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"O Gate atirou no sequestrador porque ele iria matar a ex-mulher dele", afirmou na manhã desta quinta-feira (2) o capitão Adriano Giovaninni, negociador do Grupo de Ações Táticas Especiais, considerada a tropa de elite da Polícia Militar do estado de São Paulo.

Essa foi uma das respostas que o oficial deu por telefone ao G1 para justificar a autorização dada ao "sniper", atirador de precisão, para disparar contra o desempregado de 45 anos, que estava armado e mantinha a ex-mulher de 41 anos refém por mais de 19 horas dentro de uma clínica odontológica em Araçatuba, a 527 km da capital paulista. O tiro acertou a cabeça do agressor quando ele se afastou da vítima. Até às 11h30, o sequestrador continua internado em um hospital da cidade do interior de São Paulo.

"Tentei negociar a rendição da refém com o agressor, mas ele estava irredutível e disposto a matá-la. Além de estar armado e ameaçado matar a ex e se matar em seguida, ele derramou gasolina dentro do imóvel onde estava com ela e falou que iria atear fogo", afirmou o capitão Giovaninni.

Segundo o oficial do Gate, atirar no agressor foi necessário. "O sniper teve autorização para atirar. Ele atirou onde achou que foi possível imobilizar o agressor. É o sniper que decide onde atirar. Ele estava a uma distância de cerca de quatro metros do sequestrador. Foi o último recurso que tínhamos."

Com 39 anos de idade e 16 dentro do Gate, Giovaninni acumula experiência na função de negociador em situações de alto risco. Foi ele quem conversou com o sequestrador de Eloá Pimentel, em Santo André, no ABC, em 2008. Naquela ocasião, a adolescente foi morta a tiros pelo seu sequestrador, o ex-namorado Lindemberg Alves. O agressor queria reatar o romance no que ficou conhecido como caso Eloá.

"São situações distintas. Agora tínhamos o campo de visão do agressor para imobilizá-lo com um tiro de precisão. Com o Lindemberg não tínhamos esse campo. Temos sempre de pensar no refém também", explicou o capitão do Gate.

Segundo Giovaninni, o agressor de Araçatuba queria que a ex-mulher confessasse uma suposta traição. "Agora ele será indiciado por tentativa de homicídio, cárcere privado e porte ilegal de arma pela Polícia Civil", disse o capitão, que se deslocou com sua equipe de avião de São Paulo até Araçatuba. "Só vamos em situações extremas".

Invasão a clínica

A vítima foi foi rendida pelo ex-marido por volta das 11h de quarta-feira (1º). O sequestro terminou às 8h15 desta quinta.

De acordo com testemunhas, o homem chegou com uma mochila, entrou na clínica odontológica municipal onde ela trabalha e foi ao consultório número 1, onde a mulher estava sozinha, limpando o local. Assustadas, três colegas de trabalho da vítima se trancaram em outra sala e chamaram um dos dentistas que trabalha no local e que havia acabado de sair para o almoço.

Durante a noite, a PM informou que foi possível perceber, por meio de contato visual, que a mulher passava bem, assim como o homem que invadiu o prédio e a mantinha sob a mira de um revólver.

Familiares do ex-casal foram chamados para o local. Centenas de curiosos também acompanharam durante a madrugada o trabalho da polícia. O homem estava armado com um revólver e mantinha em poder dele duas garrafas pet com gasolina. Ele ameaçava atear fogo na clínica. O ex-guarda municipal espalhou o combustível pelo consultório por pelo menos duas vezes.

Na hora em que o homem invadiu o local, um dentista ainda falou com o acusado, que já havia trancado a porta e colocado um armário para impedir a passagem. Os funcionários acionaram a Polícia Militar que isolou o local. De acordo com policiais, por muitas vezes, o acusado chegou a encostar a arma na cabeça na ex-mulher. Ele também teria ameaçado atirar nela e depois se matar.

Policiais do Gate chegaram de avião em Araçatuba por volta das 17h. Eles foram direto para a clínica e fizeram um levantamento detalhado da área, com a medição de portas, janelas e paredes.

De acordo com policiais, o homem não fez nenhuma reivindicação. Ele apenas teria pedido para que a ex-mulher confessasse uma suposta traição. Os dois moraram juntos durante 16 anos. O casal se separou há quatro meses, de acordo com a mãe da refém. Desde a separação, começaram as brigas, conforme familiares. Márcia chegou a registrar boletins de ocorrência de ameaça contra o ex-marido. A Justiça expediu recentemente uma medida protetiva, por meio da qual ele ficou proibido de chegar a menos de 200 metros da ex-mulher.

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