Brasília De olho num público responsável por quase 15% do mercado de consumo no país, as empresas brasileiras estão se especializando em serviços para idosos. As ofertas são as mais variadas, desde pacotes de viagem com desconto em folha do INSS, passando por serviços de intercâmbio e exercícios, até aparelhos acionados desde casa para receber atendimento médico em caso de emergência. Tudo para atrair uma população de 19 milhões de brasileiros, que deve chegar a 30 milhões em 2020.
Isso sem falar no aumento do poder de compra desse grupo. Graças ao ganho real do salário mínimo, as pessoas acima de 60 anos tiveram elevação da renda familiar per capita de R$ 243 nos últimos 14 anos.
Segundo o chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcelo Néri, os idosos brasileiros são responsáveis hoje por 14,53% do mercado de consumo no país, o que significa algo em torno de R$ 13 bilhões. Esse percentual vem subindo ano a ano. Ele era de 10,8% em 1992 e de 14,03% em 2003, segundo cálculos feitos com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). "O poder de mercado dos idosos brasileiros cresce tanto pelo efeito da renda quanto pelo crescimento demográfico da população", destaca Néri.
De acordo com dados do IBGE, as famílias com idosos ficaram mais longe da pobreza. Enquanto em 1995 as que recebiam até 1/4 do salário mínimo representavam 3,9% do total, em 2006 elas caíram para 1,7%. Já as famílias que tinham renda acima de cinco salários mínimos aumentaram de 7,5% para 8% na mesma comparação. "O aumento do salário mínimo tem sido um fator muito importante para aumentar a renda dessa população, pois 76% dos idosos no Brasil recebem algum benefício vinculado a ele. Isso dá maior poder de compra a essa população, que hoje é muito mais ativa", afirma a pesquisadora Lúcia Cunha, do IBGE.
Esse é o caso das cunhadas viúvas Vitória Carvalho, 76 anos, e Liu-Siu de Carvalho, 77 anos. As duas já viajaram para diversos países por meio de programas de intercâmbio do qual participam principalmente idosos e fazem ginástica especializada para sua faixa etária. "O dia tinha que ter 48 horas para eu conseguir fazer tudo o que quero", afirma Liu-Siu.
Segundo o presidente do programa de intercâmbio Friendship Force no Brasil, do qual participam Vitória e Liu-Siu, Antônio Carlos Azevedo, 90% dos participantes têm mais de 60 anos: "Os aposentados têm mais tempo para viajar e, por isso, viraram alvos."
Para atrair clientes, os prestadores de serviço estão até mesmo concedendo descontos e planos especiais. Na academia Companhia Atlética, em Brasília, pessoas acima de 60 anos não pagam matrícula e têm mensalidade reduzida. As agências de viagens também tentam abocanhar esse público oferecendo pacotes de viagem com financiamentos especiais. Segundo a operadora de turismo CVC, os idosos correspondem a 20% do total de turistas atendidos pela empresa por ano, cerca de 1,5 milhão.



