Pessoas que tiveram relações sexuais desprotegidas poderão tomar medicamentos antirretrovirais como método de prevenção contra o HIV. A medida consta de documento lançado ontem pelo Ministério da Saúde, chamado Consenso Terapêutico. Até agora, o uso preventivo dos medicamentos só era indicado em casos de violência sexual ou a profissionais de saúde que tiveram contato com sangue de soropositivo.
Segundo Ronaldo Hallal, assessor do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e Aids do ministério, a medida só deve ser adotada em casos excepcionais. Ele disse que o método de prevenção mais adequado ainda é o preservativo, único que previne 100% o risco de transmissão. Além disso, os medicamentos têm uma série de efeitos colaterais.
Para ter acesso aos antirretrovirais como forma de prevenção, a pessoa deve procurar um dos 700 centros de referência no tratamento de HIV e aids em até 72 horas após a relação sexual desprotegida o ideal é que sejam duas horas depois. O tratamento dura 28 dias.
O infectologista Juvêncio Furtado, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, diz que aprova a medida, mas afirma que é preciso tomar muito cuidado para que não ocorra uma banalização e para que ela não provoque um relaxamento no uso da camisinha.
Segundo o presidente do Grupo Amigos (de apoio a pessoas com aids, em Curitiba), Douglas Miranda, a medida é positiva. Porém, ele também acredita que o uso do antirretroviral deve ser feito em casos excepcionais. "É um recurso a mais para a população, acaba sendo uma oportunidade para quem pode ter sido infectado. Ao mesmo tempo, não pode deixar o cuidado de lado. A população deve ser sempre alertada sobre o uso de preservativo nas relações sexuais."
Outras medidas
O Consenso Terapêutico também traz orientações para casais com pelo menos um portador do HIV que querem ter filhos. Há indicações de reprodução assistida e de como reduzir ao máximo as chances de transmissão nos casos em que o casal quiser que a gravidez seja natural. "Essa medida é importante. Boa parte das pessoas infectadas está na fase reprodutiva. Negar a maternidade não é mesmo a melhor saída. Concordo com o uso pelos casais, desde que haja um planejamento familiar e que a gravidez seja pensada de maneira responsável", diz a médica infectologista da Coordenação Municipal DST/Aids de Curitiba, Maria Esther Graf.
Manual infantil
A Secretaria de Saúde de São Paulo vai lançar nesta semana uma cartilha e um jogo pedagógico que ensinam como falar com os pacientes infantis que contraíram o vírus HIV da própria mãe. O material será distribuído nos serviços de saúde do estado especializados no atendimento a pacientes soropositivos. De forma simples e direta, o manual orienta sobre o melhor momento de revelar o diagnóstico para os pequenos, quais são as implicações do "contar ou não contar sobre aids" e ainda propõe um "jogo do diagnóstico".
Segundo a Secretaria, atualmente, no estado de São Paulo, 78% dos menores de 13 anos que convivem com o HIV foram expostos ao vírus da aids na gravidez da mãe ou na amamentação.



