Em depoimento na tarde desta quarta-feira(15), o motoboy Lindemberg Alves, de 25 anos, admitiu que atirou na ex-namorada Eloá Pimentel após mantê-la durante 100 horas em cativeiro em 2008. O depoimento dele começou por volta das 14h30, no Fórum de Santo André, na Grande São Paulo.
O acusado disse que não sabia o que fazer com a chegada da polícia ao local, pois ficou com medo. "Quando a polícia chegou, fiquei apavorado. Não sabia o que fazer. Só não saímos pois tínhamos medo da reação da polícia", afirmou à juíza Milena Dias. "Puxei a arma quando ela (Eloá) começou a gritar comigo, mentindo que ela não tinha ficado com o Victor", disse. "Quando a polícia invadiu, a Eloá fez menção de levantar e eu, sem pensar, atirei. Foi tudo muito rápido". Lindemberg disse não se lembrar do disparo contra Nayara Rodrigues. "Não posso dizer se atirei ou não na Nayara. Eu não me lembro".
Lindemberg que invadiu o apartamento para conversar sozinho com Eloá. "Mandei os três (Victor Lopes, Iago Vilela de Oliveira e Nayara) saírem do apartamento, mas eles se recusaram", afirmou ele. "Fiquei surpreso com a presença (deles) e a Eloá ficou assustada ao me ver".
O acusado pediu perdão à mãe de Eloá, Ana Cristina Pimentel. "Quero pedir perdão para a mãe dela em público, pois eu entendo a sua dor. Era muito amigo da família", falou o réu. "Infelizmente foi uma vida que se foi, mas em alguns momentos levamos aquela situação como se fosse uma brincadeira", disse.
Bate-boca
A terça-feira (14), segundo dia do julgamento de Lindemberg, foi marcado por momentos de bate-boca no plenário do Fórum. Em uma discussão sobre as atas do processo, ao longo de um dos vários depoimentos de testemunhas, a advogada do réu, Ana Lúcia Assad, questionou a juíza sobre uma aplicação do princípio da "verdade real", um princípio do Direito que permite passar por cima de certas formalidades jurídicas, para a reconstrução completa dos fatos.
A magistrada afirmou que desconhecia a aplicação e a defensora rebateu dizendo "então a senhora deveria voltar a estudar." A promotora Daniela Hashimoto afirmou que a advogada poderia responder por desacato à autoridade pela declaração. Nesse momento, houve exaltação por parte dos presentes no plenário.
Testemunhas
Ainda na terça-feira, a perita Dairse Pereira Lopes, que analisou as armas usadas no crime, ratificou que os projéteis extraídos de Eloá saíram de uma arma calibre 32, a mesma usada por Lindemberg ao longo do cárcere privado.
Além de Dairse, testemunharam na terça-feira os dois irmãos de Eloá; dois jornalistas que participaram da cobertura do caso; um perito do Instituto de Criminalística; o delegado que conduziu as investigações do caso e o policial militar do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) responsável pelas negociações com Lindemberg, capitão Adriano Giovanini.
O depoimento do capitão Giovanini causou um choque de versões. Na segunda-feira (13), mais de três anos após a morte de Eloá, ele continuou a afirmar que um disparo no apartamento motivou a invasão do local pela Polícia Militar. Já a estudante Nayara, que acabou baleada, foi categórica ao dizer que ouviu três disparos só depois da explosão de uma bomba colocada na porta pela polícia.
Cobertura da imprensa
Dois jornalistas foram ouvidos no início da tarde de terça-feira como testemunhas de defesa de Lindemberg. Márcio Campos e Rodrigo Hidalgo, da TV Bandeirantes, ouviram, da advogada do réu, Ana Lúcia Assad, perguntas que tentavam relacionar o fim trágico do cárcere de Eloá à cobertura da mídia.
Mas questões como "você acha que a imprensa influenciou o caso" foram indeferidas pela juíza Milena Dias, que as considerou "achismo".
Em seu depoimento, Campos afirmou que Lindemberg parecia calmo durante o tempo que manteve a ex-namorada como refém - a única pessoa que aparentava nervosismo, disse o jornalista, era Eloá.
Na segunda, questionada se a cobertura teve impacto no desfecho do caso, a advogada Ana Lúcia Assad afirmou que "todos têm corresponsabilidade, inclusive a sociedade".
Mãe não foi ouvida
Após algumas idas e vindas, a defesa e a acusação do julgamento de Lindemberg entraram em um acordo: apenas o irmão da jovem, Douglas, prestaria depoimento na terça-feira. A mãe de Eloá, Ana Cristina Pimentel, não seria ouvida como testemunha.
Ana Cristina, no entanto, desejava falar. Em uma entrevista coletiva, a mãe de Eloá disse que gostaria de dizer que Lindemberg é um "assassino" e que "quem ama não mata".
Ela relembrou o momento em que, no plenário, ficou cara a cara com o acusado e eles se encararam. Disse não ter visto arrependimento nos olhos do réu. Segundo ela, Lindemberg fez um gesto com as mãos, interpretado por ela como um pedido para que ela "limpasse a barra" dele.
Douglas, irmão da menina morta, assim como seu irmão mais velho, caracterizou Lindemberg como "monstro". A mãe de Eloá ouviu o depoimento do garoto, menor de idade, do plenário - ele tem 17 anos hoje e disse que vai acompanhar o resto do julgamento da plateia.
Ao sair para almoçar na terça-feira, a advogada de defesa de Lindemberg foi hostilizada e pediu escolta.
Intenção de matar
Na segunda-feira, primeiro dia do julgamento, os estudantes Nayara Rodrigues, Vitor Lopes de Campos e Iago Vilera de Oliveira, amigos de Eloá que também foram mantidos reféns, disseram que o réu falava em matar a ex-namorada desde que entrou no apartamento da vítima.
"Ele (Lindemberg) batia nela (Eloá) e disse que iria matar a todos e se matar. Ou matar Eloá e depois se matar", disse Vitor. Iago também disse que Lindemberg atirou contra o o policial militar Atos Valeriano no banheiro e teria voltado ao quarto se gabando do feito.
"Ele (Lindemberg) disse que não acertou a cabeça do policial por pouca coisa. Ele veio falando que aquele tiro era para os 'homens' (PMs) verem que ele não estava para brincadeira", afirmou Vitor.
Perseguição
Também na segunda-feira, Nayara Rodrigues - que foi baleada no fim do sequestro - foi a primeira testemunha de acusação a ser ouvida. Sem a presença de Lindemberg no júri, a pedido da própria Nayara, a jovem disse que o réu começou a perseguir a vítima após os dois terminarem o namoro e que a amiga foi agredida por várias vezes ao longo do sequestro. Nayara acrescentou, ainda, que Lindemberg mostrava desde o início a intenção de matar Eloá.
"Ele (Lindemberg) tinha altos e baixos. Às vezes, se acalmava e conversava normalmente. Mas daí, do nada, ficava nervoso, agredia a Eloá e dizia que eu tinha feito a cabeça dela (para ela terminar o namoro)", disse Nayara, que acrescentou que o motoboy chegou a mandar as jovens vestirem a blusa para liberá-las, mas voltou atrás.
Nayara, a primeira testemunha de acusação a ser ouvida, ainda ressaltou que, no momento da invasão do apartamento por parte do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Militar, primeiro escutou a bomba na porta antes de ouvir os tiros. A promotora Daniela Hashimoto também sustenta que Lindemberg tinha a intenção de matar Eloá desde o início.



