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Wellington Oliveira Santos: ônibus lotados e tempo roubado da família | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
Wellington Oliveira Santos: ônibus lotados e tempo roubado da família| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Passageiros

Usuário vê seu tempo ser roubado

No Terminal do Guadalupe, onde desemboca boa parte dos ônibus metropolitanos, nota-se que a maior parte das pessoas leva mais de uma hora para chegar em casa ao sair do trabalho – levando em conta o tempo de espera até o coletivo chegar. Esse é o critério usado pelo estudo do Observatório das Metrópoles para avaliar as condições de mobilidade entre capital e região metropolitana.

A situação acontece mesmo nas cidades limítrofes à capital, como Colombo.

Wellington Oliveira Santos, de 28 anos, trabalha na carga e descarga de caminhões. Sai às 6 horas de casa para entrar às 7h30 no trabalho com o ônibus Curitiba-Campina Grande do Sul. "É muito cheio e demorado. Isso cansa e estressa demais", reclama. Se o transporte fosse mais veloz, Santos diz que usaria o tempo "extra" para brincar com o filho de 3 anos.

A cabeleireira Rosa dos Santos, de 42 anos, usa com frequência o ônibus Curitiba-Quatro Barras. "Uma hora e meia de deslocamento é muita coisa. O tempo de descanso é roubado pelo trânsito", diz. O segredo para diminuir o cansaço é estar atento à tabela de horários. "Eles param de hora em hora. Tem que prestar atenção", afirma.

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Um estudo elaborado pelo Observatório das Metrópoles mostra que a falta de investimento em mobilidade comprometeu um salto de qualidade de vida de dez cidades polos e de suas regiões metropolitanas entre 2001 e 2009 (veja infográfico nesta página). Criado para comparar as localidades, o Índice de Bem-Estar Urbano (Ibeu) avalia o acesso aos serviços básicos (água, saneamento e coleta de lixo), as condições de habitação (população vivendo em favelas) e o tempo de deslocamento entre os municípios, baseado em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad).

Em nove anos, os serviços coletivos saltaram de 0,865 para 0,889 e a habitação pulou de 0,826 para 0,866, em um ranking que varia de 0 a 1. A mobilidade, por outro lado, caiu de 0,845 para 0,828. Pesqui­sador do Observatório das Metró­po­­les e um dos responsáveis pela pesquisa, o doutorando em Socio­logia pela UFRJ André Ricardo Salata argumenta que a análise dos dados não deve ser feita de forma isolada, mas usada como comparação entre regiões ou períodos. "Sozinho, o índice vai dizer pouco", diz. Nesse contexto, Curitiba tem a segunda melhor avaliação do Ibeu, atrás de Porto Alegre.

No próprio documento existe a constatação, porém, de que os dados deixam de medir variáveis importantes por se basear ex­­clu­­sivamente na Pnad. Critérios como educação, saúde e segurança não são avaliados pelo Ibeu, "entre outros aspectos de ordem subjetiva que também apresentam sua importância quando se trata de bem-estar", diz o texto da pesquisa.

Ainda assim, a falta da gestão integrada das regiões metropolitanas e a dificuldade para elaborar estatísticas tornam o levantamento relevante. "Criamos critérios para estabelecer o que é adequado à população", diz Salata.

Quanto à mobilidade, a linha de corte está no tempo de deslocamento de casa ao trabalho. Se ultrapassar 60 minutos, é inadequado. Um modelo de mobilidade baseado unicamente nos ônibus, disputando espaço com os carros, torna praticamente impossível os deslocamentos no prazo estipulado em Curitiba.

"O padrão continua sendo de superfície. Sou grande defensora do metrô, mas é muito difícil termos linhas de metrô variadas", afirma a professora do Depar­­tamento de Geografia da UFPR, Olga Firkowski, coordenadora do Núcleo Curitiba do Observatório das Metrópoles.

A professora de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá e coordenadora do Observatório das Metrópoles em Maringá, Ana Lúcia Rodrigues, tem opinião semelhante, alegando que falta dar prioridade ao transporte coletivo. "As pessoas optam pelo carro não só pelo preço, porque não é barato para mantê-lo. O sistema de transporte coletivo não assegura mobilidade que dê conta das necessidades dos usuários", afirma. Ana Lúcia observa a expansão das cidades da região metropolitana também como impedimento. "As moradias são levadas para áreas cada vez mais distantes", diz.

Polos

Baseado nos números, em oito das dez cidades avaliadas, a cidade polo oferece mais qualidade de vida do que a periferia – Salvador e São Paulo são exceções. Em Curitiba, a diferença se manteve nos últimos anos. Na maior parte dos outros casos, a região metropolitana se desenvolveu mais rápido do que as capitais, caso de Belém, Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife e Rio de Janeiro.

Ana Lúcia Rodrigues considera natural os polos oferecerem melhores condições a seus cidadãos. A fim de diminuir a diferença, ela sugere a divisão de investimentos e de serviços. "Eles concentram a maior parte das atividades econômicas quando não precisariam fazer isso", explica. "Se continuar concentrado o bônus do progresso, o ônus virá da mesma maneira."

Na avaliação de Olga Firkowski, Curitiba ilustra esse fenômeno. Um mapeamento realizado pela professora e estudantes constatou que a maior parte dos equipamentos de consumo e lazer estão em Curitiba e não na região metropolitana. "O shopping São José foi criado nos últimos anos, mas não há outros na região metropolitana. Como há a concentração de equipamentos de entretenimento, mesmo quem não vive em Curitiba, acaba gastando mais aqui", afirma.

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