
Cerca de 350 índios caingangues e guaranis de diferentes reservas do Paraná promoveram uma série de manifestações em Curitiba e no interior do estado, ontem. Algumas delas com reféns. As sedes da Fundação Nacional do Índio (Funai) na capital e em Londrina foram invadidas. Uma praça de pedágio na BR-376, próximo a Mauá da Serra (Norte do estado), foi ocupada. Na Região Sudoeste, os indígenas bloquearam a BR-277 por cinco horas na altura de Quedas do Iguaçu. Ainda em Curitiba, um acordo com o Ministério Público libertou três funcionários e o presidente da ONG Associação de Defesa do Meio Ambiente de Reimer que ficaram sob a custódia dos índios por dois dias.
O objetivo de todas as ações foi chamar a atenção para o atraso no repasse de verbas para a saúde e protestar contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 038/99, que transfere da Funai para o Legislativo a decisão pela demarcação de novas terras indígenas.
Logo pela manhã, 30 índios ocuparam a sede da Funai na capital. Além da PEC, eles protestaram contra a aplicação em outras reservas das regras ditadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para a demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, como a impossibilidade da expansão de áreas.
O administrador da Funai, Glênio Alvarez, foi "convidado" a permanecer no local durante toda a manifestação. Por volta das 14 horas, os índios saíram e liberaram Alvarez. "Foi uma ocupação tranquila. Eles me pediram para ficar e eu fiquei." O administrador não acredita que a PEC passe no Congresso, mas afirma que existem setores do Congresso interessados em "engessar" a ações da Funai.
Rodovias
Na BR-277, os manifestantes chegaram às 11 horas e usaram galhos de árvores para impedir a passagem de veículos. O congestionamento chegou a dois quilômetros. Por volta das 15 horas, os indígenas liberaram a rodovia por vontade própria.
Na BR-376, a tomada da praça de pedágio de Mauá da Serra ocorreu por volta das 9h30 por 150 indígenas. Não houve danos à praça. Eles apenas liberaram as cancelas e fizeram danças indígenas. Por volta das 13 horas, eles seguiram para Londrina e acamparam na sede da Funai. Os índios prometem ficar por tempo indeterminado no local até que a direção nacional da Fundação nomeie um administrador definitivo para a região de Londrina.
"Vamos pernoitar e nos alimentarmos por aqui até revolverem o problema", disse Ivan Rodrigues, um dos organizadores da manifestação. Segundo ele, uma comitiva com dez índios deve ser enviada a Brasília para tentar agilizar o procedimento.
Há cinco meses no caso, a administradora interina da Funai em Londrina, Evelise Viveiros Machado, explicou que todo o procedimento para a nomeação já foi realizado. "Os documentos já foram mandados para Brasília. Só falta a publicação da portaria nomeando o administrador definitivo. Estamos cobrando", afirmou.
Estratégias
O indigenista Edívio Battistelli diz que as tribos estão se valendo de estratégias de não índios, como a invasão de pedágios e a manutenção de reféns, para conseguir chamar a atenção da sociedade. "Existem questões represadas no trato da questão indígena há muitos anos", afirma.
O Estatuto do Indígena está parado no Congresso desde 1951 sem ser aprovado, além disso, há muitas terras indígenas no Sul, Nordeste e Sudeste brasileiro que ainda não foram demarcadas. Há também aldeias que se misturam às áreas das linhas de transmissão de energia, estradas e usinas hidrelétricas. Para Battistelli, é natural que os indígenas tenham receio da aprovação da PEC, de autoria do senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), e a demarcação passe a ser administrada pelo Legislativo. "Há muitos interesses econômicos diversos, não há uma bancada indígena no Congresso", opina. A PEC tramita na Comissão de Constituição e Justiça do Congresso e ainda não foi aprovada.
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Interatividade
A manutenção de reféns pelos índios é uma forma aceitável de protesto?
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