determinou ao comando-geral da Polícia Militar, que coloque oficiais nas ruas para acompanhar de perto o trabalho da tropa. "A postura da secretaria é de cobrança constante contra esse tipo de postura. Afastamos os maus policiais, instauramos procedimentos e agora vamos acompanhá-los até o final, aguardando a punição", disse Delazari.

A secretaria, no entanto, não soube informar a quantas anda, em especial, dois procedimentos instaurados pela PM no início deste ano que tiveram grande repercussão: as mortes do pedreiro Edson Elias dos Santos e do carregador Felipe Osvaldo da Guarda dos Santos, no Largo da Ordem e no Umbará, respectivamente, em Curitiba. Os dois morreram num suposto confronto com a polícia.

O próprio governador Requião chegou a dizer, na época, que a morte do carregador foi "claramente um fuzilamento" e comparou a ação dos policiais militares do Paraná na ação a um "esquadrão da morte". A assessoria da secretaria de Segurança informou que a PM ainda está fazendo um levantamento sobre o andamento das investigações nestes dois casos.

Durante a escolinha, Requião declarou que não queria "nem falar em números estatísticos porque não queria trasformar isso num programa de pânico" - citando casos em que policiais são acusados de usar da violência. Apesar destes números, não revelados por Requião, o governador voltou a dizer que a Polícia do Paraná, tanto a Civil quanto a Militar, é a melhor do Brasil e cobrou "jogo duro" do comandante-geral da Polícia Militar, coronel Xavier França, contra os abusos dos policiais.

Morte em Colombo

O trabalhador rural Deiviti Maicon dos Santos, 19 anos, foi morto com um tiro nas costas disparado por uma equipe da Rone, quando voltava da Festa do Vinho de Colombo na madrugada de domingo (15). Na versão policial, Deiviti, que estava na garupa da moto do primo Tiago Luiz Machado, teria reagido a abordagem policial e atirado contra a equipe da Rone. A prova da polícia seria uma pistola Taurus 380 apreendida durante a ação. A arma, que supostamente seria da vítima, será examinada por peritos. As mãos de Deiviti também serão examinadas para saber se ele efetuou o disparo - como diz a versão da polícia.

Do outro lado, a versão é rebatida pela família do trabalhador morto. "O meu filho contou que eles voltavam da festa e passaram por uma viatura da Rone, que estava com a luz apagada e o giroflex desligado. Os policiais atiraram após a passagem e Deiviti caiu. Em seguida, meu filho parou a moto para socorrê-lo e levou um tiro de raspão no braço", disse Odinéia Machado, mãe de Tiago Luiz Machado.

O caso está sendo investigado por um Inquérito Policial Militar (IPM) - aberto na segunda-feira (16). Os três policiais foram afastados do trabalho de rua. Paralelamente, foi aberto um inquérito na Delegacia de Polícia Civil de Colombo.

Outros casos

Não é a primeira vez que a PM do Paraná é envolvida em casos de possíveis abusos de autoridade. No começo do ano duas ocorrências também ganharam notoriedade na imprensa. Em fevereiro, no sábado de Carnaval, o pedreiro Édson Elias dos Santos, de 28 anos, foi morto com oito tiros - seis nas costas e dois na região do abdome, por policiais militares. A morte aconteceu no Largo da Ordem, em Curitiba.

Na versão oficial da PM, os policiais foram chamados para atender uma suspeita de roubo de carro e na abordagem, Santos teria reagido e atirado contra os policiais. Testemunhas disseram o contrário e garantiram que o homem não estava nem armado.

No fim do mês de fevereiro, o carregador Felipe Osvaldo da Guarda dos Santos, de 19 anos, foi morto com 30 tiros por policiais militares das Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam). Segundo a versão da família o rapaz foi executado pelos policiais, mas a PM teria dito que foi recebida a tiros ao identificar que o carro em que Santos estava – que era da sua mãe – seria furtado.

As versões para este caso também se mostraram confusas. A polêmica aumentou ainda mais quando o governador, Roberto Requião, deu entrevistas dizendo que a morte do rapaz foi "claramente um fuzilamento" e comparou a ação dos policiais a um tipo de "esquadrão da morte". Requião levantou suspeitas em relação a todo o caso e pediu providências imediatas ao comandante da PM, Nemésio Xavier, e ao secretário da Segurança, Luiz Fernando Delazari.

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