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Meio ambiente

Inseminação é esperança para salvar animais em extinção

Há dez anos, a UFPR tenta garantir a sobrevivência de três espécies de felídeos

Cientistas do mundo todo estão empenhados na missão de salvar em laboratório as espécies postas na alça de mira do progresso a qualquer custo. A procriação em cativeiro de animais ameaçados de extinção não dá conta de preservá-los. O desequilíbrio nas taxas de natalidade e mortalidade ocorre também nos métodos de reprodução induzida: poucos nascem e muitos deles morrem nos primeiros dias. Portanto, cada sucesso deve ser festejado, como o elefante nascido por inseminação artificial neste mês, na Tailândia, ou o rinoceronte concebido pelo mesmo método em janeiro no zoológico de Budapeste. No Brasil, luta-se para salvar três espécies de felídeos silvestres, primos do gato doméstico.

Há dez anos, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) se uniu à Itaipu Binacional e ao Smith-sonian Institution, dos Estados Unidos, para assegurar a descendência da jaguatirica, do gato-do-mato e do gato-maracajá. Esses bichos integram um conjunto de 37 espécies de felídeos que, à exceção do gato doméstico, estão ameaçadas de desaparecer. As experiências, realizadas no Refúgio Bela Vista, em Foz do Iguaçu, quase deram certo em 2002. Uma fêmea de gato-do-mato deu à luz quatro filhotes. A inseminação por laparoscopia provocou uma superestimulação ovariana. Foram fecundados quatro óvulos, quando o normal seria apenas um. Resultado: os gatinhos nasceram muito pequenos e morreram em questão de dias.

Não há no Brasil um caso bem-sucedido de inseminação artificial dessas espécies e por enquanto nada garante que este método irá salvá-las da extinção, mas os cientistas não podem ser acusados de não tentar. É um trabalho de persistência que requer dedicação e aprendizado constante. Professor da UFPR no câmpus de Palotina e orientador do curso de pós-graduação em Ciências Veterinárias, em Curitiba, Nei Moreira está desde o início no projeto de reprodução dos felídeos no Refúgio Bela Vista. Para ele, é só questão de tempo. O otimismo vem da Universidade Estadual Paulista em Botucatu, que no ano passado conseguiu a reprodução de gatos domésticos. É um importante passo para se chegar aos primos mais raros.

As boas notícias também vêm de longe. Zoológicos norte-americanos conseguiram reproduzir outra espécie de felídeo, o guepardo, por meio de inseminação. Há explicações biológicas para isso, o que Moreira descobriu mais amiúde em sua tese de doutorado, desenvolvida nos laboratórios do Smith-sonian Institution e defendida em 2001 na UFPR. Pesquisou a fisionomia reprodutiva dos felídeos e os efeitos do estresse sobre as fêmeas submetidas à reprodução em cativeiro. Os pequenos são mais suscetíveis ao estresse, se comparados aos grandes, como os leões. Estes não têm predadores, enquanto os menores sentem-se em constante ameaça. Nessas condições fica difícil para o felídeo de menor porte se reproduzir em clausura.

Moreira explica que, proporcionalmente ao peso, uma fêmea de jaguatirica tem de receber uma dose maior de sêmen do que uma fêmea de guepardo. Mas não é só isso. Cada uma responde de uma forma diferente. Chegar ao meio termo entre escassez e excesso leva tempo. Por isso os biólogos e veterinários do Bela Vista estão insistindo mais na reprodução natural, mas simultaneamente usam técnicas de fertilização in vitro e inseminação. Eles investem agora na criopreservação, estocando o sêmen do bicho em botijões de nitrogênio líquido, onde a temperatura pode chegar a quase 200ºC negativos.

O método facilita a troca de material genético entre laboratórios e zoológicos, evitando o transporte do animal só para o acasalamento. Basta levar o sêmen congelado e fazer a inseminação artifical. O objetivo de todo esse trabalho é manter a diversidade genética dessas espécies para que um dia seus descendentes possam ser reintroduzidos na natureza – ou o que sobrar dela. Também não basta soltá-los e deixá-los ao deus-dará. Segundo Moreira, "em pequenas populações isoladas aumentam os casos de consanguinidade (relação entre parentes), o que os torna mais vulneráveis a doenças e aumenta a taxa de defeitos congênitos".

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