O homem que enterrou viva, dentro de uma tubulação de esgoto, uma estudante de 18 anos foi identificado pela polícia e teve a prisão decretada pela Justiça nesta sexta-feira. Uelton Ferreira Cantanhede, de 40 anos, estuprou, espancou e tentou matar com um facão a garota antes de forçá-la a entrar na tubulação, dentro de uma indústria desativada, na terça-feira, em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo. A estudante só foi resgatada do buraco cerca de 41 horas depois, por volta do meio-dia de quinta-feira. As primeiras informações da polícia eram de que ela não havia sofrido violência sexual e que entrou no buraco para fugir do agressor.
Ex-caseiro da fábrica abandonada onde a jovem foi encontrada, Cantanhede tem passagem por roubo e está foragido. Ele vive na divisa de Ferraz de Vasconcelos e Itaim Paulista, zona leste da capital, sem endereço fixo. De acordo com o delegado Ivan Moisés Elias, da Delegacia de Ferraz, o suspeito foi identificado pela jovem em fotografias por duas vezes. Ele ainda é acusado de extorsão, por ter ligado para a família da jovem pedindo resgate.
Segundo a polícia, Cantanhede é moreno, alto, magro e costuma usar um gorro preto. A jovem está internada no Hospital Geral de Ferraz de Vasconcelos. Ela está consciente e, apesar muito machucada, não corre risco de vida. A garota tem fraturas na bacia e o braço direito, escoriações por todo corpo e, nas costas, tem um grave ferimento, provocado pelo longo tempo em que ficou deitada sobre a umidade da tubulação de esgoto. Não há previsão de alta. A polícia chegou ao suspeito após ouvir da garota a descrição do criminoso e sair às ruas atrás dele, perguntando para os moradores da região.
Encontrada por acaso
Por volta das 11h40 de quinta-feira, o caseiro da fábrica de móveis abandonada de Ferraz de Vasconcelos passeava com a mãe pelos fundos do terreno quando ouviu gritos de socorro. Ele notou que os chamados vinham de uma caixa de inspeção de esgoto do local. Ao abrir o compartimento, viu que estava cheio com blocos de concreto. Ao remover alguns tijolos, viu que a estudante estava presa dentro da tubulação que sai de dentro da caixa.
A Polícia Militar, os bombeiros e o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) resgataram a garota, que estava com as mãos amarradas. Ela disse que um desconhecido a havia rendido com um facão perto de sua casa, no Itaim Paulista, na noite de terça-feira, e a obrigou a acompanhá-lo ao local. Lá, a estuprou e tentou degolá-la com o facão. Porém, a arma estava sem fio. A vítima teve um corte na garganta.
Depois, ele a levou para os fundos do terreno e a mandou entrar na caixa de inspeção de esgoto. A jovem disse que não iria conseguir, mas o estuprador a fez entrar. Depois, cobriu a entrada com tijolos e fechou com uma tampa de concreto. A jovem apanhou muito do bandido. Na terça-feira à noite, a família dela registrou boletim de ocorrência de desaparecimento no 50º Distrito Policial (Itaim Paulista). Ela ficou cerca de 41 horas presa na tubulação de esgoto. O caso foi registrado na Delegacia de Ferraz de Vasconcelos como estupro, extorsão mediante seqüestro e tentativa de homicídio.
Seqüestro
Na quinta-feira, dia em que foi encontrada a estudante, a família dela recebeu diversos telefonemas com pedidos de resgate pela menina.
- Eu atendi pelo menos três ligações. Na maioria delas, a pessoa ficava muda. Quando o pai dela atendeu, o sujeito falou que estava com ela e que queria um resgate para libertá-la - afirma a dona-de-casa Dineuza Sabino Sena Silva, de 42 anos, tia da estudante.
De acordo com a tia, um homem disse que havia seqüestrado a garota e queria R$ 20 mil para libertá-la. O pai, motorista de ônibus, entrou em desespero e foi tentar levantar o dinheiro. Esse telefonema foi feito antes da jovem ser encontrada. Já tarde naquela noite, depois que a estudante já estava no hospital, o homem ainda ligou para marcar o horário e o local do pagamento do resgate.
A família desconfia que não era a mesma pessoa que seqüestrou, espancou, estuprou e tentou matar a garota. Isso porque, já na primeira noite, amigos e familiares espalharam por toda a região cartazes com a foto da jovem e o telefone da casa.
- Deve ter sido algum oportunista da região que ainda por cima tentou extorquir a gente, aproveitando a aflição da família - acredita a tia.
