Quinze casais do Paraná e outros estados brasileiros vão passar por uma espécie de superintensivo de comunicação familiar e relacionamento humano neste fim de semana, em Curitiba. As aulas, que começam hoje e terminam no domingo, fazem parte de um projeto da Pastoral Familiar da Arquidiocese de Curitiba para ajudar casamentos em crise.
"O que vamos mostrar são ferramentas para auxiliar no dia-a-dia dos casais, discutindo o tema relacionamento", explica a coordenadora do projeto, a educadora Iliana Machado, de 53 anos. Há seis anos, ela e o marido, o engenheiro Romeu Machado Neto, desenvolvem em Curitiba o programa de auxílio conjugal que conheceram no Paraguai, como alunos. "Aos 27 anos de casados passamos por uma crise séria e resolvemos ir a Assunção participar do programa, já que no Paraná ele ainda não existia. Foi o que nos ajudou a continuar casados até hoje", conta ela.
O "pronto-socorro" matrimonial é chamado de Retrouvaille (do francês, redescobrir), foi criado no Canadá em 1977 e difundiu-se por vários países da América Latina. São palestras e discussões focadas em técnicas de comunicação do casal, reflexão sobre como o modo de ser da pessoa influencia quem está ao seu lado, como a sociedade vê o casamento e aspectos de sofrimento da vida. "As pessoas têm de entender que o sofrimento faz parte da vida e saber aproveitar os bons e maus momentos", diz Iliana.
A discrição e sigilo fazem parte do Retrouvaille, destaca a coordenadora do programa. "Ninguém tem de expor o que exatamente o levou a estar ali, não se trata de uma terapia de grupo", informa ela. O simples fato de se inscrever para participar e comparecer na entrevista de seleção já é um grande sinal de esforço pela salvação do casamento, avalia a coordenadora.
"É preciso muita coragem para pedir ajuda. No Brasil, quase não se aceita admitir para os outros que o casamento tem dificuldades. Em outros países, como Estados Unidos, é mais comum os casais procurarem auxílio", afirma Iliana, que ressalva: "Não existe solução mágica. Os resultados do programa vão depender do que os casais vão fazer com aquilo que aprenderem".
Para a coordenadora da Pastoral Familiar da Arquidiocese de Curitiba, Clarisse da Cruz Silva, o mais importante de ações como o Retrouvaille é reforçar o diálogo entre o casal. "Cada um deve saber aceitar a idéia do outro, saber ouvir", afirma. Clarisse conta que o diálogo vem sendo trabalhado pela Igreja antes mesmo do matrimônio. Faz parte da preparação do casamento orientá-los a sempre conversarem sobre o que os agrada e incomoda.
Casamento Coletivo
A Pastoral também tem trabalhado para oficializar na Igreja casamentos que, na prática, já existem. "É o que chamamos de legitimação. Por meio de visitas às comunidades das paróquias, a pastoral faz o levantamento dos casais que já têm uma vida em comum, mas não fizeram o casamento religioso", conta Iliana.
O trabalho de cada paróquia tem resultado em casamentos coletivos, como os oito casais que legitimarão a união amanhã na paróquia Anjo da Guarda, em Almirante Tamandaré.



