
Uma prática cívica esquecida por muitas escolas voltou a ser incentivada pelo governo estadual. Uma instrução emitida em outubro pela Secretaria de Estado da Educação (Seed) pede que alunos, professores e equipes pedagógicas dos colégios da rede de ensino cantem o hino do estado e hasteiem a bandeira do Paraná ao menos uma vez por semana. A valorização dos símbolos oficiais é resgatada depois de quase 30 anos de distanciamento desse tipo de cerimônia, muito vinculada às imposições da ditadura militar.
O documento também lembra a necessidade de usar os símbolos do estado como objeto de estudo em sala de aula e o desenvolvimento do conteúdo da história do Paraná, e pede às equipes pedagógicas que promovam os "elementos formadores da cidadania paranaense".
Segundo a superintendente da Seed, Meroujy Cavet, a medida foi tomada depois que visitas aos núcleos de educação constataram que várias escolas haviam abandonado a prática, prevista desde 2003 pela Lei 14.257. Segundo ela, é possível trabalhar com os valores cívicos de forma interdisciplinar, aliando o patriotismo a tarefas lúdicas. Essa seria a razão pela qual a instrução enfatiza a necessidade da presença dos professores nas manifestações cívicas.
Embora afirmem que a exigência de cantar o hino não seja o suficiente para despertar valores patrióticos, analistas ouvidos pela reportagem reconhecem que a medida ajuda a desenvolver o sentimento dos estudantes de pertencer a uma nação ou a um estado. "Esse resgate é importante, mas só se torna patriota a partir de muitos debates e reflexões. Não depende só da escola, mas também da família e da própria sociedade", diz a professora Sílvia Iuan Lozza, coordenadora do curso de Pedagogia do FAE Centro Universitário.
Silvia também vê nos hinos, seja o do estado ou o nacional, uma ótima oportunidade de trabalhar a história, já que suas letras são cheias de referências a momentos importantes do Brasil e do Paraná. Abordar esses trechos como conteúdo é uma alternativa para que as turmas não cantem o hino apenas por obrigação, de forma mecânica, mas sim tendo ideia do que exatamente estão dizendo.
Ditadura
Para a professora Claudia Mara de Almeida, coordenadora de Pedagogia do Centro Universitário Uninter, nos primeiros anos da redemocratização, por repulsa ao autoritarismo do regime militar que obrigava o frequente hasteamento da bandeira e entoação do hino nacional, sob risco de punição , muitos professores abandonaram qualquer hábito que remetesse a valores patrióticos. Foram necessários vários anos para que um ponto se desvinculasse do outro. "Parece que agora há uma compreensão de que é possível tratar de civismo e valorizar os símbolos oficiais sem que isso esteja ligado necessariamente ao governo militar."



