
Que uma parte dos jovens é inconsequente e faz loucuras em busca de novas sensações todo mundo sabe. Mas que alguns realmente estejam aderindo a duas práticas bizarras, sugeridas na internet, parece mentira. Desde o início de 2010, uma atitude polêmica vem estampando jornais do Brasil e de fora: o "vodka eyeballing" ou ingestão de vodca pelo olho, o que daria "um barato" mais rápido.
Em uma busca rápida na internet, 65 vídeos com pessoas pingando vodca no olho ou discutindo sobre o ato aparecem no Youtube. No Orkut são 48 tópicos de discussão e uma comunidade sobre a prática. E no Facebook quase 100 pessoas "curtiram" um tópico sobre o assunto. A grande maioria brinca com o tema, mas não cogita experimentar.
A origem da prática é controversa. Jornais americanos apontam as faculdades e pubs londrinos. Os veículos do Reino Unido, por sua vez, indicam que a prática começou com garçonetes e atendentes de bares em Las Vegas, em busca por gorjetas.
O problema é que, ao contrário das chamadas "músicas alucinógenas", que surgiram na web há cerca de três anos e continuam a angariar curiosos (leia mais nessa página), o "vodka eyeballing" tem consequências sérias. No mês passado, dois jovens foram atendidos no Instituto Penido Burnier, instituição de Campinas, após terem derramado vodka nos olhos, influenciados por dezenas de vídeos no Youtube.
Há algumas semanas, a Agência Estado noticiou que um deles, um estudante de Economia de 23 anos, terá de fazer um transplante de córnea porque teve a visão reduzida a 5% após pingar vodca no olho com uma colher. Ele já estava bêbado quando pingou a bebida e diz não ter percebido nada na hora, pensou que a visão estivesse turva por causa do seu problema antigo de visão.
O outro foi um estudante de administração de 21 anos, que reclamou que estava com a visão turva. "Eu achei estranho, parecia uma queimadura. Mas eles não falavam o que houve. Espremi, espremi e depois de um tempo o garoto me contou", disse o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, que atendeu o estudante. O rapaz fez um tratamento com colírios anti-inflamatórios e lentes de contato terapêuticas, mas ainda não está enxergando 100%. Alguns meses antes, em maio, o Daily Mail, da Inglaterra, trouxe uma história parecida, de uma jovem de 19 anos que teria experimentado a "brincadeira" na universidade e agora sofre com dores e teve uma parte da visão do olho esquerdo perdida.
Curitiba
A prática parece não ter chegado por aqui ainda. Ao menos, nenhum caso foi registrado nos Centros Médicos de Urgência, segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, ou mesmo nos hospitais de pronto-atendimento, como o Cajuru, o Trabalhador e o Evangélico. No Hospital de Olhos, no Batel, especializado em oftalmologia, também não há nenhum registro. O médico oftalmologista da instituição, Eduardo Strobel Von Linsingen, não descarta, no entanto, que algum caso tenha passado pelo Hospital de Olhos. "Atendo no plantão e geralmente o paciente que vem em uma emergência vem com a família e acaba não contando a causa real do problema."
Linsingen explica que o suposto efeito de embriaguez pelo olho não existe, porque a absorção é mais lenta do que pelo estômago. E mais, que o contato da bebida com a córnea é bastante perigoso. "A maioria das reações químicas resulta em uma conjuntivite local, que melhora com um tratamento básico. No caso da vodca, o álcool presente na bebida pode gerar o descolamento entre o epitélio da córnea (a parte mais superficial) e a córnea, abrindo espaço para a entrada de agentes infecciosos. Há também a possibilidade de ceratite química, que é a inflamação da córnea pelo contato com o álcool, que tem o PH diferente, modificando a estrutura do órgão a tal ponto que um transplante seja necessário."
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Interatividade
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