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Ministro das Minas e Energia, Edison Lobão esteve ontem no olho do furacão. A oposição quer ouvi-lo para saber quais as explicações para o apagão | Ricardo Moraes/ Reuters
Ministro das Minas e Energia, Edison Lobão esteve ontem no olho do furacão. A oposição quer ouvi-lo para saber quais as explicações para o apagão| Foto: Ricardo Moraes/ Reuters

Apagão de 2001 deu prejuízo de R$ 54,2 bilhões

O apagão elétrico de 2001 custou R$ 54,2 bilhões, segundo auditoria do Tribunal de Contas da União finalizada em julho de 2001. Os usuários pagaram 60% desse total por meio de repasses tarifários. O restante foi pago pelo Tesouro Nacional que, na prática, repassou a despesa aos contribuintes.

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Oportunismo mostra pobreza do debate

O embate político que está sendo travado pela oposição e pelo go­­­­verno em torno do apagão é um sinal de que o debate eleitoral que já permeia o cenário sucessório de 2010 precisa ser mais qualificado. Para o cientista político Humberto Dantas, é preciso que as discussões deixem de se pautar apenas em tiroteios, críticas e ataques mútuos sobre eventos ocorridos. Já para o cientista político Marco Antônio Carvalho Tei­­xeira, o uso político do blecaute pela oposição é um sinal de que o PSDB, principal adversário político do PT, ainda não encontrou um discurso capaz de polarizar com o governo Lula.

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Guerra de palavras

PT e PSDB trocaram farpas ontem por causa do apagão. Veja as declarações de Serra e de Lula:

"Foi um fenômeno muito grave. Nunca no Brasil todas as turbinas de Itaipu tinham parado. Nunca quase metade da carga elétrica do país foi afetada. Falta investimento, falta manutenção na quantidade e na qualidade. São Paulo consome 60% da energia do país, mas não tem um centro operacional aqui."

José Serra, governador de São Paulo e candidato do PSDB à Presidência, colocando a culpa no governo do PT.

"Nós não tivemos (agora) falta de geração de energia. O que aconteceu em 2001 era que a gente não produzia energia suficiente. A gente ainda não tinha linha de transmissão para interligar todo o sistema elétrico. Hoje nós estamos com o sistema elétrico todo interligado."

Presidente Lula, dizendo que agora está tudo bem e que o problema só existia no governo do PSDB.

55 discursos...

...feitos pelo presidente Lula, desde a sua posse em 2003, continham críticas ao apagão ocorrido na era Fernando Henrique Cardoso. Durante a disputa pela reeleição, em 2006, ele bateu seu próprio recorde de discursos sobre o tema. Naquele ano, ele citou a palavra "apagão" em 15 discursos. A citação ocorreu no dia 30 de outubro deste ano, em um encontro nacional de empresários da construção civil, no Rio de Janeiro. "O planejamento público na área de infraestrutura estava abandonado em nosso país há mais de 30 anos", disse. "E a economia pagou um preço alto por esse equívoco estratégico, como ficou evidente no apagão de 2000 e 2001."

Brasília - O apagão da noite de terça-feira logo virou motivo de disputa política, lembrando um dos maiores incômodos vividos pela gestão Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Os blecautes de 2001 estiveram entre os principais argumentos que levaram à ascensão da oposição e de Lula ao Palácio do Planalto. Já a queda de energia de anteontem ocorreu no mesmo dia em que a candidata petista Dilma Rousseff subiu quatro pontos porcentuais nas intenções de voto para 2010.

De acordo com o instituto Vox Populi, a ministra da Casa Civil subiu de 15% para 19%, em relação à sondagem divulgada em outubro. O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), caiu de 40% para 36%. O apagão, porém, anulou qualquer comemoração explícita entre os governistas.

"O apagão de 2001 mexeu com a vida das pessoas, que tiveram de se adaptar às sobretaxas na tarifa de energia, à economia forçada. Isso teve um reflexo óbvio nas eleições do ano seguinte", lembra o cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília. Segundo ele, o problema foi usado pelo PT para apontar duas supostas fragilidades do governo do PSDB: a incapacidade administrativa e o fracasso das privatizações no setor.

Oito anos depois, também há motivos objetivos para ligar Dilma a uma suposta falta de competência do governo do PT na gestão do sistema elétrico nacional – caso seja comprovada a existência de um problema estrutural. Além de "mãe" do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ela foi ministra de Minas e Energia entre 2003 e 2005. Evitar novos blecautes sempre foi tratado como uma bandeira pessoal de Dilma.

No dia 29 de outubro, em entrevista durante o programa de rádio "Bom dia, ministro", Dilma garantiu que o país estava a salvo de um novo apagão. "Nós também temos uma outra certeza, que não vai ter apagão. É que nós hoje voltamos a fazer planejamento. Então, nós olhamos, qual é a necessidade que o Brasil tem de energia nos próximos cinco anos? Nós, ao olharmos isso, providenciamos as usinas que são necessárias para o Brasil, se crescer a quatro, se crescer a cinco, se crescer a seis por cento ao ano tenha essas usinas disponibilizadas. É assim que funciona", disse.

O temor de qualquer comparação entre os dois casos ficou evidente. Ainda na noite de terça-feira, o presidente nacional do PT, deputado federal Ricardo Berzoini (SP), qualificou como "aves de rapina" políticos da oposição e jornalistas que tentam fazer conexão entre os dois problemas. "Em 2001, vínhamos de um período de falta de investimento que resultou naquela situação bastante grave", afirmou.

A oposição no Congresso Nacional, porém, não perdeu tempo e partiu para o ataque contra Dilma. Parlamentares do DEM e do PSDB na Câmara dos Deputados e no Senado apresentaram 18 requerimentos de informações ao Ministério de Minas e Energia sobre os motivos do apagão. Eles também querem que a ministra e o atual responsável pela pasta, Edison Lobão (PMDB-MA) sejam convocados para dar explicações.

Por último, a oposição pretende ressuscitar a polêmica sobre o pedido de demissão do ex-ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau. Ele se afastou do governo em maio de 2007, após ser apontado como beneficiário de um suposto esquema de fraudes em licitações de obras públicas. O escândalo foi desencadeado pela Operação Navalha, da Polícia Federal (PF).

Na época, a PF usou imagens de uma funcionária da construtora Gautama que entrou no prédio do ministério por um elevador privativo com um envelope pardo que supostamente continha R$ 100 mil. O líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), não escondeu a conotação política que o partido pretende dar ao apagão. "Foi a pá de cal na candidatura da ministra", disse.

Já o senador paranaense Alvaro Dias (PSDB) disse que o mais im­­portante é o esclarecimento dos fatos. "Estamos falando de um episódio que gerou repercussão internacional justamente quando estamos nos preparando para receber dois grandes eventos mundiais (a Copa do Mundo de 2014 e as Olim­­píadas de 2016, no Rio de Janeiro). É a credibilidade do país que está em jogo."

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