
Segunda-feira cedinho e Arnaldo já está de pé. Toma o café da manhã com a família, separa caderno e caneta e sai de casa para estudar. Na sala de aula, ele cumprimenta Valdir, sentado quieto no canto; Tereza, compenetrada nas anotações; João, cochichando algo engraçado com os colegas. A professora dá as boas-vindas e inicia uma nova discussão com os alunos. No quadro, palavras como razão, pensamento e movimento estimulam o debate.
O que parece ser uma simples turma de colégio ou faculdade guarda uma peculiaridade: todos no recinto têm mais de 55 anos. A aula desta manhã também não é comum: "O papel dos avós na educação dos netos". O curso faz parte da Universidade Aberta da Terceira Idade (Unati), projeto desenvolvido pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) que, desde março, leva idosos de volta às carteiras escolares.
É o caso de Arnaldo Coelho, 73 anos. Mineiro, a fala mansa não revela a personalidade forte. Durante anos alimentou o desejo de retomar os estudos. "Já havia lido sobre a Unati do Rio de Janeiro. Desde então, desejei participar de uma universidade. Quando soube que aqui seria instalado o projeto, corri em busca de conhecimento e relacionamento", diz o pioneiro, que chegou em Maringá em 1954.
Sentada perto do colega está Lourdes Machado, de 63 anos, que encontrou na Unati uma fórmula para se relacionar melhor com as três filhas e duas netas, uma de 11 e outra com 9 anos de idade. "Tive uma educação diferente da de hoje. Eu tinha de me adaptar ao mundo delas para ver onde que estou errando", explica.
Para ela, percorrer os corredores e blocos da UEM como estudante é algo sonhado há muito tempo. "Sempre quis fazer uma faculdade, mas foi um sonho que parou pelo meio do caminho. Aqui, me sinto um pouquinho universitária." Perguntada sobre o que o marido achava da Unati, afirmou aos risos: "Ele dá apoio total, mas também se não desse, deixava ele em um canto e vinha para a aula".
Grande demanda
De acordo com a coordenadora pedagógica da Unati, Regina Taan, cerca de 300 estudantes estão matriculados e centenas de outros aguardam a oportunidade para participar do projeto. A adesão surpreendeu a coordenação. As vagas se esgotaram logo no primeiro dia de matrículas. "Não esperávamos tanta procura. As inscrições começariam às 9 horas de uma segunda-feira e, às 6 horas, já tinha fila. Há uma demanda muito grande e isto nos diz que a população idosa quer continuar a estudar e se desenvolver intelectualmente", conta.
A previsão é de que novas vagas sejam abertas em junho e julho de 2011, inclusive nos câmpus regionais da UEM nos municípios das regiões Noroeste e Central do Paraná. O grupo de idosos que começou este ano será mantido. "Seria cruel dizer que acabou para uma pessoa idosa, que se sente integrada e em plena atividade. Nós vamos dar continuidade em uma segunda etapa para aqueles que já começaram."
João Brito, de 60 anos, comemora a decisão. Para ele, os cursos da Unati surgiram como uma grande oportunidade para se desenvolver e não ficar parado. "A Unati é como uma família. Aqui todos se relacionam muito bem e isto aumenta a nossa autoestima, nos deixa como crianças, me sinto jovial. Deus me livre ficar em casa esperando a morte chegar."
Entre os novos universitários, estão desde pessoas recém-alfabetizadas até profissionais com especialização. É o caso da professora e pedagoga aposentada Maria Inês Duarte Giunta, de 60 anos, e que há três deixou de trabalhar. Segundo ela, essa variedade é extremamente positiva. "Para chegarmos nesta idade, passamos por vários conhecimentos; e isso é compartilhado aqui, não importa a formação escolar."
A ideia de compartilhar ensinamentos está sendo seguida até mesmo fora da Unati. Valdir Crescêncio, de 65 anos, busca aplicar o que aprendeu na Pastoral da Criança, onde é voluntário e trabalha com 20 crianças. "O que eu aprender aqui vou passar para os outros. Aquilo que a gente adquire de conhecimento pode compartilhar com aqueles que a gente convive. Assim, todo mundo aproveita."







