
O governo federal anunciou na noite desta sexta-feira (14) que liberou R$ 100 milhões para cidades atingidas por chuvas no Rio de Janeiro. Metade desse valor será liberado na segunda-feira (17). (confira quais são as medidas e a distribuição desse valor entre as cidades). Esse já é o maior auxílio financeiro para a região serrana que registra pelo terceiro dia de buscas um aumento no número das vítimas. Ao todo, já são 548 mortos, segundo as prefeituras e o Corpo de Bombeiros de Itaipava. Além disso, subiu para cinco o número de cidades com registro de mortes.
Para prejudicar o trabalho de resgate de vítimas voltou a chover forte em Teresópolis e Itaipava, localizada em Petrópolis. Segundo os últimos levantamentos de mortos, seriam 247 óbitos em Nova Friburgo, 238 em Teresópolis, 18 em Sumidouro (o prefeito havia informado anteriormente 20 óbitos, mas corrigiu a informação), 43 em Petrópolis e 2 em São José do Vale do Rio Preto.
Já a Polícia Civil informou que quatro corpos foram resgatados em São José do Vale do Rio Preto, 242 em Nova Friburgo, 228 em Teresópolis, 41 em Petrópolis e 19 em Sumidouro, o que corresponde a um total de 534 mortos.
Enquanto isso, o número de desabrigados e desalojados na região serrana já chega a 19.430. Em Teresópolis já são 1.200 desabrigados e 1.300 desalojados. Em Nova Friburgo, seis abrigos alojam 414 famílias. Na cidade são registradas 1.500 pessoas desabrigadas. Em Petrópolis, o total de mortos já chega a 1.500. No total, nesta sexta foram confirmadas 5.500 famílias desabrigadas e desalojadas.
Nesta manhã, 225 homens da Força Nacional de Segurança chegaram à Região Serrana do Rio de Janeiro. Eles vão auxiliar nas buscas por vítimas e na manutenção da ordem pública nas áreas atingidas pelos temporais no estado, principalmente em Teresópolis.
Na quarta-feira, o Exército enviou 400 homens, 30 veículos, 2 retroescavadeiras, 2 carregadeiras, 1 gerador, 1 torre de iluminação e 6 helicópteros.
Nova Friburgo
A prefeitura de Nova Friburgo disponibilizou num blog, informações sobre a trágedia causada pelas chuvas no município. No blog há uma lista parcial com o nome dos mortos na cidade, assim como também listas com as pessoas que estão em abrigos da prefeitura. O número de mortos no município passa de 200, e na Região Serrana, um balanço mostra que já são mais de 500 mortes desde terça-feira (11).
O tenente Rubens Halfeld Plácido, do Corpo de Bombeiros em Nova Friburgo informou à Reuters que "o número de mortes ainda vai aumentar. Há gente soterrada em todos os lugares, há muito barro, água e lama. Aqui em Nova Friburgo poquíssimos bairros não foram atingidos."
Durante a manhã, moradores correram assustados pelas ruas da cidade após um falso boato do rompimento de barragem. A falsa notícia deixou em pânico centenas de pessoas que passavam pelo Centro da cidade. Segundo informações de equipes de resgate, a queda de uma caixa d'água assustou os moradores.
De acordo com autoridades, há duas represas na região mas, mesmo que elas se rompam, a água não chegará à cidade. Nas ruas do Centro de Friburgo, alguns motoristas assustados abandonaram seus carros, outros voltaram na contramão. Este boato também afetou o funcionamento do pedágio da RJ-11. Funcionários da Concessionária Rota 116 fecharam cabines, antes da entrada de Nova Friburgo, alegando que havia estourado uma represa. No entanto, funcionários da Defesa Civil Estadual disseram que a informação era falsa e pediram para reabrirem a passagem.
Nesta sexta, mais um Hospital de Campanha do Corpo de Bombeiros foi montado em Nova Friburgo. Com o hospital de campanha da Marinha que já funcionava, passam a ser dois na região.
Teresópolis
Em Teresópolis, o policiamento foi reforçado após o registro de saques. Uma testemunha contou que policiais armados perseguiram homens suspeitos de assaltarem lojas no centro da cidade, levando pânico aos comerciantes.
Várias lojas fecharam as portas após relatos de um arrastão em diferentes pontos da região central da cidade, segundo o bancário Rapahel Lipowicz.
De acordo com informações da assessoria de comunicação da prefeitura, foram registrados nesta manhã dois assaltos a lojas do Centro, próximas à Calçada da Fama, a mais importante área de comércio da cidade.
No bairro de Campo Grande, onde a prefeitura de Teresópolis acredita que ao menos 150 casas foram soterradas pelo deslizamento de pedras e lama, as equipes de resgate ainda encontram dificuldades para localizar as vítimas. As casas foram cobertas por ao menos três metros de lama, segundo autoridades municipais. A comunidade de cerca de 5 mil habitantes foi uma das mais atingidas pelas enchentes e deslizamentos.
A moradora Lourdes Rocha da Silva, de 51 anos, disse à Reuters que "havia tantas pessoas gritando por ajuda e morrendo, mas não podíamos fazer nada. Estava escuro."
Lourdes conseguiu subir no telhado com o marido, a filha e netos enquanto água e lama inundavam sua casa, que estava na beira da área mais atingida.
Ela afirmou que pessoas construíram muito perto de um riacho que corta a cidade. Atribui-se à construção ilegal em áreas de risco o alto número de mortes. "Este é um desastre natural, mas as pessoas pioraram as coisas ao apertar o rio. Eles construíam ali porque não tinham outro lugar para morar", concluiu.
"A chance de encontrar sobreviventes é zero", disse Leandro Vabo, chefe da equipe médica que atua no bairo. Segundo ele, o número de desaparecidos é muito grande e a conta de mortos vai aumentar. "Quando eles escavarem essas casas, haverá apenas ossos", completou.
O cenário de tragédia se espalhou por diferentes pontos da cidade. No distrito rural de Santa Rita, em Teresópolis, que ficou isolado após a queda de uma ponte, moradores relataram ter visto dezenas de mortos que ainda não foram resgatados.
"Você anda por Santa Rita e vê corpos agarrados nas cercas de arame farpado. Tem corpo de crianças na beira da estrada, já está até cheirando mal", contou por telefone à Reuters o pastor evangélico Carlos Cardoso, que está ajudando a retirar desabrigados e feridos da localidade com cerca de 400 habitantes.
O prefeito de Teresópolis, Jorge Mário Sedlacek, anunciou nesta sexta-feira que a reconstrução da cidade custará mais de R$ 500 milhões.
Petrópolis
Em Petrópolis, equipes de resgate trabalham para conseguir acessar uma localidade isolada, conhecida como Ponto Final, no Vale do Cuiabá, em Itaipava. Há notícias de que lá há 22 pessoas desaparecidas. Para o trabalho, serão utilizados três retroescavadeiras e 60 caminhões.
Segundo o prefeito Paulo Mustrangi Mustrangi, a Coordenação de Ação Emergencial de Petrópolis montou uma Central de Desaparecidos para poder obter informações seguras sobre as vítimas da tragédia.
"Dessa forma, poderemos ouvir parentes e pessoas mais chegadas às famílias, que tenham a convicção de que alguma pessoa está desaparecida", ressaltou o prefeito. "Com a ajuda da família, será mais seguro identificar a localização das casas desaparecidas e das próprias pessoas, e, a partir daí, mobilizar equipes para uma operação de resgate", complementou Mustrangi.
O prefeito informou que aguarda o governador Sérgio Cabral para percorrer os lugares mais afetados pelas chuvas em Itaipava, distrito de Petrópolis.
Dificuldade no resgate
"Estamos tendo muitos problemas, porque a água da chuva trouxe uma massa de terra enorme, vegetação, lixo e restos de casas. Temos dificuldades para acessar muitas áreas mesmo 72 horas depois do ocorrido", disse à Reuters o superintendente operacional da Defesa Civil Estadual, Luís Guilherme Santos.
Por telefone, o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, disse que "os helicópteros às vezes por serem de grande porte não conseguem aterrissar em um local seguro.", e complementou que "por enquanto, em alguns locais, vamos usar rapel (de helicóptero) para socorrer as pessoas e levar mantimentos e água."
De acordo com homens envolvidos nas ações, a infraestrutura dos municípios é muito deficiente. "Se não fosse a ajuda do corporação estadual a tragédia seria muito maior. Aqui não tem nada, nem uma lanterna para trabalhar ou uma corda", ressaltou um bombeiro, que pediu anonimato.
Custo de alimentos
Moradores da cidade contaram à Reuters que o custo de alimentos e de água aumentou em decorrência da escassez. Alguns foram informados pela Cedade que ficarão até cinco dias sem abastecimento de água devido à contaminação da rede.
"Um galão de água está custando 40 reais", disse um morador, quase quatro vezes o preço normalmente cobrado.
Em Nova Friburgo, a população pegava alimentos contaminados pela chuva e descartados por supermercados e mercearias.
A falta de vagas em cemitérios começava a preocupar as autoridades e, em Teresópolis, uma igreja era usada para armazenar cadáveres após a capacidade do Instituto Médico Legal local ser esgotada.
Estradas e energia
Estradas voltaram a ser interditadas na Região Serrana. Na RJ-116, o tráfego voltou a ser fechado no Km 92, devido a uma queda de barreira no Vale do Tainá, em Nova Friburgo. A BR-495, que liga Petrópolis a Teresópolis, está interditada no Km 20, em Itaipava. Uma ponte caiu no Km 102 e o tráfego segue no sistema pare e siga nos Kms 75 e 74.
A Ampla, concessionária de energia da região serrana, informa que a luz já voltou para 91 mil clientes na região serrana atingidos pela chuva e por deslizamentos de terra esta semana. Algumas áreas, no entanto, ainda estão sem acesso para que as equipes de emergência da companhia possam normalizar o fornecimento de energia.Confira os locais mais atingidos pela tragédia:
Veja na galeria as fotos da tragédia:



