Maria Joaquina Von Lasperg não freqüenta mais o colégio que ajudou a criar, o Gabriela Mistral. A professora de Educação Artística e por dois anos vice-diretora do Estadual Pedro Macedo, Laís Groff também não vai mais ao local onde passou seus melhores dias. "Ninguém me conhece por lá", desculpa-se. Quando se aposentou, no fim dos anos 80, Laís pegava o carro no fim da manhã e estacionava perto de uma das instituições de ensino próximas a sua casa, na região Água Verde Batel, só para observar a correria da saída, tamanha a falta que sentia do barulho dos alunos.
A escola brasileira sempre atropelada por inúmeras prioridades ainda engatinha quando o assunto é memória. Há quem tente acertar o passo com pesquisas de pós-graduação e iniciativas individuais pouco visíveis. Um professor ou um diretor que tenha atuado numa comunidade é testemunha privilegiada da história de um bairro e de uma cidade.
Uma veterana do ensino em Curitiba, Everly Canto, 56 anos, propôs à prefeitura um grande arrastão para resgatar 40 anos da Rede Municipal de Ensino, tendo como marcos cronológicos as primeiras escolas em comodato com o estado, em 1964, e o primeiro concurso para professores, em 1967. O projeto, intitulado "Memória Docente", foi aprovado e já está em andamento. Além dos educadores que estão gravando depoimentos para o programa, muitos voluntários têm mandado fotos, textos e livros para que a equipe de Everly organize.
Os trabalhos devem durar três anos e serão divididos em quatro fases (1964 a 1982; 1983 a 1998; 1994 a 2004; 2005 a 2008). Por ocasião do Dia do Professor, foram gravados depoimentos dos professores Sueli Seixas, Selma Braga e Frederico de Almeida Torres que nos anos 60 estiveram na direção das primeiras escolas do município. (JCF)



