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“Campos Elíseos era um dos melhores quarteirões do centro e hoje ficou um lixo. Todo mundo fala que já moramos na cracolândia. Agora, eles [usuários de drogas] vão se mudar para cá e será um perigo para nós, para todo mundo. Será uma filial da cracolândia”, reclama Raquel Derner, 87, que mora há 60 anos na rua Helvétia com a alameda Barão de Limeira.

A moradora participou na manhã desta quinta-feira (16), com outros 40 pessoas, de um protesto contra a implantação de um hotel para usuários de crack na alameda Barão de Limeira, 612. Para muitos, o bairro já é inseguro e com a vinda de usuários de drogas, a tendência é que atraia traficantes e amplie o número de assaltos.

Outra moradora do bairro diz que instalar um hotel para usuário de crack no bairro é uma tragédia humana. “Vim para o centro porque prometeram revitalizá-lo. A situação do morador de rua, do drogado é uma coisa assustadora, fora o lixo e a sujeita. É uma tragédia humana, uma degradação humana”, disse Teresinha Antônia de Campos, 74, que antes morava na praça da Árvore, na zona sul da capital paulista.

Os moradores já entraram com uma ação judicial para impedir a inauguração do novo hotel. O local foi escolhido após a prefeitura decidir descredenciar outras hospedagens conveniadas ao programa “De Braços Abertos”, criado para tratar usuários de crack, que estão em situação precária.

O advogado dos moradores do bairro, Alex Campos, diz que o problema é a segurança tanto dos moradores de Campos Elíseos quanto dos usuários. “Não somos contra o projeto, mas deve ser feito de uma maneira correta, com segurança. Da maneira que está sendo feito, está descontrolada.”

Campos diz que o imóvel está no cadastro irregular de edificações, o que impede a realização do laudo e liberação de alvará. “Estão criando um hotel no qual não há fiscalização. No site da prefeitura o imóvel consta no cadastro irregular de edificações e, com isso, não terá alvará. Logo, a prefeitura não conseguirá o laudo dos bombeiros nem da vigilância sanitária comprometendo a segurança dos usuários. E, se fizerem o laudo, acreditamos que não será liberado.”

O presidente do Conseg (Conselho de Segurança) de Santa Cecília, Fábio Fortes, reclamou dos comentários de que os moradores de Campos Elíseos estavam querendo higienizar o bairro ao não permitir a implantação do hotel.

“Esses que nos chamam de higienistas é porque não moram aqui, porque se morassem e sentissem na pele o que as crianças, as mães passam ao serem assaltadas todos os dias por usuários, aí eles estariam conosco. Do contrário, é fácil dizer que somos higienistas”, disse Fortes.

Para ele, os usuários de crack deveriam ser tratados em hospitais, com internação compulsória. “Se são doentes devem estar em um hospital e não em um hotel. Não há rigor da legislação para dependente químico. Gasta-se milhões com técnicos, com hospedagem e o resultado é pífio”, afirma Fortes.

“Os moradores e comerciantes daqui da região estão 24 horas sendo ameaçados. Todas os moradores têm uma história de violência, de agressão de dependentes químicos que vêm do Brasil inteiro atraído pela farsa de todos os programas do governo estadual, da prefeitura e da União”, completou Fortes.

A administração municipal disse ter informado ao Conseg de Santa Cecília que os novos hotéis só serão abertos quando houver alvará e auto de vistoria dos bombeiros.

A secretária municipal de Assistência Social, Luciana Temer, disse à reportagem que ela e o subprefeito da Sé, Alcides Amazonas, se comprometeram a impedir que a região seja prejudicada com o hotel.

“Não vamos deixar formar barracas nas calçadas. Vamos inclusive selecionar os usuários que já apresentam uma evolução significativa no tratamento para serem enviados à região”, afirmou Luciana.

A reportagem mostrou no último mês que o crescimento de uma favelinha na cracolândia está adiando a entrega de uma praça na região da Luz, no centro da capital paulista.

A secretária disse ainda que esta não é uma ação específica no bairro e que outros pontos da cidade terão hotéis semelhantes.

“Teremos um hotel na Freguesia do Ó [zona norte] e estamos procurando outros locais viáveis para essas implantações na cidade inteira. Todo mundo quer que a prefeitura resolva o problema do crack, mas esse caminho passa pela cidade. Não vamos colocar ninguém em outros municípios porque a pessoa deve ser respeitada e tratada no contexto que ela aceite.”

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