Uma mãe brasileira que disputa há mais de sete anos com o ex-marido norueguês a guarda dos dois filhos sofreu uma derrota na semana passada. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que os filhos de Júlia Albuquerque e Tommy Bless voltem imediatamente para a Noruega. As crianças, de 13 e 10 anos, vivem no Rio com a mãe depois de problemas por causa da separação dos pais, que inicialmente foi amigável.
Júlia conta que conheceu Tommy em 1999. O casal foi viver na cidade de Porsgrunn e teve os dois filhos na Noruega. Em 2002, eles se separaram, e Júlia decidiu voltar para o Brasil. Para não ficar longe dos filhos, Tommy também abandonou seu país e veio viver no Rio. Júlia diz que o ajudou a encontrar emprego e que a guarda dos dois meninos era compartilhada informalmente.
Em dezembro de 2004, no entanto, o acordo desmoronou. Tommy avisou que passaria um fim de semana em Búzios com os meninos e acabou indo para a Noruega. Segundo Júlia, ele fugiu ilegalmente: "Eu fiquei sem ar quando soube. No dia em que eles viajaram, liguei diversas vezes, mas o telefone estava desligado. No dia seguinte, ele me retornou para dizer que estava na Noruega", disse ela.
Inconformada, Júlia viajou até a Noruega na tentativa de encontrar os meninos e trazê-los de volta ao Brasil. Ela conseguiu embarcar sem autorização do ex-marido, que a acusa de sequestro, mesmo crime que ela alega que o ex-marido cometeu.
"Quando eu cheguei lá, ele não me deixou ver os meninos direito, ficou me evitando", conta a brasileira.
O ex-casal passou a disputar na Justiça a guarda dos filhos. Júlia está inconformada com a decisão do STJ, que ordenou a volta dos meninos com base na Convenção de Haia, que entre seus principais tópicos trata dos aspectos civis do sequestro internacional de crianças.
"A ação já foi decidida em primeira, segunda e terceira instâncias. As crianças foram retiradas ilicitamente da Noruega e para lá devem regressar para terminar o processo. As autoridades norueguesas, inclusive, já prestaram toda a ajuda para que o caso seja concluído lá", afirmou o advogado de Tommy, Lucas Leite Marques.
Frustrada, Júlia afirma que os filhos querem permanecer no Brasil:
"Eu esperei muito o momento em que o meu filho completou 12 anos e pôde depor. Mesmo ele dizendo que não queria ir embora, isso não foi levado em consideração", disse ela.
Após a última derrota, o advogado de Júlia, Mateus Peixoto Terra, entrou com um recurso de embargo de divergência no próprio STJ e aguarda o fim do recesso, em fevereiro, para tentar reverter a situação e garantir a permanência das crianças no Brasil.
O caso lembra o do menino Sean Goldman, também alvo de uma disputa na Justiça entre a família de sua mãe, Bruna Bianchi, que morreu em 2008, e o pai, o americano David Goldman. Sean vive atualmente com David nos Estados Unidos, e os parentes brasileiros lutam pelo direito de visitá-lo.



