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Ponta Grossa – As viagens para o Rio de Janeiro, Europa e Estados Unidos realizadas pelo presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes, nos últimos três anos foram o estopim de uma crise no relacionamento com os indígenas, que nunca foi bom. Índios de todo o Brasil, dos guaranis do Sul aos xingus do Norte, estão se articulando para pedir a demissão de Pereira. Eles apontam para uma série de falhas cometidas pelo presidente do órgão e o consideram um homem despreparado para o cargo.

Há duas semanas, um grupo de 20 xavantes, caiapós, curiós e terenas de aldeias de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Amazonas transitou por oito dias entre as sedes da Funai e do Ministério da Justiça, em Brasília, em busca de um posicionamento das autoridades. O grupo não foi atendido e não gostou. "Se ele não sair num prazo de dez dias, todas as etnias vão para Brasília para uma manifestação", disse o caiapó Megaron Txucarramal, líder da aldeia Kapoto, em Mato Grosso e sobrinho do famoso cacique Raoni. Isso significaria 550 mil índios de 220 etnias falando 189 idiomas ao mesmo tempo na capital federal.

Na quinta-feira passada, a Articulação dos Povos Indígenas do Sul do Brasil (Arpin-Sul), coordenada pelo caingangue paranaense Romansul Cretã, encaminhou ao ministro Márcio Thomas Bastos um ofício manifestando total apoio às organizações indígenas e pedindo a saída de Pereira. "Além de nada acrescentar durante a sua gestão, ele nos usou e usou mal os recursos públicos", dizia um trecho do ofício. Na tarde de sexta-feira, o Ministério da Justiça ainda não havia recebido o ofício, de acordo com sua assessoria de imprensa.

Os índios acusam Pereira de nunca ter efetivamente trabalhado para questões indígenas. "Ele serve mais para apagar o fogo. Trabalha como bombeiro", disse Cretã. Outra queixa comum é o raro aparecimento do presidente nas reservas indígenas. Nos três anos em que está à frente do órgão, Pereira esteve em reservas indígenas brasileiras 49 vezes. O Paraná, por exemplo, ele nunca visitou. Já no Rio de Janeiro, onde mora sua família, esteve 120 vezes. "Ele só aparece quando tem festa nas aldeias", diz Txucarramal.

Os indígenas querem um índio ou um indianista na presidência da Funai, que entendam as reais necessidades das etnias. Muito mais articulados hoje do que há 18 anos, quando a Constituição reconheceu a sua organização social e seus direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupam, os índios querem uma melhor atuação em questões como ampliação e demarcação de terras indígenas. Eles lutam para que o Estatuto dos Povos Indígenas, que tramita no Congresso Nacional desde 1991, seja aprovado.

De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), das 850 terras indígenas brasileiras, 527 têm pendências de regularização. Estão a espera de demarcação outros 170 territórios. No Paraná, são pelo menos dez áreas que aguardam há mais de dez anos. Para o indianista paranaense Edívio Batistteli, há a necessidade de uma política que, além de respeitar a diversidade das culturas indígenas, os insira na sociedade.

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