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Testemunhas de defesa de Virgínia começam a depor hoje | Antônio More/Gazeta do Povo
Testemunhas de defesa de Virgínia começam a depor hoje| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Auditor reforça suspeitas sobre mortes antecipadas

O médico responsável pela auditoria do Ministério da Saúde na UTI adulto do Hospital Evangélico de Curitiba revelou, em depoimento à Justiça, que a equipe chefiada pela médica Virgínia Soares de Souza prescrevia remédios sem levar em conta características individuais dos pacientes, como peso ou pressão arterial, e não justificava nos prontuários procedimentos adotados durante o tratamento. As informações constam no depoimento do médico auditor Mário Lobato, obtido com exclusividade pela Gazeta do Povo.

Oito testemunhas de defesa da médica Virgínia Helena Soares de Souza, acusada de antecipar mortes na UTI do Hospital Evangélico, foram ouvidas na tarde desta terça-feira (3) no Tribunal do Júri, em Curitiba. A audiência de instrução começou por volta das 13h30 e terminou às 18h20. Foi a décima audiência do caso até agora. A médica chegou a falar com a imprensa e demonstrou confiança em sua defesa.

"Eu acredito que as coisas estão sendo esclarecidas. É uma questão de tempo. Vamos aguardar. Acho que tudo foi muito bem (hoje), muito positivo", afirmou ela, durante a saída da audiência.

De acordo com ela, tudo aquilo que foi colocado durante a denúncia e a investigação deverá ser esclarecido agora. "Eu estou completamente firme no exercício médico que fiz durante 31 anos", disse. Ao todo, seriam 13 testemunhas a depor nesta terça-feira, porém o advogado de defesa da médica, Elias Mattar Assad, dispensou cinco depoimentos. Foram ouvidos seis pessoas ligadas ao Hospital Evangélico (dois diretores do hospital, o atual chefe da UTI, que substituiu Virgínia, o engenheiro do setor de equipamentos, o gerente de faturamento e um paciente, que também está trabalhando no local). Além deles, um cirurgião e um oncologista também foram ouvidos.

A próxima audiência do caso que investiga as mortes ocorridas na Unidade de Terapia Intensiva do hospital deve ocorrer no dia 11 de dezembro, quando devem depor as testemunhas de defesa do enfermeiro Claudinei Machado Nunes, um dos oito denunciados à Justiça pelo Ministério Público do Paraná. Ele é acusado apenas de formação de quadrilha.

Nesta quinta-feira, será ouvida uma pessoa em São Paulo. Ela, segundo a defesa, seria a responsável pela primeira denúncia, que originou a investigação. O depoimento ocorrerá no Fórum da Barra Funda, na capital paulista.

Defesa

O advogado Elias Mattar Assad afirmou que os depoimentos mostraram que o que se fez na UTI do Hospital Evangélico foi "apenas a prática da medicina intensiva e anestesiologia". Sobre a divulgação do depoimento do médico auditor do Ministério da Saúde, Mário Lobato, Assad declarou que as informações dele foram superadas por outros depoimentos.

"Ficou evidenciado que, por ato médico, era necessário a diminuição dos parâmetros (de respiração do ventilação mecânica)", afirmou. Lobato disse, em depoimento, que havia um padrão no atendimento em vários casos com uso de medicamentos bloqueadores neuromuscular, mais a redução da ventilação mecânica para 21% por fração inspirada de oxigênio.

Relembre o caso

Em fevereiro deste ano, a médica Virgínia Soares de Souza foi presa durante uma operação realizada pelo Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Nucrisa) para apurar mortes suspeitas de pacientes que passaram pela Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Evangélico de Curitiba. Na época, a médica chefiava a unidade.

A investigação feita pelo núcleo levou em conta as circunstâncias de sete óbitos registrados no local. Um policial infiltrado como enfermeiro na UTI geral do estabelecimento ajudou a colher provas para a concretização do inquérito, que foi encaminhado ao Ministério Público do Paraná no início de março.

Após análise do inquérito, o MP-PR denunciou criminalmente à Justiça oito pessoas envolvidas no caso. Seis deles, funcionários do Hospital Evangélico, foram denunciados por homicídio duplamente qualificado (por motivo torpe e sem chances de defesa às vítimas) e formação de quadrilha. Segundo o órgão, os acusados abreviaram a vida dos pacientes com o objetivo de abrir novas vagas no centro médico. Os outros dois apenas pelo crime de formação de quadrilha.

Primeira a ser presa nas investigações, a médica intensivista Virgínia Helena Soares de Souza é acusada de coautoria em todas as sete mortes. Os outros médicos denunciados são Maria Israela Cortez Boccato, Edison Anselmo da Silva Júnior e Anderson de Freitas. Também são acusadas as enfermeiras Patrícia Cristina de Goveia Ribeiro e Lais da Rosa Groff. De acordo com o MP-PR, cada um deles participou de pelo menos uma das mortes ocorridas na UTI do Evangélico.

Outras duas pessoas, que também trabalhavam na instituição de saúde, foram denunciadas apenas pelo crime de quadrilha: a fisioterapeuta Carmencita Emília Minozzo e o enfermeiro Claudinei Machado Nunes. O processo será distribuído a uma das varas do Tribunal do Júri que avalia se aceita ou não a denúncia criminal.

O MP-PR atribui ao grupo sete mortes, ocorridas entre 2006 e janeiro deste ano. Segundo o órgão acusador, os profissionais da saúde acusados agiam como se tivessem o poder de decretar a morte das vítimas, além de escolherem quais pacientes teriam o direito a permanecer vivos no centro médico.A denúncia foi aceita pela Justiça paranaense na mesma semana em que foi oferecida pelo MP-PR.

Prisão

A intensivista foi detida temporariamente no início das investigações. Uma semana depois, a Justiça converteu a prisão em preventiva. Porém, um pedido de liberdade feito pelo advogado dela foi acatado pelo TJ-PR, que a libertou depois de ela estar pouco mais de um mês na prisão.

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