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Liberdade de expressão

Governo “cozinha” nova lei sobre protestos

Projeto conduzido pelo ministro da Justiça para conter as manifestações violentas pode sair só depois da Copa do Mundo

Protesto em outubro de 2013, no Rio, teve blacks blocs, atuais vilões das manifestações | Ricardo Moraes/Reuters
Protesto em outubro de 2013, no Rio, teve blacks blocs, atuais vilões das manifestações (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)

O governo federal decidiu realizar consultas informais com juristas, especialistas em Segurança Pública e líderes partidários antes de fechar o projeto de lei para coibir a violência em manifestações. O diálogo tem sido conduzido, desde sexta-feira, pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A proposta vai abordar a criação de regras para o uso de máscaras em protestos, o agravamento de penas para atos de vandalismo e a proibição da apreensão de câmeras pela polícia.

A estratégia atrasou os planos iniciais do governo e pode fazer com que o texto não seja aprovado até o início da Copa do Mundo, dia 12 de junho.

Até ontem, Cardozo já havia conversado com advogados, representantes do PCdoB e da Secretaria-Geral da Presidência, órgão do governo que faz a interlocução com movimentos sociais. As ideias iniciais divulgadas sobre a regulamentação das manifestações provocaram reações até de setores do PT. O medo é de "criminalização" de ações feitas por entidades como o Movimento Sem-Terra.

A assessoria do Ministério da Justiça informou que todas as alterações legais serão balizadas por dois incisos do artigo 5.º da Constituição. O 3.º diz que "é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato". O 16.º estabelece que "todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização" e exige "prévio aviso à autoridade competente".

Até agora, a principal polêmica é quanto ao uso de máscaras por manifestantes. Depois de estudar a proibição, o governo deve flexibilizar a proposta, apenas esclarecendo que a autoridade policial pode determinar que o manifestante se identifique, mas somente em casos com risco de violência.

"Quando a Constituição fala em vedação ao anonimato trata de outras situações, como quando alguém escreve um texto para difamar outra pessoa. A meu ver, o texto constitucional garante ao cidadão que se reúna pacificamente, mesmo mascarado", avalia o juiz federal e professor de Processo Penal da UFPR, Sérgio Moro.

Em relação ao agravamento de penas, a proposta se choca com a última reforma do Código Penal, de 2011, que proibiu a prisão preventiva para crimes considerados "leves", com pena menor ou igual a quatro anos de prisão. A norma se encaixa nas penas para depredação de patrimônio privado (um a seis meses) e público (seis meses a três anos).

"Quem é apanhado depredando até vai para a delegacia para que seja lavrado o flagrante, mas não pode ficar preso. Há casos em que a lei aprovada em 2011 talvez tenha ido um pouco longe demais", diz o magistrado.

Crise política na base aliada afeta votação do projeto

Em crise com partidos da base aliada puxados pelo PMDB desde o início do ano, o governo deve enfrentar dificuldades para conseguir emplacar o projeto de lei sobre as manifestações na Câmara dos Deputados. A pauta do plenário está trancada desde o ano passado pela proposta que estabelece o marco civil da internet – outro tema considerado prioritário pela presidente Dilma Rousseff."Do jeito que as coisas estão, qualquer texto que seja de autoria do governo ter problemas", admite o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR). Projetos de autoria do Poder Executivo precisam primeiro da aprovação dos deputados para depois seguir para o Senado. O Ministério da Justiça já adiantou que a proposta sobre as manifestações terá urgência constitucional, o que pode agilizar a tramitação.Além das dificuldades de negociação política, o tema não é uma novidade no Congresso. Doze projetos do gênero estão em tramitação na Câmara e foram transformadas em um substitutivo pelo deputado Efraim Filho (DEM-PB). O texto também prevê o aumento da pena para danos ao patrimônio provocados em protestos.

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