
A possibilidade de tornar Londrina uma cidade mais flexível a atividades comerciais acendeu uma discussão no município. Prestes a ser encaminhada aos vereadores, proposta do Executivo altera a lei de zoneamento urbano local, prevendo um abrandamento nas atuais restrições à ocupação de áreas exclusivamente residenciais. Além de modificar o perfil da maioria dos bairros, o novo plano diretor poderá liberar ainda a criação de três zonas, abertas desde o início a negócios imobiliários, shoppings, bares, casas noturnas e à verticalização.
No anteprojeto de Londrina, as zonas residenciais que permitem hoje apenas casas, postos de saúde e equipamento público, conhecidas como ZR-1 e ZR-2, encolheriam. A maior parte destas áreas passaria a receber armazéns, açougue, conveniência, profissionais liberais, academias, lanchonetes, entre outros estabelecimentos. Ao contrário do que é preciso atualmente, não seria mais necessária anuência da vizinhança para instalar comércio nas imediações. No restante da cidade, a lei permitiria ainda que as demais zonas residenciais acolham bares, casas noturnas, clubes, igrejas, quadras de esportes privativas, pequenas fábricas, hotéis, casas de banho, lavanderias e comércios de pequeno impacto, como serralherias e funilaria de automóveis. Apenas uma das áreas residenciais, a ZR-6, estaria restrita a lazer.
A diretora do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina (Ippul), Inês Dequech, argumenta que a proposta só tornará mais liberal o comércio nas regiões onde a atividade, na prática, já está consolidada. Segundo ela, a construção de mais prédios só será liberada onde o sistema viário permitir, tanto que o sistema viário local também vem sendo objeto de audiências públicas. "Em alguns casos, haverá liberação [da construção] e em outros, isso será coibido. Assim, vamos diminuir o coeficiente urbano onde o sistema viário não comporta mais mudanças", observa.
Estudos
Em Maringá, a prefeitura também estuda uma ampla revisão do plano diretor, prevendo, inclusive, a possibilidade de dar novos contornos à atividade comercial nos bairros.
Vereadores aprovaram no início do ano a criação de zonas especiais e industrial, mas uma proposta para mudanças mais amplas deve ser apresentada em setembro. "Estamos fazendo uma revisão. Temos uma série de situações que precisam ser revistas para melhorar a condição da cidade", antecipa o secretário de Planejamento de Maringá, Laércio Barbão.
Associações de bairro discordam de flexibilização do zoneamento
A proposta de alteração no plano diretor de Londrina vem encontrando resistência na comunidade.
Contrário à instalação de mais estabelecimentos comerciais no Jardim Canadá, o presidente da associação do bairro, Paulo Lauro de Oliveira, argumenta que a área não precisa de medidas para ter o desenvolvimento potencializado.
"Estou há 33 anos morando no mesmo endereço e tudo o que precisamos está num raio de 100 metros da nossa casa. O bairro já se desenvolveu", atesta.
No Jardim Shangri-lá, a representante da associação do bairro, Gabriela Fontoura, salienta que no mínimo 50 construções da área pertencem ao período pré-modernista e que, por isso, o bairro deve ser preservado.
"Não queremos estagnar o desenvolvimento, mas isso deve ocorrer de forma controlada, para que haja sustentabilidade e não apenas circulação imobiliária", diz Gabriela.
Alternativa
Como reação à possibilidade de receber mais prédios e ter o comércio ampliado, moradores do Shangri-lá já produziram uma proposta para que a prefeitura deixe o bairro, hoje em parte ZR-1, como zona histórica de ocupação controlada. Isso já ocorre em outras áreas de Londrina, como a Vila Casoni.
A associação diz que as ruas do Shangri-lá para escoamento do sistema viário são estreitas, o que afetaria a mobilidade caso a densidade na região aumente.



