
Antes de Curitiba se tornar referência nacional em opções de parques o mais famoso, o Barigüi, é de 1972 , uma área de 12 hectares na zona sul era a principal opção de lazer ao ar livre na cidade. Até o fim dos anos 90, o Lago Azul, como é conhecida a propriedade da família Segala no bairro Umbará, atraía gente de todos os cantos e classes sociais incluindo figuras importantes da sociedade. Nos anos 60 e 70, quando o acesso ao litoral não era tão fácil, a área era a praia curitibana. Era na propriedade próxima à igreja do Umbará que boa parte dos curitibanos se encontrava para andar de canoa, pescar, fazer churrasco ou jogar futebol.
Mesmo atendendo a tantas pessoas, a área jamais foi transformada em parque pela prefeitura oficialmente, na gestão do prefeitos Rafael Greca (1992-95) e Cassio Taniguchi (1996-2003) chegou-se a cogitar tal empreitada. Pelo contrário. Na última década, o Lago Azul entrou em decadência por conta da poluição do Rio Ponta Grossa, que alimenta o espelho dágua. Quando chove, a espuma, que chega a atingir 5 metros de altura, se forma no lago, reflexo do despejo de esgoto sem tratamento no rio. "Antes desse esgoto, tinha dias em que não dava para andar aqui de tanta gente que vinha. Tinha gente que até tomava dessa água", lembra Angelina Segala Zonta, a dona Nena, 69 anos, proprietária da área.
Foi o pai de dona Nena, Ângelo Segala, falecido há cinco anos, quem construiu o lago, ainda no início da década de 40. A idéia era desviar o curso de um riacho e represar água para movimentar o moinho, hoje parado. O filho mais velho de dona Nena, Ademir Zonta, 48 anos, lembra ainda que o avô era um visionário. Aproveitando a mesma água que movimentava a pedra do moinho, ele criou uma mini-hidrelétrica que permitia a casa ter luz elétrica em uma época em que isso era muito mais do que um luxo ainda mais em áreas rurais. "O único gasto que ele tinha com luz naquela época era com a lâmpada", recorda. O sistema também servia para carregar baterias. "Uma parente minha andava três quilômetros com aquelas baterias pesadas no colo para carregar e poder ouvir rádio em casa", lembra dona Nena.
Graças ao moinho, seu Segala conseguiu sustentar a família como pagamento, os agricultores deixavam parte da produção para ele. "O pessoal trazia milho do Caximba, Tatuquara, Pinheirinho. Era milho bom, que eles traziam de carroça", lembra dona Nena, que não se recorda de ter deixado de comer polenta um único dia de sua vida.
Diversão
Até o fim dos anos 60 foi assim que seu Segala sustentou a família. Entretanto, quando o fubá passou a ser vendido empacotado no supermercado, o moinho começou a cair em desuso. Já nessa época o Lago Azul era freqüentado por pessoas que procuravam diversão mesmo sendo uma área particular, seu Segala nunca impediu o acesso de quem procurava lazer. Foi quando surgiu um homem se dizendo empresário querendo transformar a área em um tipo de pesque-pague, dando parte do lucro para a família. "Ele anunciou na rádio e aí não parava mais de vir gente", diz dona Nena.
A sociedade não deu certo. De herança, ficaram o calote e o nome pelo qual a propriedade passou a ser chamada. "Era com o nome de Lago Azul que ele anunciava no rádio", explica dona Nena. Mas seu Segala decidiu seguir nesse caminho. Montou um bar e passou a ganhar dinheiro com a venda de bebidas. "Em um domingo bom a gente vendia um caminhão inteiro de Crush", lembra. Dali por diante, além do pessoal que procurava diversão, outras tribos passaram a freqüentar o local de grupos de protestantes que faziam batizados coletivos no lago a soldados do Exército que treinavam no local.
De tristeza, além da espuma, dona Nena recorda das 59 mortes por afogamento no local. "A cada pessoa que morria, todo mundo aqui em casa ficava sentido." E só não morreram mais pessoas porque um dos filhos que mora na propriedade até hoje, Aldozir Zonta, o Zico, 47 anos, era rápido e bom de nado. "O que ele tirou de gente se afogando nesse lago...", diz.
Se tudo correr conforme o previsto, a propriedade deve finalmente virar parque municipal no ano que vem (ler texto ao lado). Dona Nena aceita negociar a área, mas com uma condição: que um busto do pai seja erguido na entrada do novo parque. Nada mais justo.



