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Na manhã de hoje, enquanto o arcebispo de Curitiba, dom Moacyr Vitti, impuser as mãos sobre o seminarista Wilson Czaia e disser "enviai sobre ele Senhor, nós vos pedimos, o vosso Espírito que o fortaleça com os sete dons da Vossa graça, a fim de exercer com fidelidade o seu ministério", o olhar de Czaia estará fixo nos lábios do arcebispo. Será a única forma do seminarista de 37 anos, que é natisurdo (nascido com surdez profunda), saber o momento exato em que se tornará diácono. Em novembro, quando dom Moacyr ordenar Czaia padre, ele será o segundo sacerdote surdo em todo o Brasil, e o primeiro no Paraná.

A deficiência de Czaia é apenas auditiva – ele aprendeu a falar usando a vibração das cordas vocais, embora a voz nem sempre saia clara. O seminarista contou com a ajuda do padre Ricardo Hoepers, coordenador da Pastoral dos Surdos da arquidiocese, para conversar com a reportagem da Gazeta do Povo. "Estou um pouco nervoso, claro, mas muito feliz por ter recebido essa vocação", disse Czaia.

Quando tinha 4 anos, seus pais descobriram que ele não ouvia. Em 1973 entrou para a escola Epheta, fundada pela irmã Nydia Garcez, também ela deficiente auditiva e uma grande incentivadora para Czaia. Ele completou o primeiro e segundo graus em turmas regulares e passou a participar na Pastoral dos Surdos, até que foi a Paranaguá acompanhar algumas crianças surdas que receberiam a Primeira Comunhão. "Foi quando Deus me chamou e tive vontade de ser padre", lembra. Ele só avisou os pais depois de ter certeza de que tinha sido aceito no seminário.

Desde 2000, Czaia vinha estudando Filosofia e Teologia no seminário. Nunca repetiu uma matéria. "Na Teologia tive a grande ajuda de um seminarista de Ponta Grossa que sabia linguagem de sinais e era meu intérprete. Na Filosofia complicou mais um pouco", conta. Quando os estudos terminaram, a arquidiocese resolveu consultar o Vaticano sobre a situação de Czaia. A resposta foi de que o arcebispo tinha autonomia para decidir pela ordenação.

Do tempo de seminário, Czaia recorda também que sua condição serviu para quebrar barreiras. "No começo os colegas tinham um pouco de receio, de não saber como se comunicar comigo, mas aos poucos eles perceberam que podiam conversar comigo, alguns aprenderam algumas expressões em linguagem de sinais. Nunca me senti abaixo dos outros", diz.

Em novembro, quando for ordenado padre, estará acompanhado por vários amigos surdos de todo o Brasil, com quem se comunica usando a internet (inclusive usando linguagem de sinais pela webcam) ou mensagens pelo celular. Quem também quer vir é monsenhor Vicente Burnier. Em 1951, o padre de 94 anos foi o primeiro sacerdote natisurdo brasileiro, e o segundo do mundo. "No começo seu trabalho pastoral será com os surdos, mas nada impede que ele também seja pároco, ele poderá celebrar missa e atender confissão normalmente", diz o padre Ricardo.

Serviço: A ordenação diaconal de Wilson Czaia começa às 9 horas na igreja de Nossa Senhora da Anunciação (Rua Argemiro Monteiro Wanderley, 377, Capão Raso).

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