Ponta Grossa A Justiça de Piraí do Sul interditou ontem o Lar das Meninas Oricena Vargas que é alvo de investigação devido a irregularidades encontradas pela Vigilância Sanitária. A prefeitura da cidade tem até as 10 horas de hoje para colocar em funcionamento a Casa Lar do município, para que as dez crianças que ainda permanecem no Oricena Vargas sejam transferidas. Caso o abrigo municipal não possa ser usado, a Justiça determinou que as meninas sejam encaminhadas, em duplas, para as casas de cinco membros da prefeitura, incluindo o prefeito. De acordo com a promotora que conduz o caso, Maria Luiza Correia de Mello, o abrigo está pronto, e só falta a definição de uma mãe social.
A vistoria da Vigilância Sanitária no Oricena Vargas foi realizada no mês passado, a pedido do Ministério Público de Piraí do Sul. Os técnicos constataram que a instituição não possuía licença sanitária e nem a autorização do Corpo de Bombeiros para funcionar, tendo apenas o alvará expedido pela prefeitura. No consultório odontológico, mantido dentro da instituição, foram encontrados remédios vencidos desde 1996. Alguns instrumentos estavam enferrujados. De acordo com a Vigilância, os equipamentos eram limpos na pia do banheiro anexo ao consultório e não foi encontrada nenhuma solução esterilizante.
No laudo da Vigilância consta ainda o armazenamento inadequado de mantimentos, ausência de material de limpeza e na área destinada à lavanderia foram encontradas escovas de dente infantis sem identificação sobre o tanque de lavar roupas. O órgão concluiu que todas as irregularidades encontradas colocam em risco a saúde das crianças, podendo aumentar os riscos de transmissão de doenças infecto-contagiosas.
O laudo reacende a polêmica sobre o Oricena Vargas, fundado há 47 anos na cidade. Alegria Ortega, que presidiu a instituição por mais de 30 anos, é uma pessoa respeitada na cidade. O seu afastamento e a investigação por maus-tratos, desvio de verbas e irregularidades causa espanto entre a elite da cidade, mas deixa o resto da população dividida.
Os moradores evitam falar sobre o assunto. Das dez pessoas procuradas pela reportagem, somente três deram suas opiniões, e ainda assim com o pedido de omitir seus nomes. "Tem de provar tudo. Há muito falatório por aí, mas ela (Alegria Ortega) fez coisas boas para a cidade", diz uma técnica administrativa. Já o comerciante A.D.S. diz acreditar nas denúncias contra a instituição e afirma que mais coisas aparecerão. "Há muito tempo comenta-se na cidade sobre a venda de crianças", afirma.
Ontem, a promotora Maria Luíza Correia de Mello pediu novamente a prisão preventiva de Alegria Ortega, Aurora Cortês e Valeri Maria Lima Ribeiro todas ligadas ao abrigo. Elas deveriam estar ontem em Piraí do Sul, conforme oficiou seu advogado, Rivadávia Varas Neto, para receberem a intimação para depor no processo, mas não foram encontradas. O depoimento das três mulheres está marcado para hoje. Alegria e Aurora foram presas há cerca de 15 dias e liberadas na semana passada.



