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Genici Martorelli ficou sob os escombros da própria casa. Ela levou 14 pontos na cabeça e ainda tem a pagar duas prestações de R$ 380 da máquina de costura perdida | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Genici Martorelli ficou sob os escombros da própria casa. Ela levou 14 pontos na cabeça e ainda tem a pagar duas prestações de R$ 380 da máquina de costura perdida| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Jovem de 19 anos é único sobrevivente da família

O domingo foi de festa para as famílias Franzner e Lescowicz, em Jaraguá do Sul (SC). Durante todo o dia, parentes participaram de uma confraternização com direito a almoço e café da tarde, em um clube da cidade. Muitos deles sequer se conheciam e tiveram a oportunidade de se encontrar pela primeira vez.

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Números da tragédia

97 mortos

19 desaparecidos

78.656 desabrigados (27.404) e desalojados (51.252)

1,5 milhão de afetados

7 municípios isolados – São Bonifácio, São João Batista, Rio dos Cedros, Garuva, Itapoá, Luiz Alves e Benedito Novo – sendo 63.965 pessoas.

Gaspar (SC) - Parte dos 3 mil desalojados da cidade de Gaspar, a 20 quilômetros de Blumenau, onde 13 pessoas morreram e duas seguem desaparecidas por conta das fortes chuvas em Santa Catarina, começaram ontem a voltar para casa. Mas o cenário ainda é desolador. Os moradores ainda encontram muita lama, áreas que podem desabar a qualquer momento – incluindo um morro que já está parcialmente caído no centro, o que ocasionará o fechamento de uma das principais avenidas da cidade hoje – e alagamento nos bairros.

Mais do que a lama do desabamento de um morro vizinho e que ainda está na altura do joelho, o que o estampador de malharia André de Oliveira, 29 anos, encontrou ao voltar para casa ontem, no bairro Sertão Verde, foi tristeza. Os corpos da esposa (26 anos e grávida de dois meses), dos dois filhos (um menino de 9 anos e uma menina de 3 anos), da sogra (49 anos), da prima (14 anos) e do namorado da cunhada (18 anos), soterrados pela enxurrada, foram encontrados terça-feira. O da cunhada (17 anos) foi encontrado ontem de manhã.

Com a casa alagada, Oliveira decidiu levar a esposa e os filhos à casa da tia, numa área mais alta do bairro, a 100 metros de onde mora. Quando saiu da residência da tia para ajudar o sogro a erguer os móveis, ouviu o barulho do deslizamento. Ainda na rua, chegou a olhar para trás e a escutar o grito da filha. Já era tarde. "Tentei voltar para ajudar, mas a água da enxurrada me empurrou uns 20 metros e quase morri afogado", recorda.

De última recordação, Oliveira guarda a alegria do dia anterior, quando toda a família, fiéis da Igreja Assembléia de Deus, reuniu-se para cantar hinos religiosos. "Foi um dia muito especial. Eu estava tocando violão, meus filhos, minha mulher, meus sogros, meus irmãos, todos estávamos alegres, cantando", recorda o estampador, que ontem retirava o pouco que sobrou da enxurrada e levava para a casa do parente onde tem passado os últimos dias.

Por conta do estado dos corpos, Oliveira mal conseguiu se despedir dos parentes. Os corpos foram enterrados imediatamente, sem nem ao menos serem lavados. "Meus filhos foram encontrados agarrados na mãe. Meu filho na perna dela e a menina nos braços", comenta Oliveira. Já em relação à criança que esperava, o estampador afirma que ele e a esposa haviam acertado que se fosse menina se chamaria Elizama. Se fosse menino, Eliab. "São nomes bíblicos. Queria que meus filhos seguissem a Bíblia", resigna-se.

No total, 15 casas foram completamente destruídas em Sertão Verde. Uma delas a da costureira Genici Martorello, 39 anos. Ela e mais nove pessoas, entre familiares e vizinhos, estavam no local na hora da enxurrada. "Ficamos embaixo dos escombros. Mas só eu e meu marido nos ferimos", afirma a costureira, que levou 14 pontos na cabeça e teve escoriações pelo corpo.

De prejuízo, além da casa e móveis, sete máquinas de costura (no valor total de R$ 10 mil) e uma moto zero quilômetro (R$ 2,5 mil). "De uma das máquinas ainda tenho duas prestações de R$ 380 para pagar. E a moto, que minha filha comprou há duas semanas, nem chegou a ser usada porque estava sem documentação", informa Genici.

Água

No bairro Coloninha, mais próximo ao centro de Gaspar, o pintor Alvacir Ávila Soares, 52 anos, nem conseguiu entrar em casa. A água – ontem na altura de 80 centímetros – deslocou os móveis de lugar, impedindo a abertura das portas. "Esse é o décimo alagamento que pego desde a enchente de 83, que pôs toda a região debaixo de água. Nesse período, nunca vi uma obra de infra-estrutura no bairro", reclama.

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