
Os depoimentos dos estudantes Nayara Rodrigues, Vitor Lopes de Campos e Iago Vilera de Oliveira, amigos de Eloá Pimentel e mantidos reféns pelo motoboy Lindemberg Alves, confirmaram que o réu falava em matar a ex-namorada desde que entrou no apartamento da vítima.
Eloá foi mantida refém pelo ex-namorado por mais de 100 horas, em outubro de 2008, em Santo André, no ABC paulista. Além da morte da ex-namorada, Lindemberg responde por outros crimes, entre eles as tentativas de homicídio contra Nayara e contra o policial Militar Atos Antonio Valeriano.
"Ele (Lindemberg) batia nela (Eloá) e disse que iria matar a todos e se matar. Ou matar Eloá e depois se matar", disse Vitor. Iago também disse que Lindemberg atirou contra o Valeriano no banheiro e teria voltado ao quarto se gabando do feito. Atos também será ouvido como testemunha de acusação.
"Ele (Lindemberg) disse que não acertou a cabeça do policial por pouca coisa. Ele veio falando que aquele tiro era para os 'homens' (PMs) verem que ele não estava para brincadeira", afirmou Vitor.
Perseguição
Antes de Iago e Vitor, Nayara - que foi baleada no fim do sequestro - foi a primeira testemunha de acusação a ser ouvida no Fórum de Santo André, na tarde desta segunda-feira (13). Sem a presença de Lindemberg no júri, a pedido da própria Nayara, a jovem disse que o réu começou a perseguir a vítima após os dois terminarem o namoro e que a amiga foi agredida por várias vezes ao longo do sequestro. Nayara acrescentou, ainda, que Lindemberg mostrava desde o início a intenção de matar Eloá.
"Ele (Lindemberg) tinha altos e baixos. Às vezes, se acalmava e conversava normalmente. Mas daí, do nada, ficava nervoso, agredia a Eloá e dizia que eu tinha feito a cabeça dela (para ela terminar o namoro)", disse Nayara, que acrescentou que o motoboy chegou a mandar as jovens vestirem a blusa para liberá-las, mas voltou atrás.
Nayara, a primeira testemunha de acusação a ser ouvida, ainda ressaltou que, no momento da invasão do apartamento por parte do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Militar, primeiro escutou a bomba na porta antes de ouvir os tiros.
A promotora Daniela Hashimoto sustenta que Lindemberg tinha a intenção de matar Eloá desde o início. Houve essa explosão da porta, os policiais não conseguiram ingressar imediatamente e ele teve tempo para tentar se refugiar e aí, ainda assim, podendo se render, atirou nas meninas.
Tensão
O depoimento teve vários momentos tensos, principalmente quando a defesa começou a interrogar Nayara. A advogada de Lindemberg, Ana Lucia Assad, questionou se a jovem recebeu orientação dos seus advogados de chorar durante seu testemunho - Nayara não chegou a chorar, mas ficou emocionada em vários momentos. A promotora de Justiça Daniela Hashimoto questionou a pergunta da defesa e o assistente de acusação, José Beraldo, chegou a afirmar que a advogada estava fazendo "tortura".
Antes de Nayara prestar depoimento, a advogada do motoboy disse, na retomada do julgamento após a pausa do almoço, que "todos são co-responsáveis", incluindo a sociedade, pela morte da adolescente. A declaração faz parte da tentativa da defesa de mostrar que a pressão sob Lindemberg pode ter influenciado no desfecho do caso.
Júri
O júri teve início na manhã desta segunda-feira (13), por volta das 10h50m. No início, a juíza Milena Dias dispensou quatro das 19 testemunhas relacionadas - sendo três de defesa. Em substituição, foram chamadas como testemunhas em juízo - quando não podem defender nenhuma das partes - a mãe de Eloá, Ana Cristina Pimentel, e o irmão mais novo da adolescente, Ederson Douglas Pimentel.
Pela manhã, a defesa do réu mostrou vários vídeos com reportagens da época, incluindo entrevistas feitas por jornalistas com o réu dentro do apartamento. Nas imagens apareceram, ainda, análises de psiquiatras e profissionais da mídia mostrando que a pressão sobre Lindemberg poderia ter influenciado no desfecho do caso. Para o assistente de acusação, José Beraldo, a tática da defesa é cansar o júri - composto por seis homens e apenas uma mulher. O julgamento deve durar no mínimo três dias.



